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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

A Bedford

 As coisas que temos em volta, inertes ou utilizáveis, naturais ou resultado da ação e do engenho humano, antes de tudo têm o valor que uma pessoa lhes quer dar.
Algo que para uns é um mero instrumento de trabalho, ou um mero pedaço de material sem préstimo, para outros assume particular função e muito específico simbolismo. Quando assim acontece, essa coisa distingue-se ao ponto de fazer parte da identidade individual e/ ou coletiva em termos de comunidade.
Passa a ser pedaço integrado na cultura. Tudo isto e antes de mais pois o assunto tem de rolar, é o caso das camionetas de marca Bedford que no Douro vinhateiro eram veículos que Deus os dava, num modo de dizer, pois só quem as adquiria as tinha.
Há cerca de quarenta ou cinquenta anos metidos que foram os bois na loja, eram elas quem pontuava no carrego do que havia para acartar no Douro. Para acartar uvas para o lagar, para levar o pessoal para as vinhas, para carregar pipas ou cisternas com vinho para onde fosse necessário, a camioneta Bedford era uma valente. Ronceira, mas plena de força. Quase isenta de avarias já tidas ou a ter.
Havia outras de outras marcas, mas por quem sóis, esta é que era. Os anos foram passando, foram sendo substituídas pelas outras mais modernas e mesmo mais cómodas, foram quase esquecidas, mas num repente, advindas e carregadas com a nostalgia que sempre se sente das coisas boas, começaram de novo a surgir por aí. De um modo geral saíram da penumbra das garagens e dos telheiros onde foram recolhidas para surgiram aos nossos olhos todas pimponas.
Pintadinhas de novo, lustrosas, como se fossem para o baile da paróquia, ou para alguma concentração de veículos já tido como clássicos pela idade e pelo charme. Com classe.
Mas não julguem que as Bedford que circulam ainda agora, se ficam pelo passeio de quem não tem mais nada para fazer. Não senhor.
Basta estar-se um pouco atento, e logo elas se vêm na labuta árdua de quem foi feito, para trabalhar nas coisas da lavoura. Já com idade para estarem enferrujas porque a idade não perdoa, andam por estradas e caminhos provando que estão aí para as curvas desde que haja algum cuidado como se impõe por parte de quem tem algum juízo.
Mais garridas de cor ou mais discretas conforme o gosto de seu dono, roncam, mas seguem para cima e para baixo, para a direita e para a esquerda. Por monte e vales. Na superior atividade que é o turismo feito vindima permanente, a camioneta Bedford virou trunfo e merece atenção. Acrescenta charme ao que é belo e não falta quem pague e sem encante para andar nela ao jeito do pessoal das rogas de antigamente.
Pelo que foi a Bedford passou a ícone no Alto Douro vinhateiro.
Surgiu de uma invenção e da técnica dos homens, mas foi por eles elevada ao olímpio onde estão acolhidos os pequenos deuses desta terra de rio, de vinho e de gente.
Nestes tempos de modernidade é um gosto ver-se que sabemos valorizar as memórias que nos chegam da obra feita e sentidas porque nos fazem vibrar as cordas da alma.

Manuel Igreja

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