(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Antes de «destilar» acerca de batatas… Não que deva justificações a ninguém… Aqui tenho vindo, de forma carola e gratuita, partilhando, não o conhecimento de uma Licenciatura de 3 anos (que, «no meu tempo», era de 5…), mas sim o de uma «Licenciatura» com mais um «zero», ou seja, ao invés de 3, são 30. Trinta anos, consecutivos, a estudar, desalmadamente, a Minha região (que também é a de muitos)...
Já o trouxe por aqui, tenho um especial apreço por «tartufos» e por «sabetudólogos». Maior apreço tenho quando surge uma estranha simbiose, e sai na rifa um «tartufo sabetudólogo»… Quando isso acontece, deveria remeter-me ao silêncio, ignorando as «tartufices». Todavia, há coisas mais fortes do que eu… Por respeito aos «não tartufos sabetudólogos». Aquilo que aqui partilho é feito por «amor à terra», não por qualquer «amor de protagonismo». Não necessito disso e, para os «tartufos sabetudólogos» que dúvidas tiverem sobre isso, bastará, antes de comentários desagradáveis e sobranceiros, fazer uma qualquer simples pesquisa no “Guguele”… E se a pesquisa for «avançada», perceberão (mesmo!) as razões para não procurar os «protagonismos» que os «tartufos sabetudólogos» procuram. Repito: aquilo que aqui trago é feito, por imenso respeito, consideração e amizade, ao ilustre administrador desta página. E só no dia em que essa insigne personalidade me pedir para deixar de, por aqui, partilhar «o pouco que sei», é que o farei… Até lá… Vamos às batatas…
Já tive a oportunidade de as trazer por aqui e, talvez, irei repetir-me. A cultura da batata chegou a Trás-os-Montes apenas no século XVIII. Restringida à Veiga de Chaves… No caso do actual distrito de Bragança, em meados dessa mesma centúria, há quase 270 anos, apenas havia referência à sua produção em duas freguesias do distrito, ambas situadas no concelho de Carrazeda de Ansiães.
Para os que não o saibam, os primeiros nomes que o dito tubérculo tomou, por aqui, foram «castanha da índia» ou «castanha da terra». Também foi tratada por «fruto do diabo» ou «fruto das bruxas», porque lhe foi associada a origem da lepra. Como se isso não bastasse, o «Senhor Doutor Mirandela», Médico da Corte, escreveu umas coisas menos agradáveis sobre a dita batata, «conhecimentos» que, rapidamente, extravasaram para o Povo.
Já no século XIX, as pouquíssimas batatas que eram aqui produzidas destinavam-se ao gado, especialmente ao porcino. Produção essa maioritariamente feita pelas classes privilegiadas, alguma da qual, pela novidade, e pelo valor, até levavam a Exposições como «Feiras Agrícolas» ou, até, «Feiras Internacionais». Já nos finais do século XIX, há cerca de 140 anos, no tal tempo dos «nossos bisavós», um eminente e insuspeito estudioso, de seu nome Leite de Vasconcellos, veio aos concelhos de Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Miranda do Douro, porque o seu amigo Trindade Coelho lhe havia dito que, aqui, se «falava de uma forma estranha». Dessas visitas nasceu a designação de «Mirandês»… Mas adiante…
Numa dessas visitas, pediu batatas para acompanhamento do jantar. E aos seus convivas “deu-les a risa” porque «ninguém comia batatas»! As batatas eram para os porcos! Como tal, para lá de algumas famílias menos dadas a «crendices», a batata só foi efectivamente introduzida e vulgarizada já entrado o século XX… Como tal, os relatos sobre a Consoada e o Natal relativos ao século XIX não fazem menção ao consumo de batatas…
Já agora, a Nossa História é muito mais longa do que o «desde que me lembro» ou «sempre ouvi dizer». A Nossa História, pela região bragançana vem desde há milhares de anos, quando os primeiros humanos, no Paleolítico Superior, deixaram por aqui a sua marca… Se alguém tiver vivido nesse período ou, até, no século XIX, faça o favor de se pronunciar… Mas sem «tartufices» ou «sabetudologias»…
(Foto: Artur Pastor)
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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