(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."
Durante anos ouvi dizer, que o ar do rio era prejudicial para a saúde: humidade, nevoeiros constantes, eram causadoras de graves lesões no aparelho respiratório.
Os “ricos” fugiam das margens do Douro, para morarem em lugares isentos de nevoeiro e da perigosa poluição citadina, onde havia “vapores” doentios, saturados de gasolina.
Só os pobres e a classe-media (que por vezes é mais necessitada que os pobres,) aceitavam viver na proximidade do rio. Não pela beleza das margens ribeirinhas, mas por motivos económicos.
Na velha cidade, nas ruas e ruelas dos bairros típicos, as casas antigas, de granito, algumas brasonadas, eram habitadas por gente do povo: homens e mulheres, quase sempre sem educação, e alguns de duvidosa moral.
Nos últimos anos, com a invasão dos turistas. Turistas endinheirados e encantados pela beleza do antigo burgo, começaram adquirir casarões: uns, transformaram-nos em hotéis; outros, em prédios de apartamento de luxo.
Logo a elite – filhos daqueles que se refugiaram em zonas livres de nevoeiros matinais, – vendo estrangeiros a comprar casas antigas, apressaram-se a alugar ou adquirir moradias, junto ao rio e ruas, outrora degradadas! …
Como tudo isso é curioso e engraçado!...
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Nos anos setenta, meu pai, que era proprietário de velha casa barroca, delapidada, foi intimado a destruí-la, no prazo de três meses.Como não tinha recursos de a restaurar, nem meios económicos para a destruir, não teve outro remédio, depois de argumentar – perante as autoridades, – que era prédio barroco, de grande valor arquitetónico a vende-la ao desbarato Quem a comprou não a destruiu… As ruínas só eram perigosas se meu pai fosse proprietário! …
Decorrido décadas, passei por ela e fiquei pasmado: estava bonita!: lavadinha e pintadinha! ….
Interroguei mulher, que passava, e fiquei a saber, que fora adquirida pela Câmara, por ser casa muito antiga…
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Outrora, os “ricos”, fugiam dos nevoeiros; e os “ pobres” viviam nos bairros antigos e zonas ribeirinhas. Agora, os “pobres”, mudam-se para a periferia; e os “ricos, habitam o centro e zonas típicas.Como tudo muda! … Como o parecer se modifica consoante a época… e o interesse das minorias….
Humberto Pinho da Silva, nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA.Foi redactor do jornal: “Notícias de Gaia"” e actualmente é o responsável pelo blogue luso-brasileiro: " PAZ".
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