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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 22 de setembro de 2024

… quase poema… ou das mães

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Não trabalhes tanto Eugénia Minga… a renda pode esperar.
Eu sei que fazer na renda não é trabalho para ti… depois de criares seis filhos… atenderes o Soto… lavares a roupa… cevares os porcos… amanhares a horta… acenderes o lume… dares esmola aos pobres e sorrires…
…fazer na renda é o teu descanso merecido!
... senta-te aqui ao pé de mim… vamos de novo acender o lume… cozer castanhas e esperar que o pai chegue da longa caminhada… disseste que foi ao negócio para Sendim… que longe mãe!… mas vai chegar quando a ceia estiver pronta…
Senta-te aqui no escano e vamos conversar… ficou tanta coisa por dizer…
… quero que estudes meu filho!
Acho que o pai gostava que tivéssemos comprado uma camioneta SCANIA para irmos ao negócio… da madeira… da castanha… do vinho… e termos uma carteira cheia de notas… e pagarmos a pronto… talvez enriquecermos!
… acho que o pai ficou muito triste mãe!... nunca falamos disso!
… quero que estudes meu filho! Dizias tu e apertavas-me tanto ao peito que até te ouvia o coração.
… e eu estudei Eugénia Minga… e os teus olhos brilhavam como estrelas quando vinha da faculdade!
… sabes coisas tão bonitas meu filho!... nunca tinha ouvido falar do Galileu… a terra anda e o sol está parado!
… acho que o teu pai não acredita… mas eu acredito… fecho os olhos e acredito com o coração!
…mãe o pai ainda estará muito triste por causa da camioneta?!
… não chores meu filho! Então… eu estou aqui! As mães nunca morrem… não sentes o vento que vem dos lados da nossa horta de Valeguimbra?! Então?!
… eu sei... tu estás aqui.. aperta-me ao colo… e canta!
… és tão bonita Eugénia Minga!
… és tão bonita minha mãe!
… vamos fazer a ceia!

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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