Desta vez, os dias tórridos só nos fazem sofrer ainda mais com a necessidade vital de manter um distanciamento triste, melancólico, quase sombrio, que nos dizem ser sacrifício para garantir futuros de verdadeira festa.
Que se vislumbre, não haverá outro remédio senão encarar a realidade com a serenidade possível, tendo em conta que, agora como nunca, as acções de cada um constituem responsabilidade inalienável, porque podem significar graves riscos para toda a comunidade, mais próxima ou mais longínqua.
Estamos a chegar ao mês de Agosto, tempo de reencontros, beijos e abraços, confraternizações, festas, ternuras e aventuras, propício à relativização dos excessos, porque, como sabemos, “a vida são dois dias”. Podemos estar perante um problema capaz de trazer dissabores que bem dispensávamos.
Vivemos uma situação que põe em causa a naturalidade da inter-relação nas nossas comunidades e, por isso, requer afectos contidos mas não pode apagar sentimentos.
Não vai ser fácil controlar emoções e já se vão conhecendo casos desagradáveis, que poderão multiplicar-se nas próximas semanas, se não houver cuidados de quem chega, mas também de quem por cá ficou, pessoas que, geralmente, integram os grupos de maior risco.
O pesadelo estará para durar. Só depois poderemos alimentar outros sonhos mais agradáveis. Por enquanto, por mais que doa, a feira, a romaria, a procissão, a comezaina, o baile, o jogo dos paus, o fito e a sueca devem esperar por outros Agostos, que também hão-de ficar memoráveis, a compensar esta tristeza que nos trocou as voltas.
Espera-se que um outro sonho mau não agrave a perturbação que vivemos. Já basta a peste, não precisamos que o fogo nos torre a paciência.
A tragédia de 2017 terá sido um patamar de descuido, desorganização e inépcia que não deveríamos aceitar repetir mas, pelos vistos, grande parte do país e os responsáveis políticos continuam à espera que se confirme a existência de divindades paternais, amoráveis, pressurosas e capazes de operar os milagres que nos salvarão.
A observação, mesmo superficial, do devir da humanidade aconselharia postura mais responsável, aliada à coragem de tomar medidas de gestão racional do território, sem concessões aos interesses do lucro imediato que nos queima as entranhas.
Bastaria reconhecer que, até há meio século, havia naturalmente fogos, mas nunca se conheceram tragédias como as que têm marcado as últimas décadas. Não se trata de voltar ao ruralismo da miséria, mas de gerir com inteligência os recursos que temos.
A propósito, vale a pena ter em conta o que diz o nosso entrevistado desta semana, sobre a cobertura vegetal de Trás-os-Montes e como nos terá livrado de maiores desgraças.
Teófilo Vaz
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