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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

UM TIRO NAS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Durante várias semanas escrevi sobre a pandemia provocada pelo SARS-Cov-2. Ansiando, tal como todos, pelo fim do confinamento para retomar a “normalidade”, era minha intenção fechar esse ciclo com uma crónica reservada ao tema que hoje vou abordar. Infelizmente, situações inesperadas e graves perante as quais não podia ficar calado, vieram adiá-la. Mais valendo tarde do que nunca, como diz o nosso povo, eis-me aqui a prestar o devido tributo ao livro de Manuel Cardoso: “Um tiro na Bruma” A Covid-19 entrou-nos porta dentro, de forma inesperada e devastadora e, com ela, entre outras, várias teorias da conspiração. Entre todas, a mais divulgada foi a da intencionalidade do seu aparecimento. Defendiam, a exemplo do presidente norte-americano e da trupe da Casa Branca, que o coronavirus tinha sido planeado e criado em laboratórios chineses, concretamente em Wuhan, onde apareceu pela primeira vez e onde há um instituto de investigação que, naturalmente, se dedica a estudar este tipo de epidemias por razões óbvias.
De pouco adiantaram as opiniões fundadas cientificamente, demonstrando a incapacidade tecnológica para realizar tal feito que, até hoje, não foi ainda possível levar a cabo: a fabricação de um organismo vivo diretamente na bancada em placas de Petri, ou reatores biológicos. Continuaram a insistir, teimando em atribuir causalidade a fenómenos que são naturais e, mais, não são inéditos. E, para além das evidências científicas, há o registo histórico. Para todos os que não queiram “lamber papel” à procura dos vários relatos, inseridos nos tratados de história, com especial enfoque, nos últimos séculos, melhor documentadas e factualmente suportadas, podem e devem ler, atentamente o romance do autor de Macedo de Cavaleiros.
Manuel Cardoso, depois de uma exaustiva pesquisa, sabedor da história familiar, conta a saga do seu avô, o médico Amadeu Cardoso, no início de século XX a braços com a mais mortífera das pandemias causada igualmente por um coronavirus, vindo do oriente, potenciada e agravada pela crise política no Portugal Republicano, com o regime ainda à procura da estabilidade, pela crise social resultante desta e acrescentada pelas nefastas consequências económicas resultantes da Primeira Guerra Mundial e ainda aprofundada, no nordeste, pela miséria crescente, pelo afastamento do litoral e pela escassez de tudo, alimentação, medicação e liderança regional. Está lá tudo! 
Leia-se o romance, esquecendo-se a datação histórica e as condicionantes da época, atualize-se e modernizem- -se os diálogos, expurgados do contexto da sua época e facilmente se ficará confundido pois haveremos de julgar- -nos cem anos depois no meio da crise sanitária que acabou de nos atingir. As recomendações do médico Amadeu “lavar muito as mãos, manter o distanciamento social, cuidar da alimentação e arejar os espaços interiores” e os lamentos da sua esposa clamando pela descoberta e divulgação de uma vacina, bem como a dramática incidência maior e mais profunda junto das comunidades mais pobres e desfavorecidas adequam-se em tudo ao tempo atual. Ora, Manuel Cardoso não tendo nem assumindo capacidades proféticas não podia antever, em 2007 que, mais de uma dezena de anos depois poderia assistir, ao vivo, à réplica de muitas das cenas e, sobretudo, das observações e recomendações por si descritas com base nas suas investigações e aturados estudos. 
Todos os que seguirem a minha sugestão, que vivamente recomendo, serão brindados com um enredo adicional de uma morte misteriosa, com uma lição de história regional e ainda com a brutalidade do tempo revolucionário onde a própria demência pode ser confundida com secreta conspiração contra-revolucionária onde o eucarístico Kyrie, que quase titulava a obra, é dramaticamente castigado.

José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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