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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

A chuva e a seca

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Domingo de Outubro em Bragança e um desejo enorme de viver. O céu dá-nos a bênção de uma manhã temperada e chuvosa.
Quantas vezes durante os meses de Agosto e Setembro o meu pensamento foi dirigido para um tempo ameno que viria mais tarde e me desse a calma e o bem-estar que só Outubro traz no seu cinzento acetinado. A natureza é como as mães que dão a sua vida e o seu carinho, sempre que as forças cósmicas fazem que a vida se apresente mais dura e o descanso necessário ao bem-estar nos falta e nos sentimos fora do nosso conforto e em que a natureza amena nos abandona e nem os luxos do ar condicionado são suficientes para nos relaxar.
É tempo de serena vontade de viver, o céu não cospe labaredas e a criação regressa à paz que nos sossega e nos faz mais humanos e complacentes. A passarada muda de estratégia e já não é castigada pelo rigor dos dias grandes com calor, que a fazia esconder debaixo da folhagem seca e mirrada pela falta de chuva. A criação está alerta e pressente um período de lazer e conforto que só vem com o Outono.
Dos versos que o homem fez, destacam-se alguns que eu aprendi no tempo da minha meninice e que preencheram a minha Alma que conservadora, nos relembra quando o tempo próprio chega e eu sinto a paz que o Outono me dá.
Era no Outono que reabriam as Escolas e se enchiam da garotada que cansada da canícula, que parecia eterna, daria lugar a outras tarefas que se coadunavam com o tempo fresco e que nos abria o espírito às coisas espantosas que a Senhora Professora sabia e caprichava em ensinar-nos. "Os calções davam lugar a calças que usávamos e que nos faziam sentir mais crescidos, na senda dos nossos pais que ao domingo se vestiam com aprumo, celebrando-o com elegância, indo à missa de calça vincada e casaco de golas largas por cima de camisa branca, bem passada a ferro e de gravata.
O Outono que nos acalmava, dava-nos a serenidade que nos fazia mais obedientes e nos tornava mais toleráveis ao juízo das nossas mães que ganhavam o tempo precioso que usavam para fazerem a marmelada que naquela estação abria o apetite da petizada que ainda hoje conta estórias que mostram como cada um de nós utilizava estratagemas para comer a marmelada do fundo da tigela que estava à janela a secar debaixo do papel vegetal que comprávamos na Papelaria Silva e que depois de o riscarmos com lápis seguindo a circunferência da boca era colada ao topo para não secar em demasia. Era também em Outubro que se iniciava a safra das castanhas que naquele tempo sem televisão tornava os serões alegres e agregadores de sentimentos de pertença e motivo de narração de contos, os mais incríveis que eram fascinantes e os mais velhos ouviam pela milésima vez e a criançada pedia ao contador que repetisse.
O sol de Outono diz-se: não ter calor, mas diz-se também que possui poentes de céu rubro e manhãs de luz risonhas e nada se compara ao Outono para nos refrescar do Verão e nos preparar para o Inverno. O mês de Outubro na terra transmontana é como um "céu aberto" que se nos dá à contemplação da Natureza tomada de cores e serenidade. A paisagem transforma-se e dá -nos quadros que nem os maiores da pintura conseguem reproduzir na sua totalidade, já que o momento mostrado pela cor na tela nos dá apenas o captado num certo momento e não a autêntica metamorfose que sofreu a manhã quando a tarde surge. Os verdes já são amarelos e as outras cores seguem o percurso que lhe confere um prodígio de tons que só vendo tranquilamente se consegue justificar.
Das quatro estações que Deus escolheu para que nós tivéssemos a ventura de as viver e usufruir é o Outono aquela que mais me agrada viver e que mais luz lança no meu espírito.
Falei no princípio desta crónica na poesia de Outono que me deliciou na minha juventude e da qual continuo a gostar. Vou tentar passar para vós um poema musicado, interpretado por Maria Clara, uma das vozes maiores da música portuguesa e que eu adorava ouvir. A letra foi escrita por Silva Tavares e a música por António Melo.

Quando chega o doce Outono
Todo o Sol perde a beleza 
E abençoa do seu trono 
Toda a terra portuguesa

Foi à plena claridade
Desta bênção que talvez 
Deu o brado da saudade 
O primeiro português

Com poentes de céu rubro
E manhãs de luz risonha 
Não há mês como o de Outubro 
Não há mês como o de Outubro
P' ra quem ama e p' ra quem sonha

Outubro não tem rival 
E é preciso que se diga 
Que o Abril em Portugal 
Que o Abril em Portugal 
Não é mais que uma cantiga.



Bragança, 24 de outubro de 2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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