Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
O nome dado a esta singular Avenida é o do construtor João da Cruz que fez a inédita façanha de assentar carris até ao burgo mais distante da capital do Reino, (a poder de muito poder) e os pares encarregados da toponímia da Cidade, com todo o bom senso e reconhecimento da façanha decidiram votar sim.
Outros mais recentemente andaram pela cidade a colocar placas toponímicas sem que tivessem bem a noção das qualidades que é necessário reunir para que se mereça ter o nome no início e no fim de qualquer Rua que recém construída ou velha e relha sejam merecedoras de serem nomeadas com o nome de alguém que para tal tenha estaleca que chegue.
Houve a feliz ideia mais que merecida de mandar fundir em bronze, placa notável que continua afixada na parede da velha Estação para dar notícia que ali tinha chegado o comboio, cinquenta anos após a sua chegada ao Carregal vindo de Lisboa. Fator de progresso científico que prometia aproximar os povos, mas que serviu mais para o levar para a diáspora que nos foi destinada, porque sim e ninguém nos mandou nascer neste Reino Maravilhoso que já não nos roía a saudade e passássemos o tempo que estivemos lá a remoer para apressarmos a volta. Os que regressaram encontraram os lugares com pouca gente e a vida cara porque nunca ninguém teve muita vontade de fazer cálculos para estancar este sorvedouro de gente, que hoje até os doutores e outros licenciados leva.
Pois bem foi neste intervalo de tempo que mediou entre o fim da segunda guerra e a década de oitenta que por Bragança passaram milhares de homens e mulheres a salto, que é como quem diz ilegalmente, o que configurava a maior hipocrisia já que legalmente era quase impossível obter passaporte já que o Estada só o atribuía aos ricos e quem mais necessitava dele eram os pobres.
Mas voltemos ao que interessa e é desfolhando páginas da memória que vamos dar com gente que o comboio trazia e outra vinda de autocarro ou qualquer transporte e se faziam à cidade onde estabeleciam contacto com os passadores que lhes cobravam uma pequena fortuna para os passarem na raia e em milhentos casos, por força da Acão da PIDE e as outras polícias portuguesas e a perseguição da Guardia Civil em Espanha lhe tolhiam o passo e os faziam regressar, para quando após o regresso forçado, de novo repetirem a ousadia que repetiam até à passagem definitiva que só era concretizada após a sua entrada em Paris e a maioria fosse alojado no Bidon Ville de onde saíram mais tarde de cabeça levantada e com francos suficientes na bolsa, ganhos nos trabalhos mais duros e de complexidade técnica para os quais só lá receberam formação.
Era nos cafés e tavernas da Avenida João da Cruz sim na Avenida nomeada após a morte acidental no comboio na Estação de Salsas de um português que morreu falido mas que construiu a linha de caminho de ferro que trouxe esta gente a Bragança e que lhes abriu a porta de estações de outros comboios e trens que lhes proporcionaram uma vida digna nos países em reconstrução.
Desde a Taverna do Humberto e António Júlio onde comiam uma sopa e uma posta de côngruo e um copo de tinto e ficavam saciados até à Taverna do Inocêncio e aquela outra com ligação à Guerra Junqueiro onde um dia se consumou um suicídio de uma mulher desesperada, dita do Reis pai do Calisto, creio, não faltavam "bufos e Pides" à cata dos passadores que lhes comiam a sopa na cabeça e os ludibriavam com a mestria de profissionais, mas que não podiam evitar a canseira de subir e descer montes e veredas, dormir ao relento e sempre com o credo na boca.
Foi na Avenida que este drama foi vivido pelos que o Governo e "sus muchachos" apelidavam de desertores mas que foram os que com as suas remessas religiosamente depositadas nos bancos portugueses, ajudaram o país a equilibrar as contas do Tesouro e a conseguir um crescimento de 05% ao ano.
Com o avançar dos anos sessenta a vida, por força dos emigrantes e outras algumas razões, foi melhorando e assistiu-se a um aumento da capacidade hoteleira e houve um Restaurante que nomearam de “O Transmontano” que era dirigido pelo Snr. Armando em sociedade com dois cunhados que se transformou num sucesso pois captou a fidelidade da maioria daqueles que já sendo da classe média chamavam aqueles que como operários tinham salários mais condizentes e também muitos estudantes que ali gastavam o dinheiro que recebiam de mesada. Foi um sucesso dada a classe profissional do Snr. Armando e a fidelidade dos familiares que trabalhavam na cozinha, as esposas e os homens ao balcão e às mesas. O Maioral, cérebro da máquina era o Snr Armando.
No Café Avenida parava uma classe mais dedicada à produção agrícola e muita gente da Cidade que fizeram desta casa uma máquina sob a batuta da Dona Maximina e do Senhor Coelho dois profissionais formados em Lisboa que chegaram a Bragança, viram e venceram. Anos depois passaram o Café Avenida a gente de Ousilhão cujos filhos se chamavam David e João e dos quais fui amigo. Poucos anos depois o casal Maximina/Coelho regressou e abriu o Café Lisboa que algum tempo depois passaram ao Álvaro do Flórida que pôs o irmão Manuel como gerente e que manteve a casa sempre bem afreguesada.
Nos anos a que me refiro não existia a Pastelaria Tropical, nem BigBobs, aí esteve o Leal anteriormente, nem o hoje famoso Príncipe Negro aí era o estabelecimento do Marcolino Moreno grande comerciante da Cidade.
As famílias que viviam na Avenida não as consigo enumerar mas nomeio D. Laura Torres e família, Senhor Setas, Dr. Mós, Dr. Seixas e esposa e onde é o B P I morava a D. Beatriz Monteiro, professora do meu tempo de Escola e mestra dos meus irmãos, Rui e Marcelo.
Outros mais recentemente andaram pela cidade a colocar placas toponímicas sem que tivessem bem a noção das qualidades que é necessário reunir para que se mereça ter o nome no início e no fim de qualquer Rua que recém construída ou velha e relha sejam merecedoras de serem nomeadas com o nome de alguém que para tal tenha estaleca que chegue.
Houve a feliz ideia mais que merecida de mandar fundir em bronze, placa notável que continua afixada na parede da velha Estação para dar notícia que ali tinha chegado o comboio, cinquenta anos após a sua chegada ao Carregal vindo de Lisboa. Fator de progresso científico que prometia aproximar os povos, mas que serviu mais para o levar para a diáspora que nos foi destinada, porque sim e ninguém nos mandou nascer neste Reino Maravilhoso que já não nos roía a saudade e passássemos o tempo que estivemos lá a remoer para apressarmos a volta. Os que regressaram encontraram os lugares com pouca gente e a vida cara porque nunca ninguém teve muita vontade de fazer cálculos para estancar este sorvedouro de gente, que hoje até os doutores e outros licenciados leva.
Pois bem foi neste intervalo de tempo que mediou entre o fim da segunda guerra e a década de oitenta que por Bragança passaram milhares de homens e mulheres a salto, que é como quem diz ilegalmente, o que configurava a maior hipocrisia já que legalmente era quase impossível obter passaporte já que o Estada só o atribuía aos ricos e quem mais necessitava dele eram os pobres.
Mas voltemos ao que interessa e é desfolhando páginas da memória que vamos dar com gente que o comboio trazia e outra vinda de autocarro ou qualquer transporte e se faziam à cidade onde estabeleciam contacto com os passadores que lhes cobravam uma pequena fortuna para os passarem na raia e em milhentos casos, por força da Acão da PIDE e as outras polícias portuguesas e a perseguição da Guardia Civil em Espanha lhe tolhiam o passo e os faziam regressar, para quando após o regresso forçado, de novo repetirem a ousadia que repetiam até à passagem definitiva que só era concretizada após a sua entrada em Paris e a maioria fosse alojado no Bidon Ville de onde saíram mais tarde de cabeça levantada e com francos suficientes na bolsa, ganhos nos trabalhos mais duros e de complexidade técnica para os quais só lá receberam formação.
Era nos cafés e tavernas da Avenida João da Cruz sim na Avenida nomeada após a morte acidental no comboio na Estação de Salsas de um português que morreu falido mas que construiu a linha de caminho de ferro que trouxe esta gente a Bragança e que lhes abriu a porta de estações de outros comboios e trens que lhes proporcionaram uma vida digna nos países em reconstrução.
Desde a Taverna do Humberto e António Júlio onde comiam uma sopa e uma posta de côngruo e um copo de tinto e ficavam saciados até à Taverna do Inocêncio e aquela outra com ligação à Guerra Junqueiro onde um dia se consumou um suicídio de uma mulher desesperada, dita do Reis pai do Calisto, creio, não faltavam "bufos e Pides" à cata dos passadores que lhes comiam a sopa na cabeça e os ludibriavam com a mestria de profissionais, mas que não podiam evitar a canseira de subir e descer montes e veredas, dormir ao relento e sempre com o credo na boca.
Foi na Avenida que este drama foi vivido pelos que o Governo e "sus muchachos" apelidavam de desertores mas que foram os que com as suas remessas religiosamente depositadas nos bancos portugueses, ajudaram o país a equilibrar as contas do Tesouro e a conseguir um crescimento de 05% ao ano.
Com o avançar dos anos sessenta a vida, por força dos emigrantes e outras algumas razões, foi melhorando e assistiu-se a um aumento da capacidade hoteleira e houve um Restaurante que nomearam de “O Transmontano” que era dirigido pelo Snr. Armando em sociedade com dois cunhados que se transformou num sucesso pois captou a fidelidade da maioria daqueles que já sendo da classe média chamavam aqueles que como operários tinham salários mais condizentes e também muitos estudantes que ali gastavam o dinheiro que recebiam de mesada. Foi um sucesso dada a classe profissional do Snr. Armando e a fidelidade dos familiares que trabalhavam na cozinha, as esposas e os homens ao balcão e às mesas. O Maioral, cérebro da máquina era o Snr Armando.
No Café Avenida parava uma classe mais dedicada à produção agrícola e muita gente da Cidade que fizeram desta casa uma máquina sob a batuta da Dona Maximina e do Senhor Coelho dois profissionais formados em Lisboa que chegaram a Bragança, viram e venceram. Anos depois passaram o Café Avenida a gente de Ousilhão cujos filhos se chamavam David e João e dos quais fui amigo. Poucos anos depois o casal Maximina/Coelho regressou e abriu o Café Lisboa que algum tempo depois passaram ao Álvaro do Flórida que pôs o irmão Manuel como gerente e que manteve a casa sempre bem afreguesada.
Nos anos a que me refiro não existia a Pastelaria Tropical, nem BigBobs, aí esteve o Leal anteriormente, nem o hoje famoso Príncipe Negro aí era o estabelecimento do Marcolino Moreno grande comerciante da Cidade.
As famílias que viviam na Avenida não as consigo enumerar mas nomeio D. Laura Torres e família, Senhor Setas, Dr. Mós, Dr. Seixas e esposa e onde é o B P I morava a D. Beatriz Monteiro, professora do meu tempo de Escola e mestra dos meus irmãos, Rui e Marcelo.
Bragança 19/08/2021
A O dos Santos
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