(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Em Portugal há estranha hipocrisia, que leva a condenar todos, que tiveram a infelicidade de cair na desgraça.
Enquanto o político, o industrial, a figura pública, ocupa lugar de respeito, todos o bajula e admira.
Dizem alguns, com pontinha de inveja: “ É um grande homem! Subiu a pulso!”.
O Chefe do Estado apressa-se a cobri-lo de condecorações, a mass-media tece-lhe rasgados louvores, e o comum dos cidadãos rende-se ao dinheiro, afirmando: graças à “inteligência” e “saber”, tornou-se o orgulho da nação.
Mas, se por volte face, da fortuna, perde prestígio e dinheiro, os que o bajulavam, passam a descobrir-lhe defeitos. E os amigos, que se branqueavam na farta mesa, afastam-se, e declaram lastimosamente: “ Estávamos enganados ou enganaram-nos”.
Por vezes a “justiça”, da praça pública, é acompanhada pela judicial…
Descobre-se, então, o que há muito se conhecia ou suspeitava-se: cambalachos degradantes, mas que ninguém tinha coragem de os revelar.
Quem tem o pundonor de levantar a voz para dizer: crime!; quando o poderoso se encontra em cargo de relevo?
No Concilio de Trente, só o bom Arcebispo de Braga, teve coragem de censurar o comportamento dos cardeais, perante a estupefação de ilustres eclesiásticos e descendentes de honrados príncipes…
O que se passa em Portugal, ocorre, igualmente, na totalidade das nações.
A isso costumo chamar hipocrisia, para não apelidar de coisa pior.
Nas empresas, esse comportamento, verifica-se nos trabalhadores, lisonjeando o chefe, enquanto este se mantêm na graça da administração; uma vez retirado o tapete – como popularmente se diz, – escorrega e cai, e poucos são os que o defendem, a não ser correligionários, receosos de perder a proteção do camarada. Esse repugnante comportamento faz -me recordar a velha e relha história do leão moribundo:
Os animais da floresta visitam-no. Entre eles, o burro, que ao despedir-se, atira-lhe parelha de coices.
O leão quebrado, estertorante, exclama em voz dolorida:
- Também tu, reles animal! …
Quando o Rei Leão estava na pujança, todos o honravam e alegravam-se com sua companhia. Mas…
O Homem é o rei dos animais, mas é certamente o mais hipócrita.
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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