Não passava nenhum carro em Outeiro, em frente ao tronco que servia de assento, à entrada da Taberna do Chino que não “recebesse”, do Armandico, a indicação:
PODE SEGUIR!Não se sabia bem para onde seguiriam até chegarem ao cruzamento, a seguir ao café do Chico Emílio. Ou iam para os lados de Pinelo ou para as bandas de Argozelo. Também não era importante saber. Que fossem em paz, com calma e segurança para chegarem bem ao destino.
Mas, o mais importante estava feito. O Armandico já os tinha autorizado a seguirem caminho.
Nas tardes de Verão, poucos entravam para dentro da taberna do Chino. Cá fora era o espaço privilegiado para ouvir, falar, aprender e rir… e até por vezes, sentir humedecer os olhos…
Sentados no velho tronco, em cima do toro, numa qualquer grade de cervejas virada ao contrário. O mais importante eram os sempre presentes e as histórias de vida que iam contando.
Umas verdadeiras, outras fantasiadas. Outras mais que verdadeiras mas com um enfeite de fantasia que as tornava únicas. O Chino, com a sua simplicidade e carácter, era mestre na arte de saber receber e de agradar.
A maioria dos presentes, nessas tardes de Verão, tinham rostos cansados e enrugados. Cansados por anos e anos de trabalho duro e pouco compensado… cá, pelas Franças e pelas Espanhas. É engraçado, recordo neles os olhos claros e brilhantes… uns olhos que revelavam muita mais juventude que os corpos, já curvados…
Quando um contava uma história, nem que fosse mais uma vez das mil vezes repetidas, fazia-se um silêncio sepulcral. Uns só ouviam, outros acenavam que sim, com a cabeça.
Era duro, nas minas em Espanha. Não havia dia nenhum em que não pensasse em regressar…
Fui um escravo em França. Se soubesse o que sei hoje nunca tinha ido…
De vez em quando, faziam-se uns grandes silêncios até alguém ter a coragem de o quebrar. Um dos corajosos, de voz tonante, era o rapaz do talho ambulante…
Tráz-me uma baldeirada dizia o Armandico. Faz-me uma mistura. Tira-me um café.
- Um café a esta hora? Perguntava o Chino.
Tens razão, tráz-me um copo… mas só a meio.
Para mim um traçado.
Bom, aproximava-se a hora de ir merendar e a “rapaziada” lá ia debandando na eterna e lenta caminhada. A pressa para chegar a qualquer lado já não era muita.
Fiquei eu e o Tio António… (O Chino). Penso que o Malaquias também ficou mais um bocado.
Vamos merendar? Pergunta ele.
- Vamos, também já comia qualquer coisa... Vou buscar uma cerveja.
Entra em casa e passados 5 minutos sai com a caçadeira nas mãos. Pensava eu que tinha ido buscar um naco de presunto, ou coisa que o valha.
Fiquei a olhar.
Atravessa a estrada, em 4 passos rápidos e largos e aponta para um bando de pombos que andava “a bailar” pelas alturas nas fraldas do Sto Cristo. Dispara. Caíram dois. Lá os foi buscar junto às amoreiras. – Estes não têm dono.
- Acende o lume, diz-me.
E eu acendi… e lá merendámos uns pombos assadinhos na brasa.
Que os Deuses nos perdoem se cometemos algum crime. Não foi por mal.
P.S. Estas curtas linhas, vindas de saudosos momentos e cada vez mais continuados pensamentos, são dedicadas ao Tio António (O Chino) ao Tio Armando (Armandico), a todos os que já partiram deste mundo e que por ali se sentaram em frutuosas tardes e longos serões e também a todos os que sentiram e ficaram tristes com o fecho da Taberna…
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