Durante muitos anos, Portugal teve apenas uma língua oficial: o português. O dialeto mirandês sobreviveu centenas de anos no isolamento, e só em 1999 lhe foi reconhecido o estatuto de segunda língua oficial do país, pela Assembleia da República.
Muito antes disso, em 1882, o filólogo José Leite de Vasconcelos já tinha revelado a Portugal e ao mundo que havia uma outra forma de falar na conhecida como Terra de Miranda, formada pelos concelhos de Miranda do Douro, Vimioso e Mogadouro, no distrito de Bragança.
Muito antes disso, em 1882, o filólogo José Leite de Vasconcelos já tinha revelado a Portugal e ao mundo que havia uma outra forma de falar na conhecida como Terra de Miranda, formada pelos concelhos de Miranda do Douro, Vimioso e Mogadouro, no distrito de Bragança.
Distribuição do asturo-leonês na Terra de Miranda. Por Denis Soria |
Isolada naquele espaço durante centenas de anos, dadas a condições geográficas do seu próprio território natural, a língua foi sendo transmitida por via oral a partir do latim popular e como uma ramificação do asturo-leonês.
Foi apenas em 2008 que foi estabelecida uma convenção ortográfica, patrocinada pela Câmara de Miranda do Douro e levada a cabo por um grupo de linguistas, com vista estabelecer regras claras para escrever, ler e ensinar o mirandês, bem para como estabelecer uma escrita o mais unitária possível.
Alcides Meirinhos não tem dados de quantas pessoas possam falar mirandês neste momento, mas garante que, para além das aldeias de Miranda do Douro, “no Porto fala-se muito mirandês, em Bordéus fala-se imenso mirandês. Portanto, as pessoas que estão na diáspora falam a língua mirandesa”.
Para o escritor e tradutor, “houve uma época em que se falou pouco mirandês”. “Porque o estigma era demasiado grande”, confessa. O próprio Alcides recorda que em casa e na escola não podia falar mirandês. Era apenas nas brincadeiras com os amigos, na rua ou no recreio, que o escritor se expressava em mirandês, correndo até o risco de ser colocado de parte se falasse em português.
Foi apenas em 2008 que foi estabelecida uma convenção ortográfica, patrocinada pela Câmara de Miranda do Douro e levada a cabo por um grupo de linguistas, com vista estabelecer regras claras para escrever, ler e ensinar o mirandês, bem para como estabelecer uma escrita o mais unitária possível.
Alcides Meirinhos não tem dados de quantas pessoas possam falar mirandês neste momento, mas garante que, para além das aldeias de Miranda do Douro, “no Porto fala-se muito mirandês, em Bordéus fala-se imenso mirandês. Portanto, as pessoas que estão na diáspora falam a língua mirandesa”.
Para o escritor e tradutor, “houve uma época em que se falou pouco mirandês”. “Porque o estigma era demasiado grande”, confessa. O próprio Alcides recorda que em casa e na escola não podia falar mirandês. Era apenas nas brincadeiras com os amigos, na rua ou no recreio, que o escritor se expressava em mirandês, correndo até o risco de ser colocado de parte se falasse em português.
“Havia este contra-senso: se eu falo português em casa, aprendo o português, na rua não posso falar português porque senão sou logo apontado e dizem-me ‘sós fidalgo’”, explica Alcides Meirinhos. “A língua mirandesa sempre foi escorraçada quer das igrejas quer das escolas”, continua. E por isso, o escritor ouviu várias vezes uma frase que lhe ficou gravada na memória: “Se não falares português nunca hás-de ser ninguém”.
Apesar de tudo, Alcides acredita num futuro sorridente para o mirandês e tem fé nas novas gerações. “As crianças sentem vontade em falar a língua mirandesa”, afirma. “Esta geração mais jovem vê a língua mirandesa como uma questão identitária”, atira.
A introdução do ensino da língua mirandesa, como opção, no currículo das escolas do ensino básico do concelho de Miranda do Douro, no ano letivo de 1986/87, terá também contribuído para o aumento do interesse em aprender mirandês por parte das crianças e jovens.
A tradução de obras tão conhecidas como “Astérix”, “O Principezinho” e “Os Lusíadas” para o mirandês foram outras medidas que também contribuíram para encorajar os jovens a aprender a língua.
A música também foi um dos grandes responsáveis pela manutenção do mirandês ao longo destes séculos como língua mais usada pelos mirandeses. Um exemplo disso é o grupo musical Galandum Galandaina com canções em mirandês como “Nós tenemos muitos nabos”.
Estes fatores terão contribuído, cada um à sua maneira, para a emergência de um renovado interesse pela língua e pela cultura mirandesas, cujas faces mais visíveis são também o nascimento de uma literatura em mirandês, a colocação de toponímia em quase todas as localidades linguisticamente mirandesas e o aparecimento em diversos órgãos de comunicação social.
Contudo, há ainda muito por fazer. Alcides Meirinhos considera que o futuro passa pela assinatura e ratificação, por parte do Governo português, da Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias (CELM), dando assim um novo impulso ao mirandês.
Mas o tradutor é otimista e acredita que estamos numa mudança de paradigma. “Neste momento há uma franja de pessoas que tem vaidade em falar a língua mirandesa, tanto os jovens como os adultos”, explica. “No fundo é isso que nos identifica”, conclui.
Ls Dies de la Criaçon
haberien, dizen, ls diuses criado
cielo i tierra, lhuç, auga, streilhas, sol i lhuna,
i todo l que la tierra i augas bibe:
tamien haberien criado homes i mulhieres,
de barro assoprado, de costielhas:
rastreiros diuses, artesanos de puolo i uosso;
ls homes i mulhieres criórun la fala, que se fizo lhéngua,
recriando-se nesse antre todos más houmano ato:
assi maciu lálma:
assi daprendimos l tiempo, que mos fizo stória,
atando-mos zde hai séclos cun rosairos de palabras.
Amadeu Ferreira
Apesar de tudo, Alcides acredita num futuro sorridente para o mirandês e tem fé nas novas gerações. “As crianças sentem vontade em falar a língua mirandesa”, afirma. “Esta geração mais jovem vê a língua mirandesa como uma questão identitária”, atira.
A introdução do ensino da língua mirandesa, como opção, no currículo das escolas do ensino básico do concelho de Miranda do Douro, no ano letivo de 1986/87, terá também contribuído para o aumento do interesse em aprender mirandês por parte das crianças e jovens.
A tradução de obras tão conhecidas como “Astérix”, “O Principezinho” e “Os Lusíadas” para o mirandês foram outras medidas que também contribuíram para encorajar os jovens a aprender a língua.
A música também foi um dos grandes responsáveis pela manutenção do mirandês ao longo destes séculos como língua mais usada pelos mirandeses. Um exemplo disso é o grupo musical Galandum Galandaina com canções em mirandês como “Nós tenemos muitos nabos”.
Contudo, há ainda muito por fazer. Alcides Meirinhos considera que o futuro passa pela assinatura e ratificação, por parte do Governo português, da Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias (CELM), dando assim um novo impulso ao mirandês.
Mas o tradutor é otimista e acredita que estamos numa mudança de paradigma. “Neste momento há uma franja de pessoas que tem vaidade em falar a língua mirandesa, tanto os jovens como os adultos”, explica. “No fundo é isso que nos identifica”, conclui.
Ls Dies de la Criaçon
haberien, dizen, ls diuses criado
cielo i tierra, lhuç, auga, streilhas, sol i lhuna,
i todo l que la tierra i augas bibe:
tamien haberien criado homes i mulhieres,
de barro assoprado, de costielhas:
rastreiros diuses, artesanos de puolo i uosso;
ls homes i mulhieres criórun la fala, que se fizo lhéngua,
recriando-se nesse antre todos más houmano ato:
assi maciu lálma:
assi daprendimos l tiempo, que mos fizo stória,
atando-mos zde hai séclos cun rosairos de palabras.
Amadeu Ferreira
Ângela Coelho
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