O quadro de árbitros da Associação de Futebol de Bragança (AFB) conta apenas com duas mulheres, Lília Martins e Eva Carneiro. Mas, em breve, outras cinco podem elevar o número da representação feminina, que já terminaram o estágio, num meio onde os homens ainda estão em grande número.
Lília Martins tem 22 anos e chegou a Bragança há quatro para estudar Ciências Biomédicas Laboratoriais, no IPB.
A árbitra, natural de Viana do Castelo, cedo decidiu seguir aquilo que diz ser “uma paixão”. A arbitragem entrou na vida de Lília aos 14 anos, depois de ter jogado futebol e voleibol.
Em Viana há muito que as mulheres conquistaram o meio, ainda assim as mais jovens não se livram de alguns olhares indiscretos e até mesmo de umas ditas ‘bocas’. “Ouvi algumas coisas do tipo ‘vai lavar a louça’. A típica boca machista”, recordou Lília Martins.
Apesar de estar há quatro anos em Bragança, a árbitra só esta temporada é que se mudou para os quadros da AFB. Em Viana do Castelo integrava duas equipas de arbitragem nos nacionais de juniores masculinos e 1ª e 2ª divisão feminina. Uma experiência enriquecedora. “O nacional dá-nos mais bagagem. Aprendi muito”, confessou.
O facto de querer assumir o papel de árbitra principal levou-a abdicar do nacional e começou a arbitrar em Bragança. É a única mulher a dirigir jogos de seniores masculinos no distrito e confessa que os jogadores e treinadores ainda se estão a habituar à ideia. “Todos ficam a olhar, especialmente quando arbitro as equipas pela primeira vez”.
Ainda assim, Lília Martins considera que as mulheres são “mais comunicativas” que os homens. “Os jogadores e os treinadores penso que respeitam mais quando o árbitro é uma mulher, até brincam mais e aceitam melhor as decisões”.
O objectivo da árbitra é regressar ao nacional e há uma grande possibilidade de isso acontecer já na próxima temporada. A jovem diz ser “muito exigente” consigo própria e não facilita no que diz respeito à sua preparação física e teórica. “ Hoje em dia o árbitro tem uma preparação que em outros tempos não tinha. Por exemplo, a nível teórico tem havido várias alterações e temos que estar em constante actualização para não fazer asneiras”.
E para ser árbitro é “preciso ter alguma coragem”, pois é alguém que está sujeito à crítica, ter o livro das regras numa não e o bom senso na outra é fundamental. “São 17 leis de jogo e nós acrescentamos a 18, que é o bom senso. É uma lei que instituímos e que é importante para fazermos um bom trabalho. Nem sempre é fácil, pois lidamos com muita gente, mas tentamos ser equilibrados para não sermos mal interpretados”.
Eva Carneiro tem apenas 15 anos e já segue as pisadas do pai
Arbitrar a Liga dos Campeões feminina é o sonho de Lília Martins já Eva Carneiro gostava de chegar à Liga e dirigir um clássico do futebol português entre Benfica e Porto.
E se tivesse que dar um cartão vermelho a um jogador dos grandes clubes? “Seria ao Acuña. Ele reclama muito”, respondeu a rir.
Mas vamos ao princípio da história da jovem de 15 anos. Diz o ditado que ‘filho de peixe sabe nadar’. Pois bem, Eva é filha de Carlos Sá Carneiro, árbitro do campeonato distrital de futebol, e acabou por seguir as pisadas do pai.
Eva Carneiro iniciou-se na arbitragem há um ano e é árbitra-assistente. Sempre muito próxima do público confessa que não é fácil fazer ouvidos moucos ao que vem da bancada, mas as maiores reclamações vêm do relvado. “Os jogadores são mais complicados, sem dúvida que reclamam mais, mas penso que respeitam mais quando o árbitro é uma mulher e não se exaltam tanto” disse.
Para Eva o grau de exigência dos jogos de seniores “é maior” do que os da formação, sendo por isso maior a concentração. “Nos jogos de seniores a concentração tem que ser ainda maior, pois tem de haver um grande entendimento e coordenação com o árbitro principal”.
Neste seu ainda curto trajecto, Eva diz ouvir atentamente os conselhos de quem sabe, neste caso do pai. “Diz para não me preocupar com o que dizem da bancada ou com o que dizem os jogadores. Que devo concentrar-me no que estou a fazer”.
AFB quer ver crescer o número de mulheres na arbitragem
O caminho das mulheres na arbitragem no distrito de Bragança ainda é longo e a associação de futebol tem promovido os cursos nas escolas, sobretudo no IPB. “O curso é gratuito. No activo temos apenas a Lília e a Eva, mas temos mais cinco ou seis raparigas que em breve vão começar a arbitrar. O mais difícil não é formar árbitros ou trazer as mulheres para a arbitragem, o mais difícil é fazer a retenção de árbitras mas isso acontece também no masculino”, disse Bruno Carvalho, presidente do Conselho de Arbitragem da AFB.
No sector feminino, Lília Martins tens boas hipóteses de subir ao quadro nacional. Em masculinos, segundo Bruno Carvalho, João Parreira, David Dias, Cláudio Miranda e Valter Pino são os candidatos da AFB esta temporada no futebol.
Jornalista: Susana Madureira
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