Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Começa ao longe a divisar-se uma fímbria de escuridão que bordeja o mar e sustenta o disco quase ao rubro que lentamente se vai escondendo no horizonte e parece caindo para o abismo, sustendo os últimos raios de luz que o ocaso teima em nos oferecer. Mais um dia que acaba, neste caminhar lento e devorador que tem um desígnio, o de nos acompanhar. Quando a estrada estiver percorrida, poderemos então saber se ela continua ou se finda como o dia se findou. A Alvorada que se alçará para nos chamar à vida com o seu deslumbrante halo dourado porá uma cor de ouro na obra do Criador! E na mente da humanidade!
Depois virá o dia que nos absorverá com os seus constantes apelos para que vivamos e saibamos ver o que Deus colocou no céu, que é o templo que reservou às aves e que nós teimamos ingenuamente em profanar.
Tudo o que ocorre após a Aurora nos deve tocar e trazer o gosto pela vida que naturalmente nos foi dado viver e apreciar. Naturalmente cada humano terá uma sensibilidade diferente pois valoriza as várias partes do todo diferentemente do seu semelhante. E é exatamente neste ponto da minha reflexão que dou por mim a pensar na obra de Deus que é perfeita e naquela dos homens que o não é.
Nas minhas caminhadas pela cidade de Bragança e porque de madrugada olho para a Aurora e à tarde me delicio com o Ocaso, durante o outro tempo reparo na cidade dos homens e se vejo coisas belas, limpas e bem cuidadas, vejo também coisas que não são belas e são até bastante feias. Na passagem quase diária que faço pelo Jardim António José de Almeida e no que se designa popularmente por POLIS, o meu semblante se fecha e os meus pensamentos se agitam de desconforto.
As papeleiras que têm a missão de receberem o pequeno lixo não são limpas há quase um ano. Os muros estão a começar a ruir dado o vandalismo que os vai destruindo e as paredes do edificado, que foi pintado, está hoje conspurcado a um ponto que não fica nada bem, nem estética nem sanitariamente. E o rio nem será bom falar dele.
A boa disposição que me dá a Aurora ao despertar vai-se esvaindo, porque a minha alma se alegra quando da minha janela vejo o Sol levantar-se de manhã e dourar os montes da Lombada e a Torre do Castelo e se amesquinha quando passo nas margens do Fervença e vejo aquele estado de coisas que tem uma razão para estar assim: neligência!
Posto este caso e comparando-o muito teoricamente com o que poderá vir a ser no futuro, reparo que nos terrenos onde esteve a Quinta da Trajinha, vulgo, do Novo-rico se medem já os vários talhões que serão destinados a constituírem um Parque que sem que eu conteste a sua construção me levam a pensar se não será mais um espaço que tal como o atrás citado se transforme em mais um a somar à nossa vergonha.
Eu não sou contra o progresso da cidade, sou apenas adepto da manutenção dos espaços e muito particularmente dos que foram construídos para o lazer de adultos e crianças.
Peço a quem me lê que pense em qual será o número diário de crianças que frequenta o dito espaço, onde o bar nunca teve gente e hoje está fechado e os cães têm WC que não usam e a gente só tem equivalente nas traseiras do Edifício da Biblioteca Adriano Moreira.
Fui também surpreendido com a construção de uma escada rolante na Rua onde eu nasci que levará as pessoas à Avenida Sá Carneiro. Também não sou contra a sua construção, mas pergunto, porque estão a construir a dita escada se a envolvente está esconsa, em decadência absoluta do lado esquerdo quem sobe, já que as casas depois da do Professor Maximino estão todas a cair e a própria Torralta está a vergonha que todos conhecemos. A oficina do Germano está a precisar de um arranjo e a Escada Rolante se algum dia funcionar, peço a Deus que a faça mais resiliente do que o Ascensor do Parque Subterrâneo da Praça Camões.
Bragança, 23/11/2020
A. O. dos Santos
(Bombadas)
Sem comentários:
Enviar um comentário