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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Águia-caçadeira: Um censo nacional para a conhecermos melhor

 Está em curso, desde 2022, o primeiro censo nacional de Circus pygargus. Dezenas de biólogos, vigilantes da natureza e amadores estão no terreno a recolher informação que permitir-nos-á conhecer a verdadeira situação desta rapina singular em Portugal.

SHUTTERSTOCK / TONI GENES - Macho de águia-caçadeira (Circus pygargus) caçando.

Este primeiro Censo Nacional de Águia-Caçadeira (Circus pygargus) está ser desenvolvido no âmbito do projecto "Searas com biodiversidade: Salvemos a Águia-caçadeira" e tem como objectivo conhecer com maior detalhe os números e distribuição desta ave no nosso país. 

Adicionalmente, serão também registados avistamentos dos restantes representantes deste género em Portugal, o tartaranhão-azulado (Circus cyaneus), distinguível apenas por subtis diferenças de plumagem e que se reproduz apenas no extremo Norte do país e que substitui a águia-caçadeira em terrenos mais a Sul durante o Inverno e o tartaranhão-ruivo-dos-paúis (Circus aeroginosus), uma espécie mais adaptada a zonas húmidas e que se distribui em baixas densidades por todo o território de Portugal Continental (embora o censo não se direccione para estes). Esta é apenas uma das acções englobadas neste projecto que inclui também uma vertente de conservação ex situ, com recolha de ovos e juvenis que são criados em cativeiro para depois serem libertados nas suas áreas de origem.

O QUE É A ÁGUIA-CAÇADEIRA?

Uma das três espécies de ave de rapina pertencentes ao género Circus que se reproduzem em Portugal, a águia-caçadeira (Circus pygargus), ou tartaranhão-caçador, é uma ave migratória que inverna em África e escolhe a Europa para se reproduzir.

Estas aves, de longas asas em relação ao tamanho do corpo e forte dimorfismo sexual nos adultos, destacam-se no entanto por um detalhe comportamental interessante. Em vez de nidificarem numa árvore ou numa escarpa, como a maior parte das aves de rapina, fazem o ninho directamente no solo, geralmente no meio de uma seara cerealífera ou similar. Devido a este comportamento, estão fortemente associadas a meios rurais, como estepes cerealíferas ou mosaicos de terrenos cultivados e matos baixos, característicos da metade mais interior do país. São carnívoras oportunistas, alimentando-se de pequenos mamíferos, répteis, anfíbios, insetos ou mesmo de outras aves e dos seus ovos.

SHUTTERSTOCK - Crias de águia-caçadeira (Circus pygargus) no ninho.

PORQUE ESTÁ ESTA AVE AMEAÇADA?

A águia-caçadeira encontra-se classificada como "Em Perigo" segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, sendo uma espécie com estatuto de protecção de acordo com várias directivas e convenções de âmbito internacional.  A percepção de um forte declínio populacional nas últimas décadas foi um dos principais motes para a sua quantificação no âmbito deste recenseamento. As principais ameaças que enfrenta devem-se justamente ao seu comportamento nidificante: ao construir o ninho directamente no solo, os ovos e as crias tornam-se muito vulneráveis à ceifa antes do seu período de autonomização e, mesmo que os agricultores tomem o cuidado de preservar o ninho, esta espécie fica exposta a potenciais predadores, sendo o insucesso reprodutor nestes casos muito elevado.

A uma escala maior, a intensificação da agricultura, de que é exemplo a zona abarcada pelos blocos de rega do Alqueva, será também responsável pelo decréscimo populacional, ao substituir terrenos de agricultura tradicional de sequeiro, que cria habitat favorável a esta espécie, por monoculturas em regime de regadio, pobres em biodiversidade e onde a águia-caçadeira não consegue singrar.

Noutras zonas, é o abandono agrícola e consequente crescimento de mato denso, ou substituição por uma pastorícia intensiva, que torna o habitat desfavorável para esta espécie. Em menor grau, o uso de pesticidas pode também afectar negativamente a vida desta ave, ao diminuir os números das espécies de que depende para se alimentar, assim como a perseguição directa, embora esta seja aparentemente um factor menor na Península Ibérica.

SHUTTERSTOCK - Fêmea de águia-caçadeira.

QUEM ESTÁ NO TERRENO A FAZER ESTE LEVANTAMENTO?

O 1º Censo Nacional de Águia-Caçadeira (Circus pygargus) arrancou em 2022 no âmbito do projecto "Searas com Biodiversidade: Salvemos a Água-caçadeira", coordenado pela Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural e pela Associação Biopolis/CIBIO – Centro de Investigação  em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, tendo esta última, a ANPOC (Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais) e o Clube de Produtores do Continente o papel de entidades financiadoras.

Neste censo participam, além do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e de numerosas associações de âmbito ambiental, um grande número de observadores de aves experientes, a título voluntário, de maneira a cobrir tanto território quanto possível. O corolário desta iniciativa será uma utilização mais proveitosa dos recursos existentes para proteger as zonas onde esta ave ainda habita em Portugal.

António Matos

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