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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Andar aos cestos

Foto de Artur Pastor”. Vindima, décadas de 50/60.
Assim como se costuma dizer que uma imagem vale por mil palavras, também se poderá dizer que há frases ou palavras que mesmo curtas e simples, simbolizam elas próprias, todo um mundo construído e a construir.

No Alto Douro vinhateiro, terra de rio, vinho e gente, a frase “andar aos cestos” significou em tempos, mais coisa menos coisa, até há duas décadas, algo de sublime pela obra que se ergueu e hercúleo e pelo esforço que era colocado em semelhante tarefa.

Naquele mundo de inquebrantáveis onde o suor escorria em bica para se dar em prova divinais néctares, começar a andar na vindima a carregar cestos, significava que um rapaz se fazia homem de barba rija. Deixava de ser moço, para ser adulto com direito a comer batatas com bacalhau para ser forte.

Ao ser capaz de descer sem arrear, carregado com um cesto vindimo cheio com uvas montanha a baixo, ou valada adiante, significava que se era robusto e trabalhador e absolutamente capaz de garantir sustento da mulher já conquistada ou a conquistar, e de mais a filharada que viesse a nascer.

Foi assim e com mais um alargado conjunto de tarefas desenvolvidas por gente de muito sacrifício, alimentada a côdeas de pão seco e vinho mau que hoje se não beberia porque o do pipo do patrão, era para o patrão, que se britaram fraguedos e se construíram jardins suspensos onde antes havia silvados e outra natureza selvagem.

Homens, mulheres, rapazes e raparigas, foram capazes de a embelezar e de a granjear ao ponto se não vislumbrar nesga de selva em todo o território que parecia condenado a não dar coisa que se visse ou que prestasse. Pelo menos para já, é uma beleza, depois, se verá, pois, o futuro a Deus pertence.

Poucos imaginam hoje em dia e poucos falam, do esforço que os nossos antepassados fizeram para agora nos encantarmos e maravilharmos pessoas de todos os cantos do mundo. Não sabemos ou não queremos, mas é pena, pois além de ser absolutamente justo, seria ou será perfeitamente algo de rentável.

Contar aos aborrecidos turistas que nos visitam a história e as estórias de como tudo este mundo foi construído, é necessário, imperativo mesmo, e recomenda-se. Urge que se saiba das memórias, e se perpetue o legado antes que a espuma dos dias sonegue o valor que tivemos e a justiça que merecemos.

Não basta mostrar aos visitantes recantos bonitos e vinhos deliciosos, pois isso ajuda, mas não faz a diferença num tempo em que se buscam antes de tudo as emoções. São elas que ficam na memória depois do regresso ao quotidiano. Por mais simples que se afigurem. É do exclusivo, que fica o que se leva depois de tudo o que se deixou e experimentou.

Andar aos cestos, moldou gerações de homens. Significou toda uma forma de vidas passadas em redor das vides. Temos de o fazer saber, para que se saiba quem somos.

Mais não seja, para que não andemos de balde aos baldes feitos trouxas que andam aos papeis. 

Manuel Igreja

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