terça-feira, 25 de outubro de 2022

Sinto

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)

Sinto o vento no rosto dos meus sonhos. 
O vento mudo, quieto, que me fala de todos os silentes murmúrios evocados pela substância do tempo. 
A terra, serena, olha-me escondida no seu canto. E sou criança ainda nos dias destas paisagens interiores em que me refresco e refaço, para um amanhã que, solto, virá. 
Escuto um poema que me fala apenas de mim. Diz-me, livre, que sou mulher e menina de tantas saudades…
Sinto. 
Sinto os braços da natureza a suspirarem-me a profundidade das vozes no acordar de cada sol. 
Dentro nasce um nome, uma chama incerta e vagarosa a dançar, em pétalas secretas, diante dos meus olhos que se fecham como pálpebras adormecidas na constância líquida de um silêncio antigo que ainda desconheço.
Depois da viagem, pródiga, regresso aos meus braços. Trazem-me a luz de cada momento. Ouço-a brilhar no sentir dos meus olhos feitos dessa vontade de me estender, inteira e verdadeira, sobre um céu corado de cinza e ouro.
Engrandece-me este assombroso mistério de um esfíngico destino a aguardar o instante de ir mais além, quando me ergo na mão apaixonada de um só verso.


Paula Freire
- Psicologia de formação, fotografia e arte de coração. Com o pensamento no papel, segue as palavras de Alberto Caeiro, 'a espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias'.

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