quinta-feira, 27 de outubro de 2022

... quase poema... ou da esperança

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

O velho Soto do meu pai ruiu pela força dos anos e Invernos muitos… já não sinto o cheiro a polvo de meia cura, nem a vizinha vem comprar uma quarta de pimento… uma bica de tripas, um quartilho de petróleo… ou um metro de chita para um avental.. mas o Soto do meu pai tinha um rosto, uma alma e os vizinhos compravam como podiam e os papéis do fiado honravam o negócio.
...o soto caiu... a casa caiu... ficam as mágoas... só resistiu o forno... que aguarda renascer das cinzas... 
... e tu, minha mãe..  minha Eugénia, como quem só foi ali... à fonte... ao entardecer, regressarás a casa e de novo vamos acender o forno... e as tuas mãos serão alvas... farinha e trigo.
... prometo.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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