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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 27 de junho de 2020

O Antirrepublicanismo em Bragança

A República em Bragança foi vivida, quase diariamente, de forma dramática, como em todo o norte do país. Se a fase final da monarquia nos trouxera a dinamite – utilizada em Dezembro de 1909 nas cocheiras episcopais – pelas mãos da maçonaria e da carbonaria, aqui articuladas por Alves da Veiga e Luz d´Almeida, a República proporcionou uma conflitualidade social permanente, só resolvida sob a ditadura.
O 5 de Outubro foi recebido de braços abertos por poucos republicanos, como Augusto Moreno (esquecido dicionarista bragançano), António Augusto Teixeira, Augusto Pires e poucos políticos da oposição à monarquia. Mas o poder local só efemeramente lhes pertenceu, andando sempre pela mão conservadora, muitas vezes aparentemente republicana e mais ou menos monárquica. Não é de estranhar, pois, que Bragança se transforme num centro de conspiração permanente contra a jovem República, em que as estruturas religiosas e militares se articulam e defenderão a sublevação e a guerra civil.
Logo em 1911 estas chefias se articulam para receberem de braços abertos a invasão nordestina de Paiva Couceiro, entrada pelo Portelo quando se comemorava, no Teatro Camões, o 1.º aniversário da República. A falta de apoio popular, a desorganização militar, o papel dos voluntários bragançanos obrigaram Paiva Couceiro a inflectir para Vinhais e, depois de rechaçados também aqui, para a linha de fronteira. Houve gente presa, nomeadamente alguns clérigos, mais tarde libertados por insurreição popular, em Macedo de Cavaleiros, optando alguns pelo exílio.
Em Bragança esta conspiração torna-se permanente, estrutura-se à volta do Paço Episcopal, de algumas chefias militares e de parte da elite conservadora da cidade e região e radicaliza-se ideologicamente, defendendo a luta armada e o terror dos atentados à bomba. Ainda em 1912 é capturada pela polícia a bandeira monárquica que, em Bragança, se passeava como símbolo da vontade antirrepublicana, assim como treze bombas de dinamite que, mais tarde, já em 1913, foram desarmadas. A primeira, e maior, a ser capturada foi entregue no Museu Municipal para documentação futura, mas será devolvida à polícia pelos medos propiciados pelo clima e ambiente bombista alarmantes criados à volta destas descobertas no Fervença – para além de outras adivinhadas em casas de particulares. Já em 1914, a tentativa de assalto deste organismo para a reconquista da bandeira monárquica apreendida, leva a que o seu dirigente, Albino Lopo, a transfira, com algumas moedas de ouro, para o Grupo de Metralhadoras, instalado no antigo Seminário e actual Centro Cultural.
Pouco depois do novo aniversário da República, a 19, foi praticada uma nova intentona – no dizer da época – comandada pelo coronel Adriano Beça, já anteriormente programada para o verão e adiada por causa do conflito europeu. Não teve a adesão militar que esperava, nem o levantamento das aldeias pelos párocos, conforme concertado, e, após algumas cenas algo caricatas, acabou por ser preso, conjuntamente com o seu criado, na pressa da fuga. Outras figuras ilustres conseguiram fugir, para Espanha obviamente, juntando-se às hostes de Paiva Couceiro…
O espírito conspirativo organizado mantém-se activo à espera de novas incursões monárquicas e rejubila com a implantação da Monarquia do Norte que, em Bragança, usufrui do poder durante 3 dias, de 21 a 23 de Janeiro de 1919, sendo 3 dias de perseguição e vinganças politicas, tanto nos republicanos que não puderam ou quiseram fugir, como sobre os seus bens e propriedades, sendo Governador Civil o coronel Leitão Bandeira, antigo membro do PRP de Bragança, mas afastado em 1915. Basta ver a lista das pessoas presentes no acto da sua posse como Governador Civil para se fazer ideia do peso do antirrepublicanismo em Bragança e do papel que algumas dessas figuras irão ter no Estado Novo, muitas delas primeiros aderentes do Partido Republicano Português em Bragança.



Por João Manuel Neto Jacob
in:jornalnordeste.com

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