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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

D. Maria II: quebra de escudos e exéquias em Bragança (1853)

D. Maria II morreu às onze e meia do dia 15 de novembro de 1853. No dia 23 de novembro, na sessão da Câmara de Bragança, foi apresentado o ofício circular do Governo Civil, datado de 22 de novembro, em que se participava a morte da Rainha e se ordenava, em nome do Rei D. Fernando II (1816-1885), Regente do Reino, que “em sentimento se tome luto geral por tempo de seis meses, sendo três de luto pesado e três de aliviado”. A Câmara, “tendo em vista uma notícia tão infausta”, ordenou que se desse conhecimento “do luto por meio de um bando e se tocassem os sinos da Câmara por três dias sucessivos, e se fizessem as demonstrações do costume” por ocasião do falecimento dos reis.

O Presidente da Câmara, Manuel da Cunha Coelho, ficaria encarregue da “direção” das manifestações pela morte de D. Maria II. Foi designando o dia 19 de dezembro para a quebra de escudos, e o dia 22 do mesmo mês para as “funéreas exéquias”, tudo feito com a maior pompa possível e em harmonia com os rendimentos do Município. Finalmente, foi decidido que o secretário apresentaria um relatório circunstanciado dos dois atos fúnebres.
Na sessão de 29 de dezembro de 1853, o secretário apresentou o Relatório do modo porque se quebraram os escudos e se fizeram as exéquias nesta Cidade pelo falecimento de Sua Majestade a Rainha a Senhora Dona Maria Segunda, que lhe tinha sido solicitado, o qual foi transcrito no livro de atas da Câmara, o que nos permite conhecer com pormenor como se executou o cerimonial da quebra de escudos e as exéquias.
Através do relato, ficamos a saber que a cerimónia da quebra de escudos, para a qual foram levantados três tablados nas praças de Santiago, Colégio e São Vicente, tendo no centro e na parte esquerda um “pontalete”, tudo coberto com baetas pretas, se realizou em 19 de dezembro, como estava previamente determinado.
O primeiro ato da quebra de escudos teve lugar em frente do edifício que servia de Câmara de Bragança.
Pela manhã, tocaram os sinos da Câmara seguindo-se os dos templos da Cidade, anunciando-se dessa forma o “préstito lutuoso” que iria verificar-se; pelas onze horas da manhã, os Corpos da Guarnição, por convite da Câmara feito ao comandante da Subdivisão Militar, encontravam-se postados junto dos antigos Paços do Concelho, situados dentro da cidadela para acompanharem o préstito, assim como quatro ou seis tambores com as caixas cobertas de baeta preta colocados em linha, em frente da porta dos Paços do Concelho.
Satisfeitas estas disposições e achando-se fechadas, desde o amanhecer, todas as janelas da Câmara, a cerimónia principiou com a abertura da janela da sala principal, “com frente para o largo da entrada do edifício”, na qual apareceu o Corpo da Câmara Municipal, “vestidos os seus membros de luto rigoroso, com capas até aos pés e chapéus desabados com fumos caídos e cumpridos”, com o Presidente Manuel da Cunha Coelho, no meio dos vereadores, empunhando o estandarte da Câmara coberto de rigoroso luto; guardando-se silêncio e com os vereadores descobertos (esperava-se que o povo correspondesse a esta demonstração de respeito), o Presidente sem tirar o seu chapéu, o único que sempre se conserva coberto em todo o ato, exclamou em alta voz “Chorai Portugueses! É morta a muito alta e muito poderosa Senhora Dona Maria Segunda Rainha de Portugal, e dos Algarves”. Feita esta exclamação, os tambores que se achavam em frente da porta deram três rufos nas suas caixas “destemperadas”, conservando-se, neste pequeno tempo, o Presidente e vereadores um pouco inclinados como sinal de sentimento e dó.

Terminada esta primeira parte da cerimónia, fechada a janela, organizou-se o cortejo, que se deslocou aos locais onde se encontravam os tablados para executarem a quebra de escudos.
Chegado o préstito à Praça de Santiago, no meio da qual se encontrava o tablado, foi apregoada a morte de D. Maria II e, seguindo-se o antigo ritual, procedeu-se à quebra do primeiro escudo.
Terminada a quebra do primeiro escudo, formou-se de novo o cortejo que seguiu da Praça de Santiago pela rua que ia dar às portas da Cidadela, Rua dos Prateiros, Largo de São João, Rua da Alfândega, Rua do Espírito Santo, até à Praça do Colégio, onde se encontrava o segundo tablado, “cujo topo é para o lado da catedral”. De acordo com o ritual, o vereador José Manuel de Castro quebrou o segundo escudo. Findo o cerimonial, o préstito, através da Rua Direita, dirigiu-se para a Praça de São Vicente, onde se encontrava o terceiro e último tablado, “cujo topo é para o lado do edifício da Guarda Principal”, e onde o vereador José dos Santos Rodrigues de Madureira quebrou o terceiro escudo.
Concluído este último ato, formou-se de novo o cortejo que, percorrendo a Costa Pequena, Rua dos Prateiros, Portas da Cidadela, chegou ao Largo dos Paços do Concelho. Aí, colocando-se o préstito da melhor forma possível, com os tambores na mesma posição que ocuparam anteriormente, a Câmara, na sua totalidade, subiu a escada dos Paços do Concelho e, no patim, virada para o Largo, o Presidente, colocado na frente, “solta o último brado”, como o primeiro. Este brado foi antecedido pelo escrivão “se descobrir”, sinal para todos os componentes do cortejo tirarem os chapéus, e precedido por todos os participantes se inclinarem e pelo rufar dos tambores.
Por fim, o Presidente, quebrando a sua vara e arremessando-a ao chão, deu por concluindo o cerimonial da quebra de escudos.
Dando-se cumprimento ao disposto na reunião da Câmara de 23 de novembro de 1853, no dia 22 de dezembro, na Igreja de Santa Maria, celebraram-se as “funerais exéquias”, como, segundo o documento, “é de antigo costume, talvez pela contiguidade à vetusta Casa de Bragança”. Na véspera, a partir da uma da tarde, principiaram a “dobrar os sinos de todos os templos e torres”, anunciando, “de hora a hora, de dia e de noite”, a cerimónia que seria realizada no dia seguinte.
A função na Igreja de Santa Maria teve início às dez horas da manhã. Colocadas as sentinelas segundo o disposto pelo coronel António Ferreira Sarmento, ocuparam-se os lugares por todos os que foram convidados para as exéquias, “em tom aparatoso segundo o Rito Romano”, observado com rigor e “magistralmente dirigido” pelo padre João Evangelista Vergueiro. A missa foi celebrada pelo vigário capitular e governador do Bispado, João Pereira Botelho do Amaral, tendo como acólitos o cónego Luís António Falcão e o reitor de Constantim, José Joaquim de Morais. A música tocada nas exéquias foi dirigida pelo padre António da Cruz e Sousa, contando com a participação do cónego organista, o reverendo Domingos de Sá Ferreira.

Terminada a missa, o dr. José Luís Alves Feijó, abade de Penhas Juntas e reitor do Seminário, recitou a oração fúnebre, pela qual mostrou as virtudes de D. Maria II – “Filha prudente e virtuosa, de terna e fiel Esposa, de vigilante e boa Mãe, na boa educação que sempre deu a seus Filhos, bem como a grande religião e piedade de que era dotada” – concluindo-se a “lúgubre” função com as absolvições oficiadas pelo cónego “prebendado” António Luís Gonzaga Moreira, pelo abade da Sé, Manuel António Ferreira, pelo prior de Santa Maria, Inocêncio António de Miranda, e pelo abade de Nogueira e cónego “reservatário”, João António de Morais. Terminadas as exéquias, foram dadas três descargas de fuzilaria pela guarda de honra e tocaram “peças fúnebres acomodadas as circunstâncias”.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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