Olá familiazinha, vamos de novo falar para o nosso povo. Cada vez que me lembro que já são 29 anos de Família do Tio João, casados no passado dia 29 de Outubro, segunda-feira, e que começámos numa simples brincadeira, sem sequer imaginarmos no que iria dar e agora é uma coisa muito séria. Se quando começámos era uma incógnita, passados 29 anos é uma grande certeza, porque fazemos parte da vida de muita gente que não tem consigo a família. Todos os dias, tenho cada vez mais vontade que sejam as 6:00 horas da manhã para estar ao serviço do povo. Uma palavra de agradecimento a todos aqueles que há já 29 anos têm a pachorra de me terem em suas casas. No passado fim-de-semana, desde sexta a Domingo, tivemos mais uma peregrinação ao santuário de Nossa Senhora de Lurdes, em França. Recordo que este foi exactamente o destino da primeira das 273 viagens que já fizemos ao longo destes anos. Ao todo, já levámos mais de 1500 pessoas a Lurdes, uma vez com seis autocarros, várias vezes com dois e três e desta vez com um. Este ano tivemos a sorte de ter calhado no mesmo dia da peregrinação do exército francês a Lurdes e de termos visitado Cauterets e o alto dos Pirinéus. O nosso jornal está a comemorar as Bodas de Prata da sua existência. A página do Tio João começou há cerca de 20 anos e foi editada durante um ano e meio, tendo tido um interregno de 15 anos, retomando a publicação contínua há cerca de 3 anos a esta parte. Desejamos que a nossa página continue a fazer parte deste jornal nos próximos 25 anos. A última semana foi uma daquelas em que o nosso “ministro dos parabéns” menos cantou, porque houve pouca gente a fazer anos. Mesmo assim estiveram de parabéns a Patrícia Mendes (29), de Lagoas (Valpaços), que nasceu no mesmo dia do programa; os filhos da tia Denérida, de S. Julião (Bragança), a Maria Luísa (43) e o João Luís (41), que fazem anos no mesmo dia; a tia Donzília, de Casas da Estrada (Alijó) e a Eugénia Moreira (50), de Oleirinhos (Bragança). A todos desejo saúde e paz, que o resto a gente faz. Deixo-vos com o tio Alcino Dançarino, que tão solicitado é nas nossas festas para dançar, coisa a que ele nunca se nega, não parando do princípio ao fim. Vamos então conhecer melhor o nosso tio dançarino.
Em que ano é que nasceu? Em 1931.
Como é que foi a sua infância. O que é que recorda mais?
Recordo-me da muita fome que agarrei… Uma sardinha para três. Ia à Torre de Dona Chama, com vinte bois e um bolso cheio de castanhas assadas. Calçado com uns socos e sem meias. Também ia a Macedo de Cavaleiros três vezes por mês, a conduzir vinte bois e vacas em troca de 100 escudos, mas andava dois dias. Ia para lá com os animais e depois vinha para cá a pé.
Como foi depois a sua vida?
Depois casei, deixei a mulher grávida e dois filhos e fui para França em 1964.
Diga-me lá porque é que é conhecido como Alcino Dançarino? Onde é que arranja tanta energia para quando vai às festas do Tio João estar a dançar do princípio ao fim?
Tenho muitos conhecimentos, Tio João e como eu sou educado, tenho muitas pessoas amigas e elas próprias me chamam para dançar.
Mas o gosto pela dança já é desde garoto, ou só de agora?
Onde se descobriu que eu era artista para a dança foi no “Bolero”, em França, com a Linda de Suza, onde ganhei um prémio.
Como é que com 87 anos consegue ainda dançar tanto sem se cansar? Eu sei que há muitas mulheres que gostam de dançar consigo, porque você sabe realmente dançar…
É porque eu lhes dou muito carinho e dobro-as… Depois ao irem já a quatro centímetros do chão do baile, falo-lhes com amor e este amor prende-as e levantam-se logo, porque dizem que nunca viram dar assim carinho…
Nesta nossa última festa do Piquenicão em Vinhais, com quantas mulheres dançou?
Eu sei lá! Mais de vinte ou trinta. Elas é que me chamam porque eu sou educado…
E agora com esta idade o que espera da vida?
Já falei com o S. Pedro e disse-lhe que quero chegar aí aos 98, porque o meu pai faleceu com 94… Não sei se seria a sonhar ou pessoalmente. Ele disse-me que a porta se abria para mim mas levando-lhe uma para ele e outra para mim, ao que eu lhe perguntei se a queria gorda ou magra. O S. Pedro respondeu-me que gosta mais da carne e eu disse-lhe que gostava mais dos ossos, porque não tenho tanto trabalho nem tanto peso. Portanto ele fica com a gorda e eu fico com a magra…
Tio João
in:jornalnordeste.com
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