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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

O Real Filatório de Chacim – Macedo de Cavaleiros

As ruínas do Real Filatório de Chacim impressionam. Altas de três andares, são um dos últimos testemunhos da indústria da seda em Trás-os-Montes.


Chacim é hoje uma aldeia pacata. No extremo sul do concelho de Macedo de Cavaleiros, as suas gentes dedicam-se fundamentalmente à agricultura. Mas no século XVIII teve um papel primordial no esforço de industrialização do país.

Por decreto de D. Maria I, foi Chacim escolhida para albergar o Real Filatório e a escola de tecelagem. Com um micro-clima propício à produção de bicho-da-seda e alguma tradição na confeção de seda, a aldeia de Chacim foi protagonista da industrialização de Portugal.


Da real fábrica de seda pouco mais chegou aos nossos dias do que as paredes nuas de um grande edifício. Mas nos seus tempos áureos, o barulho do filatório piemontês e a azáfama de dezenas de trabalhadores faziam vibrar as pedras hoje mudas.

A real fábrica de seda laborou até 1807, ano das primeiras invasões francesas, mas chegou a ter várias centenas de trabalhadores e a produção de seda ocupou. direta ou indiretamente, quase 50 por cento da população de Macedo de Cavaleiros. Com o final da produção veio o declínio do edifício e o Estado acabaria por o vender em 1869, servindo depois como estábulo até ao grande incêndio que o consumiu já no século XIX.


A memória do grande empreendimento industrial foi-se perdendo e todo o complexo utilizado para outros fins, até que em 1997 é realizada uma escavação arqueológica que desenterra evidências da utilização do moinho piemontês.


Esta é uma visita que aconselhamos (até porque Chacim é uma bela aldeia), mas que deve ser realizada com o trabalho de casa feito, porque pouca ou nenhuma informação se encontra no local e o centro interpretativo está com a porta fechada.

Os Arnaud e o moinho à piemontesa
No vibrante final do século XVIII, as mentes modernas procuravam a novidade. D. Rodrigo de Sousa Coutinho era um desses casos. Tendo o Conde de Linhares visto em Turim, onde era Ministro de Portugal, o processo de fiação proto-industrial conhecido como moinho (ou filatório) piemontês, sugeriu-o ao governo de então. Foram experimentados casulos portugueses em várias fiações e verificou-se que produziam organsim de grande qualidade.

Memória do Bairro Operário

O Conde de Linhares consegue convencer o reino e uma família que conhecia bem o negócio da seda a entenderem-se. Os Arnaud chegam a Lisboa, onde demonstram a eficácia do moinho hidráulico que permitia tecer maior quantidade e mais rapidamente.

Feito o testo e aprovada a máquina, D. Maria II manda então que se instale o Real Filatório em Chacim, para aproveitar as amoreiras e a tradição de produção de seda na região transmontana entre Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Brangança, Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta.

Os Arnaud, pais e filhos, ficam encarregues de instalar o filatório e aí estabelecerem uma escola que espalhasse por Portugal os seus métodos de tecelagem. Acordado um salário de 3.000 reais, demora uma semana a viagem dos italianos e do seu moinho até Trás-os-Montes.

O investigador local Rui Sousa lembra que ” fiação à piemontesa foi uma inovação e trouxe um grande desenvolvimento. Hoje apenas temos os vestígios daquilo que foi uma grande fábrica de seda que ocupou em determinada altura mais de 50 teares e 220 trabalhadores, tendo a real fábrica chegado a empregar direta ou indiretamente cerca de 450 pessoas”.

O Real Filatório seria construído na mais antiga zona da povoação de Chacim, junto à ribeira que leva o nome da aldeia e cujas águas fariam giram o moinho à piemontesa. A ponte de arco de volta perfeita em alvenaria de xisto que atravessa a ribeira junto à antiga instalação fabril deverá ser medieval. Mesmo aí ao lado, há ainda as casas de xisto que restam do que foi o Bairro Operário onde viviam trabalhadores e aprendizes do Real Filatório de Chacim.

A Ponte do Bairrinho

As ruínas do Real Filatório podem ser outra etapa de um percurso por Terras de Cavaleiros; um percurso que incluirá o Mosteiro de Balsamão e que poderá ser feito em qualquer época do ano. No verão, será um complemento à praia do Azibo e, no Carnaval, um pretexto para depois dizermos que houve mais do que o paganismo dos caretos de Podence na visita que fizemos a este território onde se come verdadeiramente bem.



Texto: Jorge Montez
Imagem: Miguel Montez

Portugal Les a Les

1 comentário:

  1. Obrigado pela rica informação de uma das principais atracões da minha terra.

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