Uma tradição de rituais que marcam a entrada na estação escura, o inverno, transformou-se, nos últimos anos, numa atração que chama centenas de pessoas à aldeia do distrito de Bragança, com cerca de 20 habitantes permanentes.
Depois da paragem forçada pela pandemia, a pequena localidade volta a “vestir-se novamente de misticismo e magia e é invadida por trasgos, deusas e druidas e outras figuras fantásticas como o diabo e o druida”, como divulgou hoje a organização, a cargo da Associação Raízes d`aldeia de Cidões.
A festa ganhou o nome da cabra, por ser a base da refeição servida nessa noite e cozinhada em potes ao lume, na fogueira acesa, no largo da aldeia, e alimentada pelo canhoto, o tronco de madeira.
A associação e festa têm sido dinamizadas pelos “filhos da terra”, mas a dimensão que a festa tem alcançado “aumentou as exigências” e levou à “profissionalização” que, nesta edição, se traduz na encenação feita por grupos profissionais.
O arranque dos das atividades acontece com um cortejo celta, com todas as pessoas da aldeia, o grupo de animação de Santa Maria da Feira Aninamos, onde atuam os Trasgos, o Teatro Filandorra e os grupos de Gaitas de Fole e bombos Encharca o Fole e Gaiteiros de Zido.
O antigo largo da Eira é o palco principal, este ano com “um espaço maior e devidamente preparado” para receber os visitantes.
“Todos os anos recebemos mais de duas mil pessoas, acreditamos que este ano não será diferente”, apontou o presidente da Associação, José Taveira.
Toda a aldeia é decorada com motivos celtas, velas e estrelas flamejantes para receber os visitantes que encontram várias tasquinhas, numa tenda, com bebidas e petiscos tradicionais variados.
Em volta da fogueira será possível degustar a cabra e, no final da noite, assistir à queima do “cabrão” , uma figura escultórica de sete metros de altura produzida por Luís Canotilho e alunos da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança.
O druida e as deusas fazem, depois, o esconjuro e preparam a queimada, “um dos momentos altos da festa, afastando os males do corpo e da alma, invocando prosperidade, fertilidade e sorte para a “estação escura” o inverno frio que se avizinha”, como é descrito pela organização.
A queima “desperta a ira do diabo que, pouco mais tarde, há de descer pela aldeia, em cima de um carro de bois, puxado pelos rapazes da terra, com as tarraxas bem apertadas, que chia assustadoramente”.
Como reza a lenda, o diabo acaba expulso da aldeia até ao próximo ano e os presentes ficam protegidos de todos os males, inveja, azares e má sorte, pois “quem da Cabra comer e ao Canhoto se aquecer, um ano de muita sorte irá ter”.
Já de madrugada, num ritual reservado aos filhos da terra, a aldeia será virada do avesso.
De acordo com os promotores, esta festa, “originalmente designada de “Samhain” era a comemoração celta mais importante sendo celebrada em toda a Europa, até à sua conversão ao cristianismo”.
“A celebração com a designação de “Festa de Samhain” passou a chamar-se “noite das Bruxas ou Halloween” em todo o mundo, mas em Cidões sempre “Festa da Cabra e do Canhoto”, garantem.
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