Foto de Artur Pastor”. Vindima, décadas de 50/60. |
No Alto Douro vinhateiro, terra de rio, vinho e gente, a frase “andar aos cestos” significou em tempos, mais coisa menos coisa, até há duas décadas, algo de sublime pela obra que se ergueu e hercúleo e pelo esforço que era colocado em semelhante tarefa.
Naquele mundo de inquebrantáveis onde o suor escorria em bica para se dar em prova divinais néctares, começar a andar na vindima a carregar cestos, significava que um rapaz se fazia homem de barba rija. Deixava de ser moço, para ser adulto com direito a comer batatas com bacalhau para ser forte.
Ao ser capaz de descer sem arrear, carregado com um cesto vindimo cheio com uvas montanha a baixo, ou valada adiante, significava que se era robusto e trabalhador e absolutamente capaz de garantir sustento da mulher já conquistada ou a conquistar, e de mais a filharada que viesse a nascer.
Foi assim e com mais um alargado conjunto de tarefas desenvolvidas por gente de muito sacrifício, alimentada a côdeas de pão seco e vinho mau que hoje se não beberia porque o do pipo do patrão, era para o patrão, que se britaram fraguedos e se construíram jardins suspensos onde antes havia silvados e outra natureza selvagem.
Homens, mulheres, rapazes e raparigas, foram capazes de a embelezar e de a granjear ao ponto se não vislumbrar nesga de selva em todo o território que parecia condenado a não dar coisa que se visse ou que prestasse. Pelo menos para já, é uma beleza, depois, se verá, pois, o futuro a Deus pertence.
Poucos imaginam hoje em dia e poucos falam, do esforço que os nossos antepassados fizeram para agora nos encantarmos e maravilharmos pessoas de todos os cantos do mundo. Não sabemos ou não queremos, mas é pena, pois além de ser absolutamente justo, seria ou será perfeitamente algo de rentável.
Contar aos aborrecidos turistas que nos visitam a história e as estórias de como tudo este mundo foi construído, é necessário, imperativo mesmo, e recomenda-se. Urge que se saiba das memórias, e se perpetue o legado antes que a espuma dos dias sonegue o valor que tivemos e a justiça que merecemos.
Não basta mostrar aos visitantes recantos bonitos e vinhos deliciosos, pois isso ajuda, mas não faz a diferença num tempo em que se buscam antes de tudo as emoções. São elas que ficam na memória depois do regresso ao quotidiano. Por mais simples que se afigurem. É do exclusivo, que fica o que se leva depois de tudo o que se deixou e experimentou.
Andar aos cestos, moldou gerações de homens. Significou toda uma forma de vidas passadas em redor das vides. Temos de o fazer saber, para que se saiba quem somos.
Mais não seja, para que não andemos de balde aos baldes feitos trouxas que andam aos papeis.
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