Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

O MISTÉRIO DO CONTO DO TOURO AZUL

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)


O meu livro de contos “Canto d’Encantos” começa á volta de um dos mais extraordinários contos, tão extraordinário quanto nunca fora ouvido mas muito falado nos recantos da minha aldeia onde nos juntávamos, quando crianças, para ouvir e contar contos, histórias, ditos e outras coisas que se diziam e escutavam, naquele tempo. Por maior e melhor que fosse a narração ali trazida, se entre os ouvintes estivesse o Eurico Abade, era certo e sabido que no final comentava sempre e sem qualquer exceção: “O mais bonito é o Conto do Touro Azul”. Quando todos ficávamos à espera que o Eurico partilhasse connosco tal prodigiosa narrativa, de forma passiva ou mesmo instando-o a dar início ao relato, éramos brindados com a mesma desculpa justificativa: “É muito grande! Eu não o sei... A minha tia Leontina é que o sabe contar bem...”
A esse propósito, recrio cenas e aventuras dessa época, umas reais outras adornadas de invenções e outros artifícios trazidos pelo tempo, imaginação e necessidade de tentar prender os leitores, mas, a verdade é que nada é acrescentado ao conto do Touro Azul porque, em boa verdade, por mais que tivesse feito e indagado, nada mais pude apurar. A tia Leontina morreu nova e a mais ninguém ouvi falar de tal conto nem mesmo a Filomena, irmã do Eurico e minha colega de escola, soube acrescentar, fosse o que fosse. Por isso mesmo ficou esse ensejo infantil plasmado no livro de contos onde, na primeira parte, revisito a Junqueira dos anos sessenta.
Estava agendado o lançamento da minha obra para a Feira do Livro de Lisboa quando o inesperado aparecimento da Covid 19 veio cancelar tal evento e, de acordo com o editor, decidimos fazer a apresentação do livro, na internet, através do Facebook, indicando quer a página da editora (Lema d’Origem) quer a do livraria virtual Wook, como locais de possível aquisição, confiando na acrescida utilidade de poder dispor da obra, em pleno confinamento, para amenizar a quarentena. Passados poucos dias recebi uma mensagem de texto do meu amigo António Cangueiro dizendo-me que precisava de falar comigo por causa do meu livro. Liguei-lhe e ele não esteve com rodeios, foi logo direto ao assunto: o conto do Touro Azul. Ao contrário de mim ele conhecia-o. Ouvira-o em criança à sua mãe, Maria Joaquina Garcia, mas não sabia de mais ninguém que igualmente dele tivesse integralmente conhecimento. Tanto assim que o publicara num livro editado pela Âncora Editora “Contas que a minha mãe me contava...” Mais, numa sessão de apresentação o saudoso e comum amigo Amadeu Ferreira dissera-lhe que o conto não é da nossa região. Ora como a mãe do António estivera a servir no Ribatejo, colocava-se a hipótese de ter sido a sr.ª Maria Joaquina a trazê-lo para o nordeste. Contudo havia aí algumas pontas soltas que não encontraram logo nó: que se soubesse, nem a tia Leontina fora alguma vez a Bemposta, nem a mãe do António visitara a Junqueira. “Mas esteve no Felgar, durante alguns anos” – informou o meu amigo. Tratei, obviamente de averiguar, junto da Filomena quais as possíveis ligações da sua tia a esta freguesia do nosso concelho de Moncorvo. “Nenhumas...” Ora bolas.. “Mas...” “Mas...?” agarrei-me de imediato à adversativa. A tia Leontina não, mas o tio Eugénio (cunhado da Leontina) tinha família no Felgar...
Mistério desfeito.
Partilhei a solução com o António Cangueiro, depois, obviamente, de ter adquirido o seu livro e, não há a mínima dúvida, o Eurico tinha toda a razão: Lindo, lindo é o conto do Touro Azul.
Tem lá tudo o que de mágico e fantástico um conto pode ter... Por isso é tão lindo. E por isso é tão grande. E, talvez por isso, apenas a tia Leontina e a sr.ª Maria Joaquina soubessem contá-lo todo e bem. Felizmente o António registou-o e publicou-o.


José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

Sem comentários:

Enviar um comentário