O Carrão do Bispo

Dizia há mais de 40 anos, numa aula de Direito Internacional, o ilustre transmontano e a nossa maior referência, Prof. Adriano Moreira, que «a mulher de César não basta ser séria, é preciso parecê-lo».
Isto pode ser transportado para qualquer campo da sociedade e muito mais para a religião. Os primeiros cristãos davam o exemplo, ao ponto de os pagãos comentarem: «vede como eles se amam!». A cerimónia do lava-pés de Cristo aos Apóstolos é um hino à humildade.
Esta cena deve ser o maior guião e é-o para o actual Papa Francisco. Foi com algum incómodo que vi aparecer na televisão o carrão do actual jovem Bispo de Bragança, quando galgou um muro num aparatoso acidente. O vistoso carro não condiz com a região paupérrima do distrito de Bragança e parece-me que em tempo de crise temos todos de dar o exemplo. Comenta-se que o «Senhor Bispo» já adquiriu outro carrão.
Diz o povo que «compra quem pode», mas um pastor duma diocese tem de dar o exemplo e muito mais em tempo de grande crise. Nos 25 anos de arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, recebeu prendas de mais de cinquenta mil euros e dos presentes fez dinheiro para ajudar a obra social dos mais necessitados. Os padres da minha paróquia (S. Victor), andam em carros utilitários e recebem o ordenado mínimo mensal. O dinheiro excedente vai para a obra social.
Acho que nos seminários se devia insistir mais na modéstia dos padres seculares, porque o verdadeiro valor vem de dentro de cada pessoa e não dos carrões. Por exemplo, o D. Manuel Clemente, não precisou de luxos para alcançar o «Prémio Camões», o maior galardão nacional da cultura. Até em Bragança, o «Abade de Baçal», chegou a ser confundido com um mendigo e conquistou um lugar na cultura nacional.

Jorge Lage
in:jornal.netbila.net