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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

UM HOMEM DE PESO

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Quando as ruas das nossas cidades eram rigorosamente vigiadas, sacudir, para a via publica: tapetes, carpetes... e até simples pano de pó,  era expressamente proibido.
Quem não cumprisse a Lei, sofria pesada multa.
Meu pai, devido à doença, que vitimou minha mãe, contratou criadita, para realizar o meneio da casa - casarão de alforge com dez quartos! - Reservou, porém, à esposa, a alegre tarefa de confecionar as refeições.
Apesar de avisada, esta, habituada a lidar em moradias da província, sacudia descuidadamente, tudo ou quase tudo, à janela, sem se preocupar com quem passasse no passeio.
Certa ocasião, ao sacudir o pano de pó, não reparou, que bem defronte ao prédio, estava, parado um polícia dos antigos, daqueles que não perdoava a multazinha...
O guarda logo interrogou a vizinhança, com o fim de se inteirar da atrevida. Disseram-lhe que a casa era do Senhor Máriozinho...
- Máriozinho quê?! "- Interrogou o janízaro.
- Não sabemos - responderam as mulheres.
Mas, a mais expedita informou: que o Senhor Manuel, dono da mercearia devia saber.
Todo lampeiro, o polícia entrou na loja, de nariz empinado.
O senhor Manuel ouviu-o atentamente e informou-o:
- É o senhor Mário Pinho. Homem de peso; e muito considerado...
- " É homem de peso ?! - Interrogou o agente de autoridade, estampando no rosto, expressão de receio.
- Sim: e até escreve nos jornais!...
- "Ah! muito obrigado...Muito obrigado. Se é homem de peso e escreve, é melhor esquecer a multazinha...
Mais tarde, meu pai, ao conhecer o diálogo travado com o merceeiro, comentava, sentado à mesa oval, de mogno polido, onde tomávamos as refeições:
- " Realmente sou homem de peso... Peso oitenta e dois quilos..."
Assim se livrou da multa.
Somos todos iguais - dizem os entendidos, - mas há uns, mais iguais, do que outros...
A lei é para todos. A justiça é cega... Mas, já dizia o nosso clássico Padre Manuel Bernardes:
" As leis são como as teias de aranha. Se cai nela uma pedra, rompe-a, e fica ilesa; se cai nela a mosca, fica presa, e paga o seu descuido ou atrevimento. Assim os grandes zombam das leis, e o castigo de se quebrarem, fica só para os pequenos."

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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