(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
...continuação
Sr. Mário Péricles |
No entanto dali até aqui, que é como quem diz, desse tempo até hoje algum tempo passou e ainda não é suficiente para apagar certos preconceitos e mesmo atavismos de que sempre padeceu a nossa sociedade que continua a dar mais importância ao penacho que à sapiência. Anda até muita gente a construir árvores genealógicas com o desejo fremente de achar um antepassado de sangue azul.
Mas já Cristo disse na parábola da mulher adúltera: -Quem nunca pecou, atire a primeira pedra!
Sigamos, foi mais ou menos neste contexto que eu e os meus condiscípulos passamos a juventude. Grande número dos que perdem tempo lendo os meus escritos compreenderão que as omissões são apenas notadas no texto e uma crónica destas não deve ser grande que se torne fastidiosa.Teria mais matéria para analisar, mas, escasseia o espaço e o jeito.
Ora nos anos sessenta aconteceram muitas coisas marcantes. Algumas importantes mas não nossas conhecidas, porque ninguém no-las explicou e outras menos, que foram mencionadas, mas só depois de retocadas pelos senhores do lápis, que diziam ser de cor azul.
Mas à falta de outros apareceram os livros da Gulbenkian. E como a carreira militar para alguns chegaram para nós os livros que avidamente fomos lendo, enquanto tivemos tempo! E só tomei contacto com os manuais militares, que diga-se, foram bem concebidos e escritos, quando cheguei ao RCP em Tancos.
Até ali tinha lido uns quantos livros que não falavam de azimutes, peças de comando e travamento, fustes e tapa-chamas mas de coisa mais teóricas e não tangíveis. E destaco, Bertrand Russel e Jean Paul Sartre. De Russel ainda possuo um titulado, “Porque não sou Cristão” e outros ensaios sobre temas afins, comprado no Mário Péricles no quarto de hora seguinte àquele em que o Zé Poças me passou para a mão os 600$00 que eu ganhava por mês.
Ora seria cansativo enumerar livros e até obituários. Sim cheguei a lê-los à falta de outra coisa melhor, que quando não havia mais nada ficava a saber que alguém havia sido sepultado no Cemitério de Agromonte ou no de Paranhos. E foi com este treino que cheguei aos Páras. No primeiro mês andei perdido, mas não completamente, ajudou-me Jean Latergui com os seus Centuriões. O ter lido esse livro antes da tropa salvou-me de ir parar ao A.M. (Exército). A seguir agarrei-me aos manuais da Instrução que eram, saber de experiência feito. Com o treino que tinha, aquele exercício era o mais fácil de todos, pois barras e flexões só ao segundo mês comecei a gostar delas. De pernas, não estava mal mas de braços foi preciso esculpi-los e fi-lo com a lembrança dos Centuriões de Latergui e dos Boinas Verdes de Robin Moore. Tenho-o ali, a este último, na estante com a data escrita do dia em que o comprei no Mário Péricles, onde mais poderia ser? Era o dia 11/07/1970, cinco semanas antes de assentar praça,17/08/1070, preço? Sessenta mil réis!
continua...
09/11/2018
A. O. dos Santos
(Bombadas)
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