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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

… à beira do silêncio… minha aldeia meu amor

Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

À beira da aldeia às vezes o silêncio dói. A cadela ladra por desfastio e os vizinhos falam do tempo e das maleitas. O sino toca, para a missa, ou para a via-sacra e pequenos grupos de mulheres fazem-se à devoção e a aldeia fica mais deserta. A cerca da escola há muito que emudeceu, longe do bulício de trinta, quarenta alunos que rezavam a Santa Luzia para que a palmatória fosse leve na urgência do aprender. A escola há muitos anos que fechou as portas e a cerca da escola, arranjadinha, espera pela festa de São Lourenço para se animar na timidez do baile de poucos dançadores.
Agosto não tarda. Os que partiram na saga da emigração hão de voltar para o aconchego do abraço, para a emoção do beijo. 
Meu filho quanto me tardaste, hão de dizer os mais idosos lavados em lágrimas como se as ausências fossem tantas, em comparação com a brevidade das chegadas.
De novo a cerca da escola se vai animar com uma infinidade de crianças que falam todas as línguas.
O Sr. Padre vai ficar contente com a igreja cheia de devotos que se preparam para a procissão e para levar o pálio.
Nos cafés a cerveja será fresca e as valentias dos portugueses, por esse mundo de Cristo, vão-se ampliar até ao infinito.
O silêncio da aldeia apazigua-se, no “meu querido mês de Agosto” e assim sonhamos com uma aldeia povoada, com muitas crianças, mulheres e homem que vieram de longe para ficar.
Mas Agosto destemperado vai passar. As águas do ribeiro continuarão a passar debaixo da ponte, indiferentes… e nós vamos ver partir os que chegaram e a aldeia, de novo, será o silêncio que já nos dói nesta morte anunciada do nordeste.
… não vamos capitular… vamos resistir.

Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”. 

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