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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 4 de janeiro de 2020

O PIÃO DE CORDA

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


Nesta tarde cinzenta e chuvosa de Dezembro, ao reler Azorin ( Las Confissiones de um Pequeño Filósofo,) ao chegar ao emocionante trecho, evocador do livrinho, que recebera em criança; livrinho, que era seu encanto, e o trazia, em recato, no bolsito, até que, um dia, o professor, descobriu-o… e desapareceu para sempre…
Azorin, já famoso escritor, recorda, com infinita saudade, o livro “encantado”, que sumira…arrebatado, bruscamente, pela mão do mestre.
Este trecho emocionante, evocador dos anos de infância, fez-me recordar a comovente cena, passada há muito e muitos anos:
Eu tinha um chefe, o Sr. Nunes, que era conhecido, pelos neófitos da firma, como a “ Fera”. Andava sempre zangado, carrancudo, pronto a ralhar.
Uma manhã, cor de lousa, também de Dezembro. Dezembro sombrio, estava em conversa, com colega, já idosa, D. Laura Cunha, quando esta me confidenciou:
- “Quer amansar a “Fera” ‘É simples: ofereça-lhe um pião de corda…
Dito e feito. Era pelo Natal. Comprei um pião de corda. Embrulhei-o em papel de seda e cobriu-o com outro, brilhante, com desenhos natalícios.
Esperei a saída de todos, do local de trabalho, e acompanhado da colega, entreguei-o, receoso da reacção.
Olhou-me surpreso. Recusou-o; estendendo a mão direita, espalmada, num gesto de total reprovação.
Depois…rasgou o papel, lentamente… e começou a dar corda…
O pião girou…girou…girou sobre a velha mesa de madeira, e os olhos da “Fera”, humedeceram-se de saudosa alegria. De voz profunda e embargada, com grossas bagadas deslizando pelas faces morenas, sulcadas de leves rugas, pronunciou com palavras trancadas na garganta:
“ - Quando eu era garotinho, desejei ardentemente ter um pião de corda. Pedi…Pedi…Pedi…Fiz beicinho…Bati o pé…mas ninguém mo deu…
- “ Os meninos ricos, brincavam com um de folha litografada…Olhava-os invejoso, de olhos aguados…
-” Ainda agora, quando passo na Rua Sá da Bandeira e os vejo, nos dois bazares, fico a olhar…e lembro-me dos tempos tristes de menino pobre, das Fontainhas…
A “Fera”, não só ficou mais mansa, como passou a ser meu amigo e protector.
Tudo por causa de um simples pião de corda…

Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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