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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

As batatas na Consoada… e outros considerandos

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Antes de «destilar» acerca de batatas… Não que deva justificações a ninguém… Aqui tenho vindo, de forma carola e gratuita, partilhando, não o conhecimento de uma Licenciatura de 3 anos (que, «no meu tempo», era de 5…), mas sim o de uma «Licenciatura» com mais um «zero», ou seja, ao invés de 3, são 30. Trinta anos, consecutivos, a estudar, desalmadamente, a Minha região (que também é a de muitos)... 

Já o trouxe por aqui, tenho um especial apreço por «tartufos» e por «sabetudólogos». Maior apreço tenho quando surge uma estranha simbiose, e sai na rifa um «tartufo sabetudólogo»… Quando isso acontece, deveria remeter-me ao silêncio, ignorando as «tartufices». Todavia, há coisas mais fortes do que eu… Por respeito aos «não tartufos sabetudólogos». Aquilo que aqui partilho é feito por «amor à terra», não por qualquer «amor de protagonismo». Não necessito disso e, para os «tartufos sabetudólogos» que dúvidas tiverem sobre isso, bastará, antes de comentários desagradáveis e sobranceiros, fazer uma qualquer simples pesquisa no “Guguele”… E se a pesquisa for «avançada», perceberão (mesmo!) as razões para não procurar os «protagonismos» que os «tartufos sabetudólogos» procuram. Repito: aquilo que aqui trago é feito, por imenso respeito, consideração e amizade, ao ilustre administrador desta página. E só no dia em que essa insigne personalidade me pedir para deixar de, por aqui, partilhar «o pouco que sei», é que o farei… Até lá… Vamos às batatas…

Já tive a oportunidade de as trazer por aqui e, talvez, irei repetir-me. A cultura da batata chegou a Trás-os-Montes apenas no século XVIII. Restringida à Veiga de Chaves… No caso do actual distrito de Bragança, em meados dessa mesma centúria, há quase 270 anos, apenas havia referência à sua produção em duas freguesias do distrito, ambas situadas no concelho de Carrazeda de Ansiães. 

Para os que não o saibam, os primeiros nomes que o dito tubérculo tomou, por aqui, foram «castanha da índia» ou «castanha da terra». Também foi tratada por «fruto do diabo» ou «fruto das bruxas», porque lhe foi associada a origem da lepra. Como se isso não bastasse, o «Senhor Doutor Mirandela», Médico da Corte, escreveu umas coisas menos agradáveis sobre a dita batata, «conhecimentos» que, rapidamente, extravasaram para o Povo. 

Já no século XIX, as pouquíssimas batatas que eram aqui produzidas destinavam-se ao gado, especialmente ao porcino. Produção essa maioritariamente feita pelas classes privilegiadas, alguma da qual, pela novidade, e pelo valor, até levavam a Exposições como «Feiras Agrícolas» ou, até, «Feiras Internacionais». Já nos finais do século XIX, há cerca de 140 anos, no tal tempo dos «nossos bisavós», um eminente e insuspeito estudioso, de seu nome Leite de Vasconcellos, veio aos concelhos de Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Miranda do Douro, porque o seu amigo Trindade Coelho lhe havia dito que, aqui, se «falava de uma forma estranha». Dessas visitas nasceu a designação de «Mirandês»… Mas adiante…

Numa dessas visitas, pediu batatas para acompanhamento do jantar. E aos seus convivas “deu-les a risa” porque «ninguém comia batatas»! As batatas eram para os porcos! Como tal, para lá de algumas famílias menos dadas a «crendices», a batata só foi efectivamente introduzida e vulgarizada já entrado o século XX… Como tal, os relatos sobre a Consoada e o Natal relativos ao século XIX não fazem menção ao consumo de batatas…

Já agora, a Nossa História é muito mais longa do que o «desde que me lembro» ou «sempre ouvi dizer». A Nossa História, pela região bragançana vem desde há milhares de anos, quando os primeiros humanos, no Paleolítico Superior, deixaram por aqui a sua marca… Se alguém tiver vivido nesse período ou, até, no século XIX, faça o favor de se pronunciar… Mas sem «tartufices» ou «sabetudologias»…

(Foto: Artur Pastor)


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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