O tempo estava soalheiro, mas com uma luz difusa resultante da presença de nuvens. Esperei com calma, atento ao movimento nas escarpas. Foi então que reparei num vulto parado entre as rochas: o grifo.
É uma ave imponente. O grifo (Gyps fulvus) é uma das maiores aves necrofagas da Europa e pode atingir mais de dois metros e meio de envergadura. Apesar disso, consegue ser discreto quando pousa nas encostas, quase da mesma cor da pedra. Só o pescoço claro e a forma do corpo o distinguem do resto da paisagem.
Apesar da distância, consegui algumas fotografias com a teleobjetiva. Ele ficou ali algum tempo, imóvel, até levantar voo com calma — sem pressas, aproveitando as correntes de ar. Mais tarde, cruzei-me com outro grifo a sobrevoar o vale, sozinho, com o céu como fundo. Também esse momento acabou registado. Manter a distância não serve apenas para evitar perturbar as aves — é também uma oportunidade para incluir o ambiente que as rodeia na composição. No caso do grifo, o contraste entre a sua silhueta e as escarpas do Douro ajuda a contextualizar o habitat, dando escala e profundidade à imagem. Em vez de isolar o animal, a fotografia passa a contar uma história mais completa sobre o lugar onde ele vive.
O grifo é necrófago, alimenta-se de animais mortos, e tem um papel importante na limpeza dos ecossistemas. É uma espécie protegida, que depende de zonas com pouca perturbação humana para sobreviver. No Douro Internacional ainda encontra esse refúgio — mas é uma presença frágil, que exige atenção e respeito.
Estes registos foram feitos à distância, sem sair dos trilhos e sem forçar aproximações. Fotografar fauna selvagem, para mim, tem muito a ver com isso: estar presente, com tempo e respeito, e aceitar que nem sempre se consegue o clique perfeito. Mas quando acontece, como neste caso, vale a espera.
Informações úteis para quem quiser visitar o Penedo Durão
Localização:
O miradouro do Penedo Durão fica no concelho de Freixo de Espada à Cinta, em pleno Parque Natural do Douro Internacional. Tem acesso por estrada asfaltada e estacionamento no topo.
Melhor altura para observar grifos:
Primavera e início do verão, especialmente em dias com boa visibilidade e correntes térmicas. Ir cedo ou ao final da tarde ajuda a evitar multidões e aumenta a probabilidade de avistamentos.
Teleobjetiva de pelo menos 300mm;
Tripé leve ou monopé (opcional);
Roupas discretas e confortáveis;
Binóculos (para observação sem fotografar).








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