Investigadores alertam para a necessidade da criação de "planos de monitorização" para a incidência de micro-organismos em águas doces, segundo um estudo realizado por uma equipa europeia em colaboração com o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha (CIIMAR), no Porto.
Em declarações à Lusa, Vítor Vasconcelos, presidente do CIIMAR e professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, explicou hoje que o estudo teve como principal objetivo "analisar a incidência de cianobactérias [micro-organismos que ocorrem em qualquer massa de água doce] e as suas toxinas", bem como avaliar o impacto da temperatura na ocorrência destes micro-organismos.
"Este estudo permite evidenciar a necessidade de planos de monitorização nacionais e para um possível impacto significativo do aquecimento global na toxicidade das cianobactérias. Tal terá consequências importantes em termos de saúde humana e ambiental que importa prevenir", frisou.
O estudo, publicado na quinta-feira na revista Scientific Datal, desenvolveu-se no âmbito da ação CYANOCOST e reuniu investigadores de 104 instituições europeias que analisaram e estudaram no total 369 lagos.
Segundo Vítor Vasconcelos, estas toxinas podem causar "a morte de peixes e animais que utilizem a água para consumo", assim como "intoxicações humanas graves que podem entrar no organismo através do consumo de água, animais ou plantas contaminadas".
"Analisamos não só as toxinas mais comuns, como as microcistinas, que afetam sobretudo o fígado e podem causar tumores hepáticos, as cilindrospermopsinas, que causam danos em órgãos múltiplos, e as saxitoxinas, que afetam o sistema nervoso podendo causar a paralisia muscular e eventualmente a morte", sublinhou.
O CIIMAR, em parceria com o Instituto Politécnico de Bragança, analisou a diversidade e densidade das cianobactérias em água doce de algumas albufeiras do distrito de Bragança como Gostei, Azibo, Peneireiro, Serra Serrada e Miranda do Douro.
Para Vítor Vasconcelos, os resultados obtidos com este estudo podem vir a contribuir "para uma maior consciencialização das autoridades nacionais sobre a necessidade de monitorizar estes organismos e as suas toxinas em águas destinadas a vários usos, de modo a implementar a legislação necessária".
As primeiras publicações internacionais sobre a ocorrência de toxinas e cianobactérias em lagos e rios portugueses começaram a ser desenvolvidas por Vítor Vasconcelos, em 1990, e conduziram à inclusão na legislação nacional da obrigatoriedade de análise destes micro-organismos em águas destinadas ao consumo humano.
Em Portugal, o plano nacional de monitorização de cianobactérias foi implementado em 1997 pela Direção Geral da Saúde e pelo Instituto da Água, o que permitiu, na época, "conhecer o estado das águas interiores portuguesas".
"Em Portugal esperamos que se possa voltar a fazer um estudo de âmbito nacional, de modo a aferir a evolução da ocorrência de cianobactérias e das suas toxinas, em especial, as que são emergentes. Os novos dados permitirão assessorar as autoridades nacionais no sentido de uma eventual atualização da legislação neste domínio", acrescentou.
Agência Lusa
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