“O doente é acompanhado em serviço de saúde mas é à família que fica o cargo de cuidar, independentemente da idade, das condições, de trabalhar ou não. E isso exige um tempo inteiro.
Vemos que existe o estatuto do cuidador informal, que é um apoio concedido mas que está dependente das condições socio-económicas do agregado familiar (apoio ronda os 400 euros). O que quer dizer que aqueles agregados familiares que estejam inseridos no mercado de trabalho e que tenham de deixar de trabalhar para ser cuidador, dificilmente se governa com o apoio que é prestado ao cuidador informal. É necessário outro tipo de apoios complementares que permitam à pessoa cuidar mas garantir o básico das condições de vida”, explicou Ivone Florêncio, a responsável pela delegação de Bragança.
A mesma responsável fez, por isso, um balanço positivo.
“O balanço é positivo porque permitiu trazer às instituições presentes, quer do setor público da área da saúde quer da área social, a voz das pessoas que vivenciam diretamente o problema da saúde mental, do ponto de vista dos cuidadores e dos próprios doentes, para perceberem claramente quais são as suas dificuldades, as suas necessidades na tarefa do cuidar do familiar com uma patologia grave ou severa. E, também, refletir em conjunto em possíveis respostas que possam vir a ser criadas para intervir nestes problemas identificados e sugestões apresentadas.
Foram sugeridas respostas e serviços que eles precisavam que existissem para terem uma melhor qualidade de vida”, sublinhou.
A discussão criada deixou as bases para alterações no futuro.
“Esperemos que isso tenha servido para inspirar à criação de respostas, de serviços por parte das instituições e para um melhor funcionamento das já existentes e de uma maior articulação entre os serviços de saúde e das entidades sociais. Ficou aqui bem patente a necessidade de um trabalho articulado, chamando à responsabilidade de todos, para que se consiga proporcionar a estas pessoas, que são expostas por motivo de doença a uma situação de exclusão e, muitas delas, de pobreza, por via da responsabilidade, do trabalho em rede, da cooperação e, fundamentalmente da criação de serviços”, disse ainda Ivone Florêncio.
Esta tertúlia teve como objetivo “repensar a saúde mental do ponto de vista psicossocial”.
“Esteve subjacente um grupo de trabalho criado pelo núcleo de Bragança da EAPN. O objetivo era repensar a saúde mental, não só do ponto de vista da saúde, do tratamento farmacológico, mas da intervenção social e de todo o conjunto de respostas necessárias e que era necessário existirem para se conseguir intervir eficazmente na saúde mental. É um problema de saúde mas também social”, especificou Ivone Florêncio.
Falta mão de obra para as instituições Particulares de Solidariedade Social do meio rural
As Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) do distrito de Bragança, sobretudo no meio rural, estão a deparar-se com problemas de escassez de mão de obra.
Este foi um dos problemas apontados durante a tertúlia, que decorreu na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança.
“Pelo que tem sido referido pelas instituições do terceiro setor, a nível dos auxiliares de ação direta, que estão diretamente no cuidar, está a ser um problema para grande parte das instituições. Sobretudo no meio rural.
Devido à conjuntura, ao despovoamento, a residirem no meio rural predominantemente idosos e não haver mão de obra em fase ativa para trabalhar. E, também, a falta de reconhecimento que existe para com esses profissionais, até em termos de remuneração, e o cansaço que implica.
São profissões desgastantes, trabalhar por turnos, ao fim de semana, com pesos. É uma profissão desgastante e mal remunerada. Por isso não é aliciante”, explicou.
“Entre exercer essa atividade ou outra, que não exija estes constrangimentos, preferem outro tipo de trabalhos”, concluiu Ivone Florêncio.
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