(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Tradição ancestral, o fogo purificador, a luz, ou a vitória sobre a escuridão. Mais um ritual ligado a costumes pagãos que o Cristianismo absorveria, festejava-se o «sol invicto», passou Jesus Cristo a ser a «nova luz», segundo as palavras de Santo Ambrósio.
E a evolução para rituais comunitários, onde não há ricos e pobres, crianças e adultos, jovens e velhos. Todos se reunem à volta da «Fogueira», em comunitária igualdade. Depois da Missa do Galo, ritual que só terá chegado a estas bandas em finais do século XIX ou inícios do XX. E depois de, dias antes, os jovens da comunidade recolherem os troncos e grossas raízes, em preparativos para a celebração maior do ano.
Talvez haja um “cibu de tchitcha” para assar nas purificadoras brasas, ou algum fumeiro, “pur’i”, sempre acompanhados pela bela “pinga”, ou por outra “cousa qualquera”. E arde durante dias, a relembrar «novos começos», iniciam os dias a sua jornada até ao Equinócio da Primavera, que o Solstício de Inverno, o que, efectivamente, se festeja há milénios, já terá passado pelo «Dies Natalis».
Tempos idos, acreditava-se que os antepassados também se reuniam à volta da «Fogueira», o calor confortando-lhes a alma. Como crença era a da recolha do «tição da Fogueira», que religiosamente se guardava como protecção contra raios e trovoadas, parecendo substituir Santa Bárbara.
Todos terão excelentes memórias dos tempos passados à volta da «Fogueira». Talvez alguns, como este que escreve, ainda jovem, sangue na guelra, também tenham passado a noite a dormir em fardos de palha que se espalharam em frente ao adro, ou tenham, daí advinda, a recordação da primeira «ressaca»…
Há uma História milenar por detrás do nosso «Madeiro», ou «Canhoto», das nossas «Fogueiras de Natal». Que vem do tempo dos «avós dos avós dos avós dos nossos avós». E há algo que reconforta: ver esta ancestral tradição perfeitamente viva nas nossas aldeias. Reconfortantes sendo, ainda, as tantas histórias que vou registando, dos «nossos avós», de outros tempos passados à volta da «Fogueira». Talvez, um dia, as edite...
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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