sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Indústria de laticínios critica aposta em nómadas digitais para ocupar o Interior

 “Não é com nómadas digitais que vamos assistir à inversão dos fluxos populacionais em direção ao litoral e às cidades”, frisam os industriais de laticínios. Está em causa a “autossuficiência do país".


O presidente da Associação Nacional dos Industriais de Laticínios (ANIL) defendeu esta sexta-feira a relevância do setor lácteo para a economia nacional, em particular nas áreas geográficas em que se encontram os maiores polos de produção leiteira e de transformação industrial, notando ser “determinante para um país onde se pretende promover a fixação da população nas zonas agrárias e do interior, invertendo ou reduzindo os fluxos migratórios para o litoral e para as cidades”.

“Com o devido respeito pelas novas tendências de trabalho geradas pela pandemia e potenciadas pela recente evolução nas tecnologias de comunicação, não é com os nómadas digitais que vamos assistir à inversão dos fluxos populacionais em direção ao litoral e às cidades. É, sim, com a criação de condições para a sustentabilidade da produção e a geração de valor em setores como o dos laticínios”, declarou Manuel Casimiro de Almeida.

Na abertura do Encontro Nacional de Laticínios, que vai decorrer durante todo o dia na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto, o líder dos industriais falou das “grandes dificuldades” colocadas pela subida dos preços da energia, da alimentação animal ou dos adubos num setor em que a cadeia de valor opera com “margens de comercialização muito exíguas”. E disse mesmo que “a sobrevivência do setor da exploração leiteira está em causa”, pois quando encerra uma exploração, normalmente o produtor não retorna a essa atividade.

“A autossuficiência do país no que respeita aos laticínios está em causa e, consequentemente, a soberania alimentar nacional. E, como se verifica noutros setores de atividade mundial, este tema de autossuficiência ou de dependência económica de países terceiros não é propriamente uma questão menor”, dramatizou Manuel Casimiro de Almeida.

No caso da indústria, particularizou o mesmo responsável, aos desafios estruturais como a inovação, a sustentabilidade, as tendências de consumo e a concorrência externa, junta-se agora a “questão problemática da absorção dos incrementos enormes de preços decorrentes do atual processo inflacionista e a capacidade de os repercutir nos preços de venda finais”.

“A subida exponencial do preço de aquisição do leite em natureza pela indústria ao produtor, os custos energéticos e de distribuição, a subida das taxas de juro, colocam sérios problemas de rendibilidade e sustentabilidade económica à indústria”, concretizou o presidente da ANIL, reclamando ao Estado a “adoção e concretização de medidas orçamentais ao nível dos impostos diretos e indiretos”.

António Larguesa

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