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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

NABO, em Comeres Bragançanos e Transmontanos

“Balmoral é uma vila famosa pelos fenómenos constantes, já deu um nabo de sete quilos...”
in Gin-Tonic, de Mário Henrique Leiria

O autor de Gin-Tonic fez as delícias do acerado grupo “surrealista” em noites tremendas sem insónias, conheci-o pela mão do poeta António José Forte, consegui resistir aos sarcasmos violentos que me propiciou, julgo não ter sido nabo, quanto a tirar nabos da púcara o poeta da linha nada conseguiu. A vila famosa pelos fenómenos constantes era o Entroncamento, o poeta salvava-se de sarilhos recorrendo à evasão referindo a aristocrata estância de Balmoral. Todos entendiam.
É bem provável que nutrida maioria dos mais novos desconheça as relevantes propriedades alimentares desta raiz hortícola, comprida ou arredondada, carnuda, de folhas em tons violeta, com que os nossos antepassados morigeravam a continuada carestia de comeres. Sozinho ou aliado a outros produtos o nabo durante séculos foi cozinhado incessantemente na trindade alimentar dos desgraçados – caldos, papas e sopas –, acompanhando igualmente peixes e carnes, a dar corpo a doces, alguns deles de estirpe monacal.
O nabo originou grande número de topónimos – Nabainhos, Nabais, Nabeiros, Nabiças –, Nabo é localidade no concelho de Vila Flor.
O grego Teofrasto, pai da botânica antiga descreve demoradamente as características desta raiz, Plínio o Velho enumera doze tipos distintos de nabo, sobre a sua matriz dizem-no oriundo da China, Índia e Europa. Os antigos classificaram o nabo como altamente afrodisíaco, os cozinheiros ouviram e acicatados conceberam trabalhosas receitas de promessas. Básico na dieta dos romanos, o brasica nabus à medida que as legiões progrediam no terreno passava a ser semeado, mesmo nas ilhas britânicas. Popular e importante na época medieval, na Escócia é considerado como “legume nacional”, em França ganharam fama os provenientes de Nantes, Meuax e Orleães, na Alemanha os de Tellow, em Espanha os da Galiza, por cá além dos criados no Nordeste Transmontano, também os provenientes das terras da Gândara tinham e têm fama. O ilustre autor de O Conde de Monte Cristo, no seu Grand Dictionnaire de Cuisine, acrescenta a Meaux e Orleães, Cressy e Belle-Isle-en-Mer como as terras produtoras dos nabos de melhor sabor, os quais não chegavam a Paris. Refere-o em receitas da cozinha entre as quais a de nabos em sumo e glaceados.
Numa Memória sobre a cultura dos nabos na Beira Alta, apresentada à Academia das Ciências de Lisboa, no ano de 1811, pelo sócio correspondente João Manoel de Campos Mesquita, o autor informa que tanto os Alemães, como os Franceses classificam os nabos em três espécies: nabo de cozinha, ou nabiça, de horta, ou redondos, e silvestre, ou de campo. O gourmet Alexandre Dumas preferia os de cozinha.
Nos momentos de sofrimento dada a falta de alimentos, o nabo consolava os aflitos, num documento de 1637, publicado no Tomo XI, das Memória do Abade de Baçal, o autor depois de enumerar provas de falta de pão, escreve:” chegou-se a tanto extremo que os mais dos homens lavradores sem elle so com fazer grandes olas de nabos e castanhas e ervas de que nasceu daremlhe doenças malignas causadas dos ruins mantimentos tudo por não terem hu real que gastar”. Nos momentos de abastança os nabos alimentavam os animais de trabalho e ajudavam a engordar os porcos sendo co-responsáveis pelo peculiar sabor da carne porcina.
Composto por água e muito rico em fibra a medicina antiga não o dispensava na elaboração de remédios contra a tosse, a ciência viria a mais tarde descobrir no nabo as razões desse proceder, é que ele para lá das vitaminas A, B e C, contém um composto sulfuroso capaz de combater as enfermidades das vias respiratórias.
Além das aplicações culinárias já referidas as cozinheiras faziam dele bons purés, os cozinheiros gratinavam-no envolvendo-o em molhos especiosos e polvilhavam-no com queijo ralado, reconhecidas são as receitas de mousse de nabos, chucrute de nabos e nabos recheados em diversas versões.
E em Bragança como era? Nos tempos antigos era, tradicionalmente, verdura típica de Inverno, dando consistência a sopas e caldos, indispensável nos cozidos substanciosos, nos estufados, escalfados e guisados potenciando o gosto de carnes e enchidos. E agora? Manda a verdade dizer que nos tempos actuais o nabo perdeu fulgor, por essa razão escrevi no passado, importa recuperá-lo no presente a fim de o transformarmos noutro produto de eleição marca Bragança. Até porque diz o ditado: O nabo e o peixe debaixo da geada crescem.

Comeres Bragançanos e Transmontanos
Publicação da C.M.B.

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