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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 18 de julho de 2023

SEMINÁRIO DE S. JOSÉ

 
A base dos modernos seminários está contida no Concílio de 
Trento (627), quando manda «que todas as egrejas cathedraes, segundo as suas rendas e extensão do territorio, são obrigadas a sustentar e educar virtuosamente, e instruir na disciplina ecclesiastica a certo numero de jovens da mesma diocese, ou d’aquella provincia se o bispado os não tiver; em um collegio contiguo ás mesmas egrejas». O modo como anteriormente era ministrada a educação eclesiástica pode ver-se em Fleury(628).
Uma das fontes de receita para sustento destes estabelecimentos imposta pelo Concílio eram certas taxas lançadas aos benefícios eclesiásticos.
Tendo sido em 1545 criado o bispado de Miranda, foi ali estabelecido o Seminário pelo bispo D. Diogo de Sousa em 1600, ao qual deu estatutos em 1611 seu sucessor, o bispo D. José de Melo (629). Mais tarde, o bispo de Miranda D. Frei José de Lencastre, que morreu sendo já bispo de Leiria a 13 de Setembro de 1705, instituiu em Miranda um colégio do título de S. José com renda para sustentar doze colegiais, reitor, vice-reitor e mestre de latim (630).
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(627) Sessão 23.ª, cap. XVIII. CARNEIRO, Bernardino – Elementos de Direito Eclesiástico Português, § 309.º
(628) FLEURY – Discursos sobre a História Eclesiástica. CARNEIRO, Bernardino – Elementos de Direito…, §§ 307.º e 308.º.
(629) RIBEIRO, José Silvestre – História dos Estabelecimentos Científicos, Literários e Artísticos de Portugal, vol. IV, p. 63.
(630) Ano Histórico, vol. III, p. 5. CONCEIÇÃO, Cláudio da, Frei – Gabinete Histórico, tomo VII, p. 248. LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Miranda do Douro».
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Ignoramos se os dois estabelecimentos funcionavam simultaneamente ou se vieram a fundir se num só. É certo, porém, que o Seminário era chamado «Seminário de S. José de Miranda».
Em Bragança havia também um estabelecimento de educação eclesiástica, chamado «Seminário de S. Pedro», dirigido pelos Jesuítas, no actual Seminário, e foi unido ao de S. José de Miranda pelo bispo D. Diogo de Sousa(631). Ver o capítulo sobre a igreja de Nossa Senhora do Loreto.
O Colégio de S. Pedro, em Bragança, foi fundado pelo bispo D. Julião de Alva para que os aspirantes ao sacerdócio fossem estudar Teologia no Colégio dos Jesuítas. Para a sua sustentação destinou-lhe as terças de Rebordaínhos, Failde e Carocedo.
Em 1600, o bispo D. Diogo de Sousa, ao fundar o Seminário de Miranda, uniu-lhe este colégio de Bragança incorporando outra vez na mitra as terças acima e dando por elas ao Seminário a quantia anual de 100$000 réis, que seus sucessores foram sempre pagando.
Bragança não levou a bem tal supressão e interpôs recurso para o metropolita, onde obteve provimento, sendo novamente aberto o colégio e o prelado obrigado a repor as rendas que recebera; mas, pouco antes de 1640, voltou a mitra a ocupá-las extinguindo o colégio que não mais voltou a funcionar, porque a longa luta que se seguiu não deixou tempo à cidade para pensar no caso (632).
«Estava este collegio fundado na rua do Spirito Santo junto das cazas da Mitra, de que ainda ha vestigios, e a área em que se fundou deo o padre João Rodrigues, natural desta cidade, por escriptura de 1562, ou tres»(633). Esse local deve estar hoje incluído no Paço Episcopal.
Entre as várias cartas dos duques de Bragança que há no arquivo da câmara sobre o assunto, transcreve Borges a seguinte: «Juis, vereadores, e procurador da cidade de Bragança com esta vos invio a Sentensa porque se manda povoar o Collegio de S. Pedro dos Clerigos Collegiaes, que nelle devem de estar com as rendas, que para elle forão aplicadas: encomendo-vos, que com ella peçaes ao Bispo o mande asim ordenar, e que procureis haver da fazenda do Bispo D. Diogo de Sousa as corridas das ditas rendas que se arrecadarão para elle emquanto esse collegio esteve despovoado, e que nisto hajaes com a diligencia, e
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(631) Livro de contas do Seminario de S. José de Miranda, fl. 5, manuscrito existente na biblioteca do Seminário de Bragança.
(632) BORGES – Descrição Topográfica…, notícia 9.ª, «Collegios».
(633) Ibidem.
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cuydado, que de vós se espera. Escrita em Villa Viçoza o primeiro de junho de 1611. O duque»(634).
O Seminário continuou a funcionar em Miranda até à transferência da Sé para Bragança, sendo em 13 de Janeiro de 1766 que, pela primeira vez, se abriram as suas aulas nesta cidade com dez colegiais, segundo se vê no livro de matrícula adiante citado.

Disciplinas ensinadas no Seminário

Segundo elementos fornecidos por um livro in-fólio, com capa de pergaminho, de 242 folhas, que principiou a servir em 1759 e existe na biblioteca do seminário de Bragança, os estudos que aí se professavam eram: Gramática e Moral durante três anos, aos quais os alunos eram admitidos apenas sabiam ler e escrever menos que regularmente.
Mas essas duas disciplinas não se devem entender no sentido restrito do que elas hoje significam, pois no estudo da Gramática mais ou menos iriam compreendidos os que hoje chamamos de Preparatórios e então Humanidades, e na Moral o de toda a Teologia, pois no livro acima citado diz-se que a 11 de Novembro de 1818 foi nomeado lente de Teologia Moral, Escritura e História Eclesiástica o padre João Rodrigues Lopes, natural de S. Julião, e dois dias depois no mesmo ano foi igualmente nomeado lente de Gramática Latina, francesa, italiana e inglesa o padre Alexandre Manuel Coelho e Melo, natural de Bragança, que depois foi abade de Quirás; além disso, na matrícula referente ao ano de 1824, fala-se também num professor de Cantochão, e na do ano de 1833 num que regia as cadeiras de Moral, Retórica, Cantochão e Cerimónias, gratuitamente.
Os ordenados dos professores eram os seguintes em 1818: reitor do Seminário, 48$000 réis; mestre de Moral, 30$000; mestre de Gramática, 46$000.
O número de alunos regulava entre dez e vinte.
As lutas constitucionais e a supressão dos dízimos desorganizaram quase completamente o Seminário. Em 1830 deixou de haver alunos pensionistas e porcionistas; os estudantes eram admitidos na casa, se não preferiam estar fora, mediante a mensalidade de 800 ou 1$000 réis, em câmbio da qual, além da habitação, lhes fornecia sal, água, cozinha e hortaliça.
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(634) Ibidem.
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Uma simples hospedaria que recebia rapazes.
Por último, nem isso havia: o bispo D. José da Silva Rebelo abandona a diocese e os cónegos a catedral; a circular de 16 de Julho de 1836 do vigário capitular, governador do bispado José de Almeida Sampaio (635) determina: «que os que se pretenderem ordenar devem frequentar a aula de moral que se vai abrir n’esta cidade» (Bragança) e a de Cantochão ensinado pelo professor de Moral, mas esta aula só se abriria caso aparecesse número suficiente de alunos. De crer é que continuasse fechada porque a pastoral de 8 de Fevereiro de 1848 do vigário capitular, governador do bispado Manuel Martins Manso, diz «que ainda se não pode levar a effeito a justa lei da organização dos Seminarios».
Refere-se à carta de lei de 28 de Abril de 1845, que os reorganiza (636), mas na diocese de Bragança não produziu efeito algum; os mancebos continuaram a ordenar-se, fazendo estudos muito superficiais pelas aldeias, com alguns sacerdotes instruídos, como Manuel Bernardo de Araújo, cónego da Sé de Bragança, natural de Vale de Lamas, para onde se retirará, o Barreira de Vila Meã, o padre Miguel de Nozelos e outros.
Uma papeleta de estar o estudante suficientemente habilitado, passada por estes, era o bastante para serem admitidos a ordens.
Ainda em 1850, diz Barjona de Freitas, a instrução eclesiástica era muito apoucada. Um simples atestado de frequência, com aproveitamento dos estudos preparatórios, passado por qualquer professor (pouco importava que fosse público ou particular), era habilitação suficiente para receber ordens(637).
Eis o que a este propósito diz a carta-circular, de 25 de Setembro de 1850, dirigida a todos os prelados do reino (638).
«Constando por este Ministerio que, não obstante as providencias e recommendações contheudas nas circulares de 3 do abril de 1837, 14 de dezembro do 1842 e 30 de abril do 
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(635) Está registada nos arquivos paroquiais da diocese. Vide também SEPÚLVEDA, Francisco Xavier Gomes de – Exame crítico de um folheto do Padre Frei Sebastião de Santa Clara pelo abade de Rebordãos, p. 47.
(636) Veja-se a sua discussão nas sessões da câmara dos Pares do Reino de 10 e 12 de Outubro de 1844 e Diario do Governo de 1 de Abril e 4 de Junho de 1815.
(637) FREITAS, Augusto César Barjona de – Relatório do Ministro dos Negócios Eclesiásticos, in Diário de Lisboa de 3 de Novembro de 1866.
(638) Já o decreto de 26 de Agosto de 1859 determinara que em todas as dioceses fossem organizados, com a possível brevidade, cursos trienais de disciplinas eclesiásticas, conforme a disposição de lei de 28 de Abril de 1815 e que ninguém pudesse ser admitido à ordem de presbítero sem o curso completo de estudos teológicos.
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1846, ácerca da habilitação de ordinandos para serem admittidos a Ordens Sacras, especialmente á de Presbytero, tem estas por frequentes vezes recahido em pessoas de tão apoucada instrucção, que não póde d’ellas esperar-se serviço algum util á Egreja, nem credito para a importantissima classe dos Ministros do Altar; concorrendo principalmente para estes factos deploraveis o exigirem-se apenas, por via de regra, dos pretendentes atestações de frequencia com aproveitamento dos estudos preparatorios, passados por qualquer professor publico, ou por mestres dos seminarios diocesanos existentes, ou ainda por mestres particulares; para obviar a estes inconvenientes emquanto se não consegue que elles se remedeiem mais directa e efficazmente pela inteira execução do que se acha determinado no artigo 16.º da Carta de Lei de 28 de abril de 1845: Ha Sua Majestade a Rainha por bem resolver que da concessão das Régias Licenças para serem admittidos ás Ordens Sacras os alumnos que a ellas se propozerem nas differentes dioceses do Reino e Ilhas Adjacentes se observem as regras seguintes:
1.ª Para poderem ser competentemente admittidos ás duas Sagradas Ordens de Subdiacono e Diacono deverão os pretendentes, qualquer que seja a diocese a que pertençam, instruir seus requerimentos, não sómente com os documentos até agora exigidos, mas também com certidão de approvação passada pelos professores do respectivo Lyceu, nos estudos preparatorios de grammatica e lingua latina, de rethorica e de philosophia racional e moral, embora não tenham estudado estas disciplinas nas aulas do Lyceu.
2.ª Para admissão à Sagrada Ordem de Presbytero deverá sempre exigir-se dos ordinandos, não sómente os documentos supra mencionados, mas tambem os que adeante se declaram, segundo as diversas dioceses de que os mesmos ordinandos forem compatriotas, a saber... Nos bispados do Algarve, Angra, Aveiro, Beja, Bragança, Castello Branco, Elvas, Funchal e Guarda: certidão de exame e approvação das materias indispensaveis ao sacerdócio; sendo este exame feito perante os respectivos prelados ou perante as pessoas competentes, a que elles por despacho seu derem commissão para esse fim»(639).
Depois, a portaria de 8 de Outubro seguinte, explicando a primeira regra, diz que os exames de que se exige certidão devem entender-se feitos na forma que a lei vigente a esse respeito estabelece; admitindo-se a eles quaisquer ordinandos que o requeiram, ainda que não tenham estudado nos liceus, como na mesma providência se declara, em conformidade
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(639) Diário do Governo de 28 de Setembro de 1850.
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do artigo 76.º do decreto de 20 de Setembro de 1844, e sendo depois as respectivas certidões extraídas do livro competentes em que se lançam os assentos do resultado dos ditos exames(640).
Foi a bula de Pio IX, dada em Gaeta aos 22 de Janeiro de 1849, chamada da Cruzada, por lhe serem concedidos todos os privilégios, indulgências e graças da antiga dada por Gregorio XIV, deste título, «com o fim de serem principalmente applicadas as esmolas dos fieis á erecção de novos Seminarios Episcopaes, e ao melhoramento dos já existentes», regulamentada por decreto de 11 de Dezembro de 1851 (641), quem forneceu os elementos para o funcionamento destas casas de educação eclesiástica, de acordo com a carta de lei de 28 de Abril de 1845.
O Seminário de Bragança só em 1852 se abriu, depois de uma interrupção de vinte e um anos. Graças às esmolas da bula do ano anterior, diz Amaral (642), já se reformou de modo possível o Seminário Episcopal e nele se abriu uma aula de Teologia Moral e Sacramentos.
A este propósito, não deixa de ser interessante o seguinte quadro: «A disciplina ecclesiastica no bispado de Bragança estava então no mais deploravel estado. Não havia Seminario, nem aula alguma publica de sciencias ecclesiasticas, e admittiam-se a ordens quantos para isso se apresentavam, pelo que o bispado estava coberto de padres sem educação nem instrucção religiosa e não tendo muitos em que se empregar, vivendo uma grande parte do clero sem meios e sem dignidade, vendo-se obrigado a entregar-se á lavoura ou officios mechanicos. Os pretendentes aos beneficios ecclesiasticos, em logar de se dirigirem ao prelado allegando os seus merecimentos e serviços, recorriam aos seus patronos que, á força de presentes, faziam com que o bispo satisfizesse as suas pretenções.
Outros se dirigiam ao secretario do Bispo offerecendo-lhe dinheiro para o mesmo fim. O mal vinha já de longe, e muitos padres immoraes, que em regra são os mais atrevidos, tinham conseguido pelos referidos meios apoderarem-se dos melhores beneficios do bispado»(643).
Mas ainda assim não se concentraram logo todos os estudos nos seminários, pois o decreto
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(640) Ibidem, de 10 de Outubro do mesmo ano.
(641) Diário do Governo de 15 de Dezembro de 1851.
(642) PIMENTEL, João Pereira Botelho de Amaral – Pastoral de 5 de Fevereiro de 1853, Diário do Governo de 7 de Novembro de 1853. RIBEIRO, Silvestre – História dos Estabelecimentos Científicos, Literários e Artísticos de Portugal, vol. IV, p. 63.
(643) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Sernache do Bonjardim», a propósito de D. João de Amaral e Pimentel.
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de 28 de Setembro de 1861 preceitua que ninguém será admitido à ordem de presbítero sem o curso trienal de estudos eclesiásticos a menos que não seja bacharel em Teologia ou Direito. Aberto, como já se disse, em 1852 o Seminário, logo em 1853 teve aumento de estudos, pois o relatório propõe para ele no ano seguinte «um conto e duzentos mil réis, em attenção ao progressivo augmento de rendimento que d’alli tem vindo, para o cofre da bulla, ao melhoramento da instrucção que no Seminario tem havido com o estabelecimento de novas cadeiras para disciplinas ecclesiasticas, ao incremento necessario no pessoal do mesmo, e tambem ás despezas feitas no edificio»(644).
Quais fossem as novas cadeiras criadas não o indica o documento citado; mas por outro do mesmo género apresentado em 1857 vê-se que nele se ensinavam as disciplinas de Francês, Teologia Moral, Direito Canónico, Teologia Dogmática e Sacramentos, que o pessoal dirigente constava de um vice-reitor e dois prefeitos e que no ano anterior fora frequentado por quarenta e seis alunos (645).
Mais explícito é o de 1860 pois diz: «que o Seminario de Bragança recebeu no precedente anno o subsidio de 1:500$000 réis; que com esta somma fez face ás despezas com obras e com os ordenados de tres professores de sciencias theologicas, dos professores de canto e ritos e de francez, vice-reitor, prefeitos, fiscal, cartorario e mais empregados; que durante o anno se realizaram mui importantes melhoramentos no edificio, devido ao distincto zêlo do então governador do bispado doutor José Luiz Alves Feijó; que se collocou fôrro e soalho nas duas entradas do mesmo estabelecimento branqueando-se todo internamente; que se concluiram mais quartos e a capella, se reedificaram os muros da cêrca e se collocaram muitas vidraças, portas e janellas e que as aulas de historia sagrada e ecclesiastica, logares theologicos, direito publico e ecclesiastico, theologia moral, lingua franceza,  canto e ritos
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(644) Relatório da Junta Geral da Bula da Cruzada, Diário do Governo de 7 de Fevereiro de 1854 e 9 de Novembro do mesmo ano.
(645) Ibidem, Diário do Governo de 5 de Março de 1857. Só no ano lectivo de 1877-78 é que nos seminários se estabeleceram as aulas dos preparatórios, como vemos pelo Diário do Governo de 8 de Agosto de 1878 onde no de Bragança encontramos, além da de Francês, mais a de Português, Latim e Matemática. As de Filosofia, História e Geografia só aparecem mencionadas no mesmo Diário de 19 e 22 de Junho de 1880, sinal de que apenas começaram a funcionar no ano lectivo de 1878-1879 em que figuram, como vemos no mapa adiante, quinze professores sendo apenas treze do ano anterior. Ver também sobre o assunto a Pastoral do bispo Lemos, de 2 de Janeiro de 1856, de que damos extracto. O Portugal Antigo e Moderno, artigo «Santarém», p. 579, diz que as cadeiras nos seminários, idênticas às dos liceus, ou seja de preparatórios, foram criadas em 1875.
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foram frequentadas por 27 alumnos»(646).
O Relatório das contas da Bula da Cruzada em 1861 menciona mais a aula de Teologia Pastoral (647).
É evidente que para este incremento muito deve ter contribuído o decreto de 21 de Setembro de 1858 e mais tarde o de 26 de Agosto de 1859, reservando na catedral de Lisboa seis canonicatos e nas outras dioceses quatro com o ónus de ensino nos respectivos seminários que assim obtiveram professores de uma maneira fácil em vantajosas condições económicas.
A aula de Geometria foi criada no ano lectivo de 1864-1865, mas apenas funcionaria um ano, pois o Relatório das contas da Bula (648) diz que se dispensou o professor por haver essa cadeira no liceu, e faz sentir a necessidade de se criar uma de lugares teológicos, disciplina que já vimos anteriormente se leccionava mas provavelmente não era em cadeira especial.
Também no mesmo ano de 1864-1865 se lançaram os fundamentos referentes à aquisição de livros para a biblioteca que hoje tem o Seminário( 649).
As conezias com ónus de ensino não representam disposição nova, pois estão muito de harmonia com as tradições educativas das sés catedrais onde sempre se professou o ensino da ciência, ainda a de menos ligação com a teologia, ministrada e subsidiada pelas corporações capitulares.
O breve de Clemente XIV, de 22 de Abril de 1774, Scientiarum omnium, mandado executar por aviso de 20 de Setembro de 1784, ampliando as bulas dos Pontífices Sisto IV, Alexandre VI e Paulo III, no intuito de promover os estudos matemáticos, outorgou que duas conezias nas catedrais de Leiria, Porto, Elvas e Miranda se unissem à Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra para nelas serem providos os seus lentes, e como alguns destes poderiam ser seculares, eram quatro dessas conezias: uma em cada diocese, constituídas em comendas para poderem auferir-lhe os rendimentos (650).
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(646) Diário do Governo de 4 de Maio de 1860.
(647) Diário de Lisboa de 29 de Julho de 1862.
(648) Ibidem, de 26 de Abril de 1865 e 17 de Abril de 1866.
(649) Ibidem, de 23 de Julho de 1864, e no Diário do Governo de 8 de Agosto de 1878 vemos que a bula deu para ela no ano anterior a verba de 98$290 réis.
(650) RIBEIRO, Silvestre – História dos Estabelecimentos Científicos e Literários de Portugal, vol. I, p. 385 a 397, e vol. II, p. 160 a 163.
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Tal protecção dispensada pela Igreja à Universidade de Coimbra representa o carinho com que sempre a olhou, como de mãe para filha estremecida, pois é bem sabido que esta deve a sua fundação aos subsídios que um abade, quatro priores e vinte e um reitores, entre os quais o de Mogadouro, no distrito de Bragança, ofereceram para tal fim, em 1288, cotizando-se nos rendimentos de seus benefícios (651), e ao mesmo tempo como sempre se tem esforçado para dominar os povos pelo obscurantismo, segundo sinceramente afirma Teófilo Braga na Introdução e História da Literatura Portuguesa, pág. 185.
São verdadeiramente notáveis os melhoramentos materiais, científicos e morais introduzidos no Seminário de Bragança pelo actual prelado D. José Alves de Mariz. Adiante trataremos dos primeiros e agora, muito em resumo, da parte intelectual.
Nem sempre o Seminário correspondeu à expectativa nele depositada.
Pelos mapas adiante publicados vê-se quanto a sua frequência foi diminuta antes da vinda deste bispo. Os diversos relatórios da Bula da Cruzada, publicados no órgão oficial do governo, salientam e lamentam claramente esta carência. Eis o que alguns dizem e por eles ajuizaremos do resto:
«A Junta Geral (da Bulla) com quanto sinta vêr menos satisfatorios resultados no anno lectivo findo, de que no precedente, todavia, na esperança de que melhores fructos se obterão no futuro, não tem duvida em consultar para o corrente anno o subsidio de 2357$500 réis egual ao do anno passado»(652).
O relatório de 1869 diz: «O Seminario, cuja verba da despeza foi mais alta com relação a cada alumno interno é o de Bragança... Este Seminario tem 9 professores e 11 empregados e serventes, ao todo 20 para 14 alumnos internos e 4 externos; total 18»(653).
E note-se que nesse tempo Bragança era a diocese que tinha maior consumo de bulas em relação à população, pois apresenta a média de 30 réis por indivíduo, ao passo que Braga apenas chegava a 27 réis e outras, como Elvas e Beja, desciam respectivamente a 4 e 5 réis (654).
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(651) RIBEIRO, Silvestre – História dos Estabelecimentos Científicos…, «Apêndice», p. 415, onde vem por extenso o documento que estes beneméritos da instrução lavraram a fim de obterem do Papa autorização para a criação da Universidade.
(652) Diário do Governo de 13 de Julho de 1867.
(653) Ibidem, de 6 de Novembro de 1869.
(654) Ibidem. O mesmo Diário de 15 do Maio de 1864 expande por igual forma idêntico sentir.
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O de 1872 diz: «Nos seminarios de Bragança, Algarve e Portalegre nota-se uma grande desproporção entre o número de professores, o pessoal empregado e o dos alumnos. O de Bragança apresenta 9 professores e 13 empregados e serventes, ao todo 22, para 16 alumnos internos e 1 externo; total 17!»(655). Não obstante, Bragança continuava a figurar como uma das dioceses onde a capitação em consumo de bulas era mais elevada.
Ainda o de 1873, lamentando, comenta: «Observa-se n’este anno a mesma desproporção apresentada nos annos anteriores; assim, o Seminario de Bragança tem 9 professores e 14 empregados e serventes, total 23, para 12 alumnos internos e 7 externos; ao todo 19»(656).
Era engraçado: a Junta Geral da Bula a queixar-se e o número dos criados a crescer de ano para ano! Nem sempre o escandaloso anichamento de afilhados foi apanágio da política. E no entanto, pelas notas de receita e despesa do mesmo estabelecimento que se seguem, mal se compreende a necessidade de tantos criados.

Receita no ano de 1871-1872:

Juros de capitais mutuados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15$400
Juros de inscrições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48$000
Mesadas de alunos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 440$095
Subsídio da bula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2100$000
Diversas receitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157$370
Soma . . . . . . . . . . . . . . . . . 2760$865
Despesa em igual período:
Sustento dos seminaristas e despesas de refeitório.. 910$905
Vencimento dos professores . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1140$000
Vencimento dos empregados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 445$190
Pensões à fábrica da Sé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50$000
Obras e reparos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25$380
Diversas despesas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191$531
Saldo que passa para o ano seguinte . . . . . . . . . . . . 130$185

Soma . . . . . . . . . . . . . . . . . 2893$191 (657)
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(655) Diário de Lisboa de 30 de Abril de 1872.
(656) Diário do Governo de 8 de Julho de 1873. RIBEIRO, Silvestre – na História dos Estabelecimentos Científicos…, vol. 6, p. 118, diz que só o Seminário de Angra apresentava por este tempo igual decadência.
(657) Diário do Governo de 5 de Julho de 1873.
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No ano lectivo de 1884-85 já o Seminário entrara em nova fase progressiva, mas ainda assim muito inferior à que lhe deu o actual prelado.
Diz o relatório da bula desse ano: «Foram as aulas frequentadas por oitenta e um estudantes sendo quatorze gratuitos, tres pensionistas, cincoenta e dois externos, não subsidiados, e doze recebendo subsidio pelo Seminario (Este subsidio consistia nas matriculas gratuitas). Comparada a frequencia d’este anno com a dos dois ultimos, nota-se uma differença para mais no numero dos alumnos e no seu aproveitamento, o que muito deve animar o reverendo prelado sempre solícito em envidar os meios de aproveitar as poucas vocações que encontra, admittindo gratuitamente como internos os alumnos que o Seminario póde comportar, e distribuindo subsidios a alumnos externos, segundo o merecimento de cada um».
Entretanto, chega o ano de 1885 e D. José Alves de Mariz, então nomeado bispo de Bragança, imprime nova vida ao Seminário e diocese.
Faltavam as vocações eclesiásticas. Ele fá-las nascer. Era acanhado o estabelecimento para as comportar? Ajunta-lhe um novo edifício que fez construir ad fundamentis. Era deficiente a educação intelectual? Cria novas cadeiras. Carece de nova orientação a parte moral? Sabe dar-lha, em ordem a despertar nos alunos o estímulo da virtude e do estudo.
Estabeleceu logo uma cadeira de Filosofia Escolástica no curso teológico.
Em 1886 criou a de Física, Química e História Natural.
Em 1895 criou a aula de Música, Canto e Instrumentos próprios para orquestra de igreja, que foi inaugurada a 25 de Abril de 1895 (658), isto independente da aula de Cantochão que já existia.
Funda em 1898 a cadeira de Arqueologia e Iconografia que anexa à de História Eclesiástica, tornando obrigatório o seu ensino no Seminário(659). Já sobre o assunto, publicara a circular de 15 de Outubro de 1897, monumento digno de ser consultado, não só pela elegância com que está escrito, peculiar, de resto, a todas as produções de sua Ex.ª Rev.ma, como pelas sábias disposições que contém e à qual a imprensa jornalística e científica de Portugal fez rasgados elogios.
Criou mais uma cadeira de Higiene, cujos ensinamentos devem redundar em grande benefício dos povos pastoreados pelos levitas nessa ciência educados.
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(658) Norte Transmontano de 25 de Abril de 1895.
(659) O Arqueólogo Português (1899), vol. 5, p. 44. Boletim Diocesano de Bragança, nº 10, (Outubro de 1898), p. 172.
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Dá e faz publicar na imprensa da Universidade de Coimbra, em 1896, os Estatutos do Seminário Episcopal de S. José de Bragança, 4.º de 52 páginas, notáveis pela proficiência e conhecimento pedagógico com que estão redigidos e que a imprensa muito elogiou (660).
E, no intuito de despertar o estímulo entre os estudantes à prática da virtude e aproveitamento, estabelece prémios aos distintos em comportamento moral, mérito literário e científico.
Quando tratarmos da parte material do edifício veremos que, se o bispo Mariz tem tomado uma parte notabilíssima no respeitante a elementos educativos, não lhe fica inferior a secção referente a obras.
Já em Novembro de 1898, havia chegado ao Seminário uma secção de aparelhos de Física, em número de sessenta, destinados pelo prelado ao gabinete da mesma ciência. Compreendiam o que havia de melhor no género em pesanteur, elasticité, inertie, hydrostatique, hydrodynamique, chaleur, électricité statique e dynamique, acustatique e optique. Foram escolhidos dos catálogos das melhores casas fornecedoras de Paris pelo lente de Filosofia na Universidade de Coimbra, doutor Júlio Augusto Henriques (661).
Obtém igualmente pouco depois um herbário da flora lusitana, organizado expressamente para o Gabinete de História Natural do Seminário de S. José de Bragança pelo doutor Joaquim de Mariz, naturalista da cadeira de Botânica na Universidade de Coimbra.
Este herbário tem importância especial, porque muitos dos seus exemplares foram, pelo próprio naturalista, colhidos na diocese de Bragança em duas excursões científicas que nela fez, de cujo resultado publicou um livro(662). É representado este herbário por oitocentas e quarenta espécies em cem famílias.
E para complemento, chega em seguida, com destino ao mesmo gabinete, uma secção de Mineralogia e Petrografia escolhida dos melhores catálogos das primeiras casas fornecedoras de Boun na Alemanha pelo doutor António José Gonçalves Guimarães, lente de Mineralogia e Geologia na Universidade de Coimbra. Esta colecção é composta de cinquenta minerais e cinquenta rochas (663).
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(660) Boletim Diocesano de Bragança, ano II, n.º 3, p. 43. Correio Nacional, n.º 1813 e outros.
(661) Boletim Diocesano de Bragança, ano II, n.º 2, p. 22 e 27, onde vem especial notícia desses instrumentos.
(662) Ibidem, n.º 3, p. 42, onde vem notícia especial sobre o assunto.
(663) Ibidem, n.ºs 4 e 5.
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continua...

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