Basta dizer que festas e romarias estão por estes dias proibidas de acontecer, pelo menos nos moldes habituais que possibilitavam a concentração de pessoas. Uma situação que está a causas prejuízos a quem trabalha no ramo e foi apanhado de surpresa pela pandemia.
Comecemos por olhar para os agentes de festas.
Mário Teixeira é da empresa Trazmúsica, de Chaves, que é responsável pelo agenciamento de perto de 900 festas por ano, em todo o país e também algumas em Espanha.
Conta que a partir do 16 de março começou a receber desmarcações de espetáculos, que em 90% dos casos têm ficado reagendados para o ano seguinte. E apesar de, até ao momento, 40% ainda não ter desmarcado, para este empresário não há dúvidas que um ano sem trabalhar vai custar pelo menos meio milhão de euros:
“Na altura do confinamento estávamos em 20% do total da faturação e esses prejuízos são reais. É evidente que está a haver reagendamentos mas, no ano que vem, faríamos uma agenda nova. Esta realidade representa para nós um ano sem trabalho e sem qualquer encaixe financeiro. Estimamos que a nossa empresa tem pelo menos meio milhão de euros de prejuízo.”
E se os agentes estão mal, os artistas também.
O grupo musical Somtex, do concelho de Macedo de Cavaleiros, faz várias festas na região transmontana e na zona da Guarda. Integra cerca de 15 pessoas e a paragem está a deixar prejuízos avultados, com refere Hermínio Teixeira, sócio da empresa:
“Estava tudo pronto para começar a meio do mês de abril. Entretanto, surgiu este problema e ficou tudo cancelado, nem podemos fazer mais ensaios. Está tudo parado, umas festas canceladas, outras transferidas para o ano seguinte. Esta paragem deixa-nos um vazio de bastantes milhares de euros.”
E os dois empresários concordam que a paragem pode mesmo levar a falências:
“Não haja dúvida que mais de 50% das empresas da área logística podem mesmo ter de fechar.
“Começa-se a pensar se não será melhor fechar a porta em vez de estar perder tempo.”
Por outro lado, as próprias comissões de festas também estão a ser afetadas, visto que já tinham trabalho feito e dinheiro angariado para a concretização das festividades.
Na aldeia do Lombo, no concelho de Macedo de Cavaleiros, por exemplo, por altura da festa, em maio, a mesma comissão se autonomeou para o próximo ano.
Delfim Pedro é da comissão de festas e explica que lhes pareceu ser a decisão mais justa:
“Não temos festa, mas como já temos algum dinheiro, é um pouco injusto passar o testemunho se nós já tivemos trabalho. Falámos um com os outros e ficou decidido que vai continuar a mesma equipa, tal como foi anunciado na missa. Já temos alguma base e quando nos for possível vamos trabalhar mais um bocadinho e realizar a festa 2021 se a Covid-19 nos deixar.”
Olhemos agora para um outro extremo da região transmontana.
A romaria da Nossa Senhora da Pena, em Sanguinhedo, Vila Real, conta anualmente com vários dias de festa e a parte religiosa é conhecida pela presença de andores com cerca de 22 metros de altura, que junta milhares de pessoas.
Todos os anos é organizada, de forma rotativa, por uma de onze aldeias que fazem parte e os preparativos começam logo em agosto do ano anterior.
Hilário Duarte é membro da comissão de festas deste ano, da aldeia de Aboboleira, e conta que já tinham praticamente tudo preparado:
“Mais ou menos no final de 2019 já tínhamos praticamente tudo organizado. Desde a parte musical, à organização. A DGS não deixa fazer a festa, assim como a Conferência Episcopal e nós temos de cumprir. Estamos a pensar fazer a missa no dia principal, sem pessoas presentes, com divulgação na internet. A freguesia de Mouçós e Lamares irá reunir para decidirem se poderemos fazer a festa no ano seguinte porque ainda não sabemos.”
Alguns exemplos da região que espelham a realidade vivida um pouco por todo o país.
Escrito por ONDA LIVRE
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