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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 21 de dezembro de 2025

Ainda as «Festas de Santo Estêvão» («Festas dos Rapazes») que foram proibidas há 270 anos...

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Quando se avalia a dispersão geográfica das «Festas de Inverno» que incluem «mascaradas», as quais ocorrem, grosso modo, entre meados de Dezembro e os Reis, retiram-se algumas conclusões interessantes. Senão, vejamos… Embora noutras épocas haja registos de uma maior proliferação destes rituais, os mesmos restringem-se, na actualidade e no que concerne ao distrito de Bragança, a seis concelhos. Os «campeões» destes registos, ambos com seis ocorrências, são os concelhos de Bragança e de Mogadouro. Seguem-se-lhe Vinhais e Miranda do Douro, respectivamente, com quatro e três anotações. Por fim, os concelhos de Macedo de Cavaleiros e de Mirandela, ambos com um evento cada. 

Por outro lado, semelhantes manifestações ocorrem do outro lado da fronteira, nas regiões de Zamora, Aliste e Sayago. Área na qual as «figuras mascaradas» tomam nomes tão variados como Visparra, Obisparra, Zangarrón, Talanqueira, Carochos, Tafarrón, Filandorra ou Cencerrones, dependendo das localidades onde decorre o fenómeno das «Mascaradas de Inverno». Há, porém, um denominador comum… Mas já lá iremos…

Aqueles que se têm dedicado aos estudos etnográficos e históricos acerca destas «Festas de Inverno», apontam-lhe, maioritariamente, reminiscências de celebrações Romanas, ganhando destaque as Saturnais e as Lupercais, assim como os festejos que ocorriam, a 25 de Dezembro, a propósito do deus «Sol Invicto». Outros defendem, porém, atendendo a outros paralelos dados, que a origem destas celebrações é pré-Romana, atribuindo-lhe um carácter indígena. 

Embora tenda a concordar com ambas as versões, por considerar que os festejos Romanos já são adaptações de outros anteriores, há algo, todavia, e regressando à anteriormente referida dispersão geográfica, que capta a atenção. E esse algo, restringindo-nos ao actual distrito de Bragança, reside no facto da não existência das chamadas «Mascaradas de Inverno» nos concelhos da… Terra Quente! Isto, naturalmente, se exceptuarmos o par de casos representado pelos concelhos de Macedo de Cavaleiros e de Mirandela, ambos ocorrendo, no entanto, nas suas regiões setentrionais, ou seja, onde esses concelhos tocam com a Terra Fria (aliás, o concelho de Macedo de Cavaleiros é uma espécie de «concelho hermafrodita», metade Terra Fria, metade Terra Quente). 

Para aqueles que estejam familiarizados com estes temas histórico-etnográficos e, particularmente, com a época a que convencionou designar-se como Proto-História, ou seja, aquela que antecedeu o período Romano, também vulgarmente designada como Idade do Ferro, saberá que, especialmente na Terra Fria, não somos, nem nunca fomos Lusitanos. Uma tecla na qual tenho batido há anos, por considerar que somos “indrominadus’e” por essa falácia provinda do tempo da «Velha Senhora», recuperando conceitos dos neo-clássicos, nomeadamente do «nosso» Camões, mais os seus «Lusíadas», ou seja, Lusitanos. O problema é que, nas tais de terras que foram a Lusitânia, não há «Mascaradas de Inverno»! Mas nestas terras, que parte nunca fizeram da Lusitânia, há-as!... 

Ora bem… Como já por aqui trouxe, particularmente na Terra Fria, segundo o que nos foi legado pelos autores clássicos, bem como pela epigrafia, pela teonímia ou pela onomástica, éramos… Ástures! E os nossos antepassados eram a sua tribo mais meridional. Antepassados esses de que já muitos terão ouvido falar como «Zoelas», mas que mais correctamente deverão ser designados como Zelas. E por que motivo trago aqui, outra vez, os Zelas?

Apenas e tão só porque o fenómeno das «Mascaradas de Inverno», que resultam nas «Festas dos Rapazes», ou na mais antiga designação de «Festas de Santo Estêvão», se restringem ao território da antiga «Civitas Zoelarum», ou seja, aquele onde viviam os nossos antepassados… Zelas! Significará isto, numa leitura superficial, que estas manifestações de carácter profano serão, com enormíssima probabilidade, pré-romanas. Caso contrário, as mesmas seriam extensíveis, até pela maior influência Romana exercida, a todo o território nacional. Mas não! Restringem-se a uma área geográfica, abrangendo um alargado território que inclui uma boa parte do distrito de Bragança e uma outra da província de Zamora, precisamente aquela que correspondia aos limites da referida «Civitas Zoelarum». 

Como diria o célebre Fernando Pessa: «E esta, hein?»… Já cá volaterei, nestes dias que antecedem o Natal, para mais umas achegas acerca da genuinindade e da unicidade das tão nossas «Festas dos Rapazes»… E outras “cousas que spritum um home”… 

(Foto: João Pedro Almeida)


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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