Apesar de ter sido alargado o horário dos centros de saúde, as urgências de Bragança continuam à pinha
Na altura do ano com mais surtos gripais, as urgências ficam atoladas de gente e as horas de espera tornam-se longas. Há quem chegue a estar 12 horas nas urgências do hospital de Bragança para conseguir ter um diagnóstico. Sónia Veiga foi uma das utentes a queixar-se da demora para ser atendida e do caos em que se encontram as urgências na unidade hospitalar da capital de distrito.
Devido a uma dor na axila que se prolongava até à mama, dirigiu-se a um centro de saúde de Bragança para poder ser vista por um médico, mas foi-lhe dito que o melhor seria ir à urgência, até para ser feita uma ecografia, como mais tarde aconteceu. Entrou no hospital, na passada segunda-feira, dia 15, por volta das 8h20, mas só perto das 15h foi vista pelo médico e, depois de ter reclamado, segundo contou. “Antes de ser chamada tive que reclamar, porque estava com fome. Estava há tantas horas ali fechada, sem ser chamada, sem ter respostas”, disse. No entanto, foi necessário fazer uma ecografia. Foi encaminhada, mas não pensava que viria a ter que esperar tanto, até porque o médico para lhe realizar o exame só apareceu horas depois. “A menina que me veio chamar disse-me que o doutor das ecografias só vinha às cinco”, lembra, acrescentando que já estava em “desespero”, depois a terem obrigado a esperar tantas horas, sem sequer o médico estar presente. Realizou a ecografia já depois das 18h, mas ainda teve que esperar até às 20h para poder ter um diagnóstico do médico que a viu inicialmente.
E no meio disto tudo, saiu do hospital 12 horas depois. “Estava muito mal, dava vontade de desistir. Às cinco da tarde já respirava fundo para não sair dali. O que me fez ficar foram as dores e queria saber o que se estava a passar. Como eu, estavam mais pessoas”, contou. Sónia Veiga disse que nunca viu as urgências do hospital de Bragança numa situação como esta, sendo que já ali tinha estado este Inverno com o filho. “Muitas horas de espera, a urgência cheia de gente, eram ambulâncias a chegar, tudo cheio de macas, cadeiras de rodas. Vinham ambulâncias de Vinhais, Mogadouro, Mirandela”, relatou. Como Sónia Veiga, também Licia Caleja e a sua avó sentiram as dificuldades de resposta do Serviço Nacional de Saúde. Foi com a avó ao Centro de Saúde da Sé, perto do hospital. No entanto, “disseram-lhe que não podia ser atendida ali, mas no de Santa Maria, na outra ponta da cidade”. Como também estava com o filho no centro de saúde, a avó foi até às urgências, onde chegou por volta das 11h e só saiu perto das 19h. “Estava com muitas dores no corpo, muita tosse, não se aguentava em pé, vontade de vomitar”, disse. Contou que só foi atendida depois de uma tia sua ter reclamado. “Esteve lá para aí sete horas e só foi atendida porque a minha tia foi falar com o segurança, para saber se a podiam atender porque não se aguentava de pé”, contou. Enquanto a avó esperava nas urgências, Licia Caleja esperava por uma consulta aberta para o filho, de 4 anos, no Centro de Saúde da Sé. Entrou às 11h, disseram-lhe que teria que esperar para as consultas abertas que começariam às 13h. Aguardou e foi atendida às 14h. Mas não gostou do atendimento. “Não me disseram nada, receitaram- -lhe um xarope para parar de vomitar e disseram-lhe que tinha que fazer dieta”. No entanto, os sintomas não paravam e, uma vez que já se arrastavam há vários dias, decidiu recorrer às urgências. Chegou por volta das 16h e em três horas o filho foi visto por um médico, que considera não ter sido um pediatra, visto que foi o mesmo que tinha atendido a avó. E apesar das urgências estarem uma “catástrofe”, entende que foi o melhor que fez, criticando o serviço que lhe foi prestado no centro de saúde. “Eu levei o meu filho ao centro de saúde e não lhe fizeram nada. Na urgência ainda o viram, deram-lhe medicação, tiveram a ver se a medicação fazia efeito. Ir a uma consulta aberta e mal olham para nós. Ir a uma consulta aberta ou fica rem casa é praticamente a mesma coisa. Depois do que aconteceu, prefiro ir ao hospital do que a uma consulta aberta”, disse.
Contactámos a Unidade Local de Saúde do Nordeste para perceber a que se devem estas horas de espera, respondendo, por email, que a afluência às urgências é “normal” para a época e que os tempos de espera registados são “médios” que “se enquadram dentro dos tempos recomendados no âmbito do sistema de Triagem”. Frisou ainda que o aumento de infecções respiratórias levou ao alargamento dos horários dos centros de saúde, que têm “registado também uma elevada afluência”.
Questionamos ainda quantos médicos estão ao serviço na urgência do hospital de Bragança, mas a ULS do Nordeste não respondeu à pergunta.
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