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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 23 de junho de 2020

As relações de proximidade entre Bragança e Zamora – O vaivém para as ceifas e vindimas

A agricultura de subsistência praticada no Concelho de Bragança não proporcionava aos seus naturais e residentes os rendimentos necessários para alimentar e vestir as respetivas famílias, e muito menos para comprar as sementes e alguns adubos para posteriores cultivos.


Nas aldeias, os trabalhos agrícolas, mesmo os que ocorriam nas chamadas “casas grandes”, pouco precisavam de mão-de-obra assalariada – “à jeira” como se dizia – pelo que a probabilidade de conseguir alguns rendimentos financeiros era muito improvável.
Com este pano de fundo, havia que descortinar mercados onde a mão-de-obra agrícola fosse necessária, minimamente remunerada, nem que para tal tivessem de deixar temporariamente a família e as poucas terras de cultivo.
Ali bem perto, do outro lado da fronteira, havia searas a perder de vista, na denominada Tierra del Pan.
Apesar de haver bastante oferta de força braçal na província de Zamora, a mesma não era suficiente para fazer as ceifas no tempo que os proprietários julgavam mais adequado. Paralelamente, não havia nessa altura maquinaria agrícola que pudesse substituir o homem, pelo que era sempre bem-vinda força de trabalho adicional.
Das aldeias bragançanas, sobretudo das raianas, continuando as migrações sazonais que vinham já do século XIX, saíam bandos de “jeireiros” para essas explorações espanholas, indocumentados, aí permanecendo normalmente ao longo de um mês, angariando uns parcos recursos que lhes permitiam sobreviver um pouco melhor.
Relatos orais, recolhidos nas aldeias de Guadramil, Petisqueira, Portelo e Montesinho, dão conta dessas incursões às ceifas na Tierra del Pan, falando os entrevistados de algumas dezenas de “jeireiros” de cada aldeia que anualmente demandavam aquelas paragens. Não foi possível quantificar minimamente quantos bragançanos saíam anualmente para as ceifas, nem tão-pouco ao longo de quantos anos decorreu esse fluxo. Foi-nos possível, contudo, perceber algum mal-estar dessas pessoas em relação a outros “jeireiros”, minhotos como os designavam, que igualmente demandavam aquelas paragens, fazendo baixar o valor da jeira, dado o aumento da oferta de mão-de-obra.
Este fluxo migratório temporário não era o único que partia das aldeias raianas de Bragança para o lado de lá da fronteira. Na província de Zamora havia também a chamada Tierra del Vino, com necessidades de mão-de-obra temporária, sobretudo na altura das vindimas. Era mais uma ocasião para aquelas e outras pessoas saírem, a “salto”, utilizando muitas vezes os “carreiros do contrabando” que bem conheciam, em busca de alguns meios financeiros que ajudassem de alguma forma a minorar as inúmeras carências de que padeciam.
Nas entrevistas realizadas em algumas aldeias raianas do Concelho de Bragança, foi possível saber, sem margem para grandes dúvidas, ser este o fluxo de saída preferido, por ser menos duro do que as ceifas e, regra geral, mais bem remunerado. Apurámos, igualmente, ser maior o número de “jeireiros” que procuravam este trabalho do que o das ceifas, mas sem conseguirmos uma ordem de grandeza minimamente fiável. Alguns depoimentos levaram-nos a concluir que este fluxo perdurou ao longo da década de 1950, terminando praticamente com as primeiras saídas para França e Alemanha nos anos de 1960-1974.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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