(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Numa época conturbada, na qual reinava D. Sancho II, posteriormente considerado o «rex inutilis». Uma época na qual as «guerras» entre o poder senhorial e as instituições eclesiásticas, por um lado, e a tentativa de afirmação do poder régio, pelo outro, geravam uma grande instabilidade no reino. Não obstante esse contexto, no qual os Bragançãos se foram afastando da esfera régia, ora oscilando para um lado da «fronteira», ora para o outro, mantendo o seu incontestável poderio na região bragançana, isso não foi impeditivo para a ocorrência de ténues tentativas, por parte de D. Sancho II, de tentar marcar a sua posição no território.
Assim aconteceu no decorrer do ano de 1225, há exactamente oito séculos, com a outorga de dois forais a povoações do distrito de Bragança, sendo aí criados dois concelhos. Aqui ficando a ressalva de que, ao mesmo ano, é atribuída a outorga de um outro, a Lamas de Orelhão, por alguns autores. No entanto, quedemo-nos pelas «velhinhas» Abreiro e a extinta povoação de Santa Cruz da Vilariça, sede de concelho que, posteriormente, seria transferida para a actual Torre de Moncorvo.
Ambas as povoações foram representativas das referidas ténues tentativas de D. Sancho II para afirmar o seu poder na região. Abreiro que já tinha sido o limite para as Inquirições mandadas tirar pelo seu pai, D. Afonso II... Sabe-se, no entanto, que o exercício de poder não se terá efectivado da forma pretendida, quer pela intromissão dos senhores, quer pela das ordens religioso-militares, que reclamavam os seus direitos.
Algo de semelhante aconteceria com Santa Cruz da Vilariça, na qual os senhores da região reclamariam os seus direitos, sendo aí evidente a supremacia que os Bragançãos, especialmente por parte do seu último grande representante varonil, o «último Braganção», Nuno Martins de Chacim, o qual, posteriormente, como já aqui trazdio, seria Meirinho-mor de D. Afonso III, Aio de D. Dinis e Mordomo-mor deste último.
Porém, o que interessa aqui relevar, nestas «terras sem história», é que se cumpriram, no decorrer deste 2025, dois, que poderão ser três, aniversários de 800 anos relativos ao nascimento de concelhos medievais na região. O que, na modesta visão deste que escrevinha, é de assinalar. Afinal, 800 anos não foi «ontem à tardinha»… E gosto, nesta insana cruzada, de realçar o tanto que temos e não nos ensinam na escola, completamente «litoralizada».
E Abreiro e, com bastante probabilidade, Lamas de Orelhão, ambas no concelho de Mirandela, e a extinta Santa Cruz da Vilariça, antecessora do concelho de Torre de Moncorvo, também merecem entrar nesta «galeria dos notáveis»!
(Foto: «Pelourinho de Abreiro» - Aníbal Gonçalves)
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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