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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Infantaria 10 de Bragança em La Lys – Um Dia de Inferno!

 Apresentando-se como aliada da Inglaterra, Portugal foi beligerante na Grande Guerra 1914-1918 para preservar as possessões africanas face à pressão militar da Alemanha no Sul de Angola e no Norte de Moçambique. Em causa estava a defesa de soberania, aceite pela sociedade. Já a intervenção militar no teatro europeu da Flandres, ao lado dos Aliados, foi opção do Partido Democrático Republicano de Afonso Costa, no poder, ao arrepio de convergências político-partidárias, contra a vontade da Nação e sem a compreensão do corpo de oficiais do Exército. Porém, proclamava-se ufanamente em Diário do Governo «pela primeira vez, de há cem anos a esta parte, a bandeira de Portugal flutuará, de novo, nos campos de batalha de Europa». 
Assim, em 1916, Portugal aprontou um corpo expedicionário (CEP) em Tancos, com mais de 55.000 homens, que projetou para a Flandres e combateu ao lado do Exército britânico. No entanto, lá os problemas avultaram. 
Com um treino efetuado à portuguesa, desfasado da realidade da guerra de trincheiras, guerra à inglesa, ao nível técnico-tático, em território francês, sobre a inclemência de um clima belga e contra um inimigo alemão, existiam os «ingredientes» para correr mal. E correu, associando-se-lhe as dificuldades de mobilização, devido a crónicos problemas de disciplina, e a ausência de rendição das forças, por inexistência de meios marítimos próprios. O desastre confluiu a 9 de abril de 1918, em La Lys, um dia de inferno para a 2.ª Divisão portuguesa, comandada pelo General Gomes da Costa. Em fase de rendição e retirada de setor, com 12 km de extensão, sofreu o esforço da ofensiva do Exército alemão, destinada a romper a frente dos aliados: a Norte (subsetor Fauquissart), estavam dois batalhões de Braga, de Guimarães e Viana; ao Centro (subsetor Neuve Chapelle), três batalhões de Lisboa e de Évora; a Sul (subsetor de Ferme du Bois) os batalhões de Bragança, Beja, Faro e Vila Real. Quase pulverizados, o resultado foi o fim do CEP, com quase 2.000 mortos, mais de 5.000 feridos e cerca de 7.000 prisioneiros e desaparecidos num só dia.
Relativamente ao Batalhão de Infantaria 10 de Bragança, com 4 companhias e um deficitário contingente de 25 oficiais e 577 sargentos e praças, estava nas linhas avançadas e com o inimigo à sua frente. A 8 de Abril, recebe, como as demais unidades, a informação que vai retirar para a retaguarda, a partir do dia seguinte. É neste contexto, «com as malas preparadas para se sair do sector», que 20.000 alemães atacam o setor português. A noite cerrada, o nevoeiro denso e a destruição originada quebraram o contacto entre o BI 10 e o comando da 5.ª Brigada. Disso dá conta o major Correia de Araújo: «estou isolado delas [das companhias] e da artilharia, tendo empregado todos os meios para pedir S.O.S., incluindo os pombos-correio. As ordenanças que vão às linhas não têm voltado». Realmente, pelas 8 horas as tropas da primeira linha de trincheiras (3.ª e 1.ª companhias) são surpreendidas e obrigadas a um combate de corpo-a-corpo, à base de baioneta. O mesmo sucede com os ingleses, à direita, e os efetivos de Beja à esquerda. 
Qual rolo compressor, a infantaria alemã avança, martirizando os que se lhes opõem. A 3.ª Companhia perde dois terços dos homens e os restantes ficam cativos. Da 1.ª Companhia tombam um sargento e 23 praças e os restantes também são aprisionados, incluindo o comandante de companhia, dois alferes e quatro sargentos. A 4.ª Companhia, em apoio, procura reiterar esforços e entra em combate, enquanto o comando de batalhão e o grosso da 2.ª Companhia (a reserva) retiram, havendo feridos e prisioneiros a registar. O mesmo é obrigado a fazer, cerca das 11 horas, o comandante da 4.ª Companhia que, de abrigo em abrigo, chega a Touret, contabilizando 15 mortos! Nessa altura, já os alemães progrediam na Linha das Aldeias, no interior do dispositivo. Seriam barrados pelos ingleses no final do mês!
Era o fim! Depois de intensos combates, entre mortos, feridos, prisioneiros e desaparecidos, o BI 10 a dispunha somente de 23 oficiais e 292 sargentos e praças. 
O desempenho do BI 10 foi reconhecido, particularmente a 3.ª Companhia, a quem foi concedida a Cruz de Guerra de 1.ª Classe. Porque se, em La Lys, todos deram muito, os de Bragança deram quase tudo.

Abílio Lousada

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