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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 31 de maio de 2024

Trás-os-Montes - No tempo em que os sinos dobravam

 Os sinos das igrejas, hoje associados apenas «à marcação das horas e anúncio das missas dominicais», foram, durante séculos, usados «como chamamento para os mais diversos rituais, festivos ou trágicos», como acontecia nos meios rurais transmontanos refere o etnógrafo Alexandre Parafita.


«Os sinos foram, durante séculos, um valioso meio de comunicação, em especial nas zonas rurais. Davam às comunidades as notícias alegres e tristes, tantas vezes empoladas pelo critério emocionado dos sineiros que imprimiam cunhos pessoais no manuseio dos badalos», afirma o professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
E dá exemplos: «pelas características do toque a finados, sabia-se se era morte de homem, de mulher ou de anjinho. Nos toques a rebate, vinham os alertas de perigo, que se distinguiam caso se tratasse de fogo, de invasão, saqueamento, caça a ladrões ou batida a animais selvagens. Os rebates desesperados dos sinos apelavam a um congraçamento colectivo na defesa dos interesses em perigo».
«Em muitas aldeias transmontanas, no toque a finados, usava-se o sino maior do campanário, na crença de que quanto maior fosse o estrondo, para mais longe iria o demónio naquela hora e não se aproximava do defunto», recorda o etnógrafo, adiantando que «segundo a tradição popular, o demónio ciranda em torno do corpo procurando resgatar a alma».
«Daí os vários rituais de esconjuro que nesses momentos o povo costumava praticar, como é o caso da recitação das “Doze palavras ditas e retornadas”», sublinhou.
Outros toques de grande representação simbólica nas comunidades estão associados aos momentos do parto, refere Alexandre Parafita, precisando que «é tradição serem tocadas nove badaladas quando a mulher está no momento de dar à luz e em alguns lugares é o marido que se ocupa dessa tarefa».
Segundo Alexandre Parafita, também se tocava o sino para afugentar as trovoadas, usando-se aquele que estivesse virado para o lugar onde se pensava que os raios iriam cair, «habitualmente a serra do Marão “por não dar palha nem grão”».
«A crença na eficácia dos sinos em tempos de trovoada é grande entre a população transmontana. Reza a lenda que na Castanheira, aldeia do concelho de Chaves, os sinos da igreja de São João tocavam sozinhos para anunciar as trovoadas, o que permitia aos camponeses regressarem dos campos a tempo de se protegerem e acautelarem os seus haveres. E conta-se também que os galegos de uma povoação vizinha, sabendo dessa virtude dos sinos, foram lá roubá-los, e que estes, depois de recuperados pelos seus legítimos donos, nunca mais tocaram sozinhos», conta.
Alexandre Parafita faz ainda referência a outras «lendas de sinos que narram toques misteriosos sem a presença de qualquer sineiro».
«Aludem, por exemplo, ao dia da restauração da independência no ano de 1640, em que muitos sinos tocaram sozinhos num impulso solidário e patriótico contra os espanhóis, numa altura em que ainda não tinham chegado a terras tão longínquas as notícias do golpe dos conjurados», aponta.
Não faltam também «lendas de sinos que aludem à sua fuga misteriosa das igrejas onde foram colocados, indo aparecer no local onde pretendem que o templo seja construído. Este contexto traduz geralmente conflitos de vizinhança, com constantes transladações dos sinos para diferentes locais em função das conveniências dominantes nas comunidades. E perante questões terrenas desta ordem, importa que haja uma resposta do Céu, traduzida na fuga do sino à revelia da mão humana».

Café Portugal/Lusa

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