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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Camille Pissarro, um pintor “transmontano”


Até há pouco tempo, quando se discutia a paternidade da pintura moderna, o consenso parecia apontar para um único nome: Paul Cézanne. Nas últimas décadas, no entanto, um número crescente de historiadores de arte começou a questionar este pressuposto, olhando antes para Camille Pissarro, amigo e mestre de Cézanne, como o verdadeiro precursor da revolução que transformaria radicalmente a pintura na última metade do século XIX. Jacob Camille Pissarro, de seu nome completo, era filho de Abraham (Frederic) Gabriel Pissarro, um judeu “marrano” português, transmontano de Bragança, que ainda criança (nos finais do século XVIII) emigrara com os pais para Bordéus, onde na altura existia uma comunidade significativa de judeus portugueses refugiados da Inquisição. Camille nasceu a 10 de Julho de 1830 em St. Thomas, nas Ilhas Virgens, para onde o pai se mudara anos antes para servir de executor do testamento de um tio.
Camille Pissarro era um personagem fascinante. Amigo e mestre de Degas, Cézanne e Gauguin, Camille Pissarro era visto pelos colegas como um “patriarca” – uma figura generosa, amável e profundamente fiel às suas amizades. “Pissarro foi como um pai para mim: era o homem a quem se pediam conselhos, era como le bon Dieu”, escreveu sobre ele Cézanne. Henri Matisse chamou-lhe “o Moisés da pintura contemporânea, aquele que nos dá a Lei”; Cézanne afirmaria categoricamente: “todos nós descendemos de Pissarro.”
Anarquista convicto, Camille Pissarro não era religioso em termos formais mas, mesmo assim, nunca dissimularia o judaísmo herdado dos seus antepassados portugueses. Pelo contrário, Pissarro orgulhava-se de ser judeu.
Durante o Caso Dreyfus – o paradigma do antisemitismo que dividiu a sociedade francesa dos finais do século XIX – Pissarro, ao mesmo tempo que combatia o ódio irracional contra os judeus, sentiria na pele o antisemitismo de alguns dos seus colegas, mesmo vindo de amigos, como Degas e Renoir. Nessa altura, alguns dos seus colegas mais próximos chegariam mesmo a por em causa a sua relação de amizade, temendo “ficar contaminados” por se associarem a um judeu. “Continuar com o israelita Pissarro é ficar manchado com revolução”, escreveu Renoir, com um antisemitismo tristemente típico da época.
Na última edição da revista Commentary, o crítico de arte Dana Gordon escreve um excelente artigo de cinco páginas intitulado Justice to Pissarro, onde defende que a paternidade da pintura moderna deve ser definitivamente atribuída, não a Cézanne, mas a Camille Pissarro, o pintor descendente de judeus sefarditas de Bragança.

in:ruadajudiaria.com

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