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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Mau ambiente

Por: Manuel Eduardo Pires
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Manifestações e greves funcionam razoavelmente bem nas relações laborais e políticas. Geralmente elas implicam a existência de dois campos em confronto, o dos que por algum motivo decidem mostrar-se insatisfeitos e o daqueles contra quem se posicionam e que pretendem influenciar, pressionar ou até excluir – governos, patrões e outras entidades. Também pressupõem um mundo subjetivo a preto e branco segundo o qual os que fazem greve ou se manifestam se veem a si próprios como bons e injustiçados e a outra parte como má e sonegadora de direitos. Tal antagonismo não significa contudo que não haja dependência, até porque os primeiros esperam sempre que os segundos lhes resolvam alguma dificuldade.
Em matéria de ambiente não se discutem as vantagens de pressionar líderes, governos, indústrias, lóbis e demais forças cujos comportamentos se querem ver modificados. No entanto, ver essa luta usar às cegas os métodos próprios do mundo da política e do trabalho traz o receio de que possa também vir cheia de mal-entendidos. Era bestial que as alterações climáticas fossem um ser dotado de racionalidade, pressionável, contra quem se gritassem palavras de ordem tal como se faz com o patronato. Um adversário de carne e osso que se pudesse eliminar. Um exército de ameaçadoras máquinas alienígenas no encalço das quais se enviasse um exterminador, ao jeito dos trailers de suspense. Não sendo nada disto, manifestar-se ou protestar contra elas nunca irá mudar um milímetro o seu comportamento.
Por outro lado, alinhar na ideia de que nesta questão há bons e maus e pensar em termos de “nós contra eles” arrisca-se a ser contraproducente. Tanto quanto me foi dado a entender, a postura dos ativistas do clima é a de quem acha que alguém que não eles deve assumir o encargo de mudar aquilo que há para mudar. Ora num assunto cuja gravidade requer o contributo de todos os sete mil milhões de habitantes do planeta, a ideia implícita de que há inimigos a combater é deixar-se ir pelo caminho mais fácil. É sacudir a água do capote. Só quando cada pessoa compreender que o inimigo do ambiente é ela própria poderá deixar de procurar bodes expiatórios e dedicar-se a fazer a parte que lhe cabe. 
A acreditar na mensagem que as televisões querem fazer passar, é principalmente a juventude que acalenta ideais de proteção ambiental, os leva a peito e está a tomar conta das ruas para os defender. Assim de repente parece bonito e generoso. Provavelmente o grosso dos espetadores até fica convencido, mas eu, que devo ter uma costela de desconfiado e outra de casmurro, torço o nariz. Há um par de meses já tinham mostrado grandes peças a propósito do mesmo. E o que na altura presenciei ao vivo e a cores foi uma cena bastante mais prosaica, embora mais verdadeira, em que umas centenas de fedelhos que não sabem se estão neste mundo se no outro deram um tiro às aulas durante uma tarde inteira, curtiram bué e tiraram imenso prazer disso. Se calhar tenho tido azar, sendo por isso sensato evitar tomar a parte pelo todo, mas a maioria dos jovens que conheço parecem-me tão alheios à natureza e aos seus problemas, tão afastados dela, que ficam histéricos quando um simples inseto entra inadvertidamente numa sala de aula. Por isso as minhas reservas perante as parangonas.
Numa destas últimas manifs, já não sei onde, esses jovens que querem então mudar o mundo revelavam a sua seriedade e grau de consciência com respeito ao tema comprazendo-se em queimar pneus em quantidade e em lançar propositadamente para o ar todo o tipo de fumaradas. De caminho também aproveitavam para destruir o que apanhavam pela frente. Como iam ter que restaurar as forças gastas enquanto protestavam através da ingestão de alimentos, e como quer estes quer os equipamentos destruídos (que será preciso repor) são fabricados ou transformados em unidades industriais que poluem, os ditos indignados estavam afinal a poluir um pouco mais, como aliás fazem com tudo o que consomem.
Mas tal como a maioria das pessoas pelos vistos não o sabem, assim como parecem não saber que é extremamente difícil imaginar algo nas suas vidas que não implique degradar o ambiente. Também é necessária alguma coragem para lhes dizer isso, ou que mais eficaz do que fazer “greve” talvez seja ficar em casa e começar a abdicar de muitas das regalias de que desfrutam…

Nordeste - out. 2019

Manuel Eduardo Pires
. Estes montes e esta cultura sempre foram o meu alimento espiritual, por onde quer que andasse. Os primeiros para já estão menos mal, enquanto a onda avassaladora do chamado progresso não decidir arrasá-los para construir sabe-se lá o quê, mas que nunca será tão bom. A cultura, essa está moribunda, e eu com ela. Daí talvez a nostalgia e o azedume naquilo que às vezes digo. De modo que peço paciência a quem tiver a paciência de me ir lendo.

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