António L. Pereira |
Comunicar história não é nem nunca foi um forte dos investigadores portugueses. Encerrados numa espécie de trincheira científica, na maior parte das vezes a saborear o pseudo sucesso das suas “ inacessíveis problemáticas”, uma boa parte de historiadores e arqueólogos são muito avessos ao tratamento de questões históricas de uma forma mais leve, divertida e, por conseguinte, muito mais atractiva para as pessoas que no seu dia-a-dia pouca importância dão à investigação historiográfica e arqueológica, apesar de quase sempre essa investigação, quando existe, ser paga quase que integralmente pelos seus próprios impostos.
Numa sociedade onde as pessoas lêem muito pouco e muito menos lêem maçudos tratados de história e de arqueologia, estas recriações, melhor ou pior conseguidas, são muitas vezes o único contacto que os cidadãos têm com o seu passado histórico e é através delas que primeiro vislumbram e depois passam a ter uma melhor compreensão do património cultural onde tropeçam diariamente.
E esta realidade é tanto mais evidente quanto mais mergulhamos nas regiões que constituem o interior do país, politicamente marginalizado pelo poder central e onde os problemas estruturais relativos às deficiências da educação e da cultura se multiplicam numa escala de muito maior dimensão.
Não é nosso objectivo fazer aqui uma análise abrangente dos aspectos positivos e negativos desta questão, nem tão pouco é nossa intenção alguma vez discutir este assunto numa perspectiva de defesa incondicional do mesmo. Contudo, uma ideia defendemos intransigentemente: as recriações históricas são um instrumento fundamental de pedagogia e de dinamização de pequenas localidades que através delas chamam até si uma imensidão de pessoas.
Tenho para mim, enquanto arqueólogo e um profissional que tem por base do seu trabalho o património cultural, que não servirá de nada todo o esforço colocado na busca de conhecimento do passado, se ele não for partilhado socialmente; se ele não for libertado da masmorra ou do ciclo fechado dos seus pares e sair para a rua envolto em novos tratamentos e em novas roupagens susceptíveis de servirem de atractivo e serem capazes de captar a atenção da sociedade, de toda a sociedade.
Apenas como exemplo, refiro o registado no último fim-de-semana em Carrazeda de Ansiães onde a iniciativa “Ansiães na Idade Média” conseguiu mobilizar um significativo número de pessoas, chamando até à sua vila medieval uma multidão de visitantes nunca dantes registado em quaisquer outras acções desenvolvidas com o intuito de promoção e divulgação deste importante monumento transmontano.
Foi efectivamente muito interessante verificar que as pessoas, e sobretudo os mais jovens, tentaram compreender o significado histórico da reconquista cristã e o papel que o Castelo de Ansiães desempenhou em todo esse processo; a diferença entre a cultura cristão e a cultura árabe; a sua participação activa em palestras e demonstrações; a sua participação activa em “sketchs” teatrais capazes de levaram à compreensão do papel dos personagens.
Que outra iniciativa pedagógica poderia chamar, envolver e levar tanta gente a discutir e a participar com interesse no entendimento do passado do Castelo de Ansiães? Pela experiência que tenho, nenhuma. A não ser esta, a do “Ansiães na Idade Média”.
in:noticiasdonordeste.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário