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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Classificação de interesse público da Serra de Santa Comba pode travar parque eólico

 A serra portuguesa com maior concentração de pintura rupestre com mais de sete mil anos de existência - que se estende pelos concelhos de Mirandela, no distrito de Bragança e de Valpaços, no distrito de Vila Real - está agora em processo de classificação como Sítio de Interesse Público e pode colocar em risco a instalação de um parque eólico, um investimento superior a 30 milhões de euros.

© Fernando Pires

Pode ser uma reviravolta no longo processo de criação do parque eólico de Mirandela que já tem 14 anos, desde que o Ministério da Economia concedeu licença para exploração, mas só há poucos meses é que o Município de Mirandela concedeu a licença de construção.

No entanto, o parque pode nem sair do papel, isto porque na semana passada, foi publicado em Diário da República, o início do processo de classificação da serra de Santa Comba, a serra portuguesa com maior concentração de pintura rupestre, como Sítio de Interesse Público.

A proposta da secção do Património Arquitetónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura abrange os sítios arqueológicos numa área dispersa por seis freguesias dos concelhos de Mirandela e Valpaços e contempla ainda uma zona especial de proteção (ZEP), que impede qualquer intervenção "sem prévio parecer favorável da administração do património cultural competente". Ora, esta área abrange a zona onde está prevista a instalação do parque eólico com seis aerogeradores.

Para Maria de Jesus Sanches, do departamento de Ciências e Técnicas do Património da Universidade do Porto, que coordenou a equipa que descobriu as dezenas de pinturas rupestres agora em processo de classificação, entende que há mais um argumento de peso para o parque não avance. "Acho que já não podia antes e com esta zona especial de proteção evidentemente que também não pode, ou seja, não permite a instalação do parque", diz.

Aliás, na consulta pública que está a decorrer até 2 de dezembro, a arqueóloga entende que "há o risco da área de proteção vir a ser alargada e nunca no encurtamento, porque o património arqueológico não desapareceu, ampliou-se e valorizou-se em termos de conhecimento", acrescenta.

Nos últimos meses um grupo de cidadãos tem contestado, com uma página nas redes sociais e uma petição que reuniu até ao momento cerca de 200 assinaturas, o anunciado início dos trabalhos de instalação na serra de um parque eólico, alegando que a Declaração de Impacto Ambiental (DIA) está "desatualizada", não refletindo as últimas descobertas porque reporta a situação ao ano 2014, reivindicando por isso "a suspensão do projeto".

Argumento que também o socialista José António Ferreira considera válido. O historiador e atual secretário da mesa da Assembleia Municipal de Mirandela que em conjunto com Jorge Humberto, deputado municipal CDU, tomaram uma posição pública a pedir a suspensão da instalação do parque eólico, dá um exemplo do que aconteceu na Galiza, na vizinha Espanha. "O tribunal chumbou a instalação do Parque eólico de Ancaras Corel que já estava parado, cautelarmente, desde 2019, e a razão deste chumbo foi com base na DIA que considerou que estava obsoleta por ter sido concedida há 14 anos atrás. Aqui esta já tem 8 anos", afirma, ressalvando que nada o move contra o parque. "Sou favorável a novas energias limpas e alternativas no combate às alterações climáticas, como também a novas fontes de financiamento do Município, mas também sou favorável a todo um património arqueológico que nos foi deixado pelas nossas gerações ancestrais há mais de sete mil anos e que temos o dever de o salvaguardar e deixar para as gerações futuras e não pensar que dispomos da autoridade de permitir a instalação de um parque eólico em cima de um património cultural e arquitetónico que ali temos", acrescenta.

A presidente do Município de Mirandela, Júlia Rodrigues, que já concedeu a licença de construção do parque, diz estar a aguardar pelas decisões dos organismos oficiais. "A câmara vai sempre respeitar as decisões oficiais. O que está em causa é a compatibilidade ou não de um investimento em energias renováveis e um investimento em património cultural. Os especialistas vão decidir e vamos manter a boa-fé com que sempre fez tudo, esperando que a solução seja o benefício de todos", diz Júlia Rodrigues.

No entanto, a autarca socialista admite: "Se fosse hoje a decisão sobre o projeto, afirmo, sem dúvida, que poderia não ser a mesma que foi tomada em 2008, mas acredito que, à data, foi também feito com boa-fé de quem decidiu e a decisão pública tinha a mesma legitimidade que hoje teríamos para decidir, ou não, de forma contrária", conclui.

No protocolo estabelecido com o consórcio que pretende construir o parque, o município de Mirandela tem direito a um milhão e meio de euros de compensação - já recebeu 500 mil - a 2,5% da receita bruta anual da produção de energia, cabendo ainda um montante correspondente a 0,5 da mesma receita às assembleias de compartes das freguesias de Lamas de Orelhão e Passos.

Consórcio diz ter todos os pareceres para avançar

Entretanto, contactado pela TSF, o consórcio que pretende instalar o parque eólico, respondeu num extenso comunicado onde pormenoriza toda a cronologia dos passos dados desde 2008, para alegar que a exploração da estrutura "é perfeitamente compatível com outras atividades de prospeção e culturais relacionadas com o património arqueológico potencialmente existente na serra".

Além disso, garantem que a obra "terá obrigatoriamente o acompanhamento arqueológico permanente e em caso de achado serão tomadas medidas conforme disposto na DIA".

A empresa diz também que tem na sua posse todos os pareceres legais para avançar com a obra.

Fernando Pires

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