Casario de Rio de Onor, Bragança |
Mas, para além desse aspeto comunitário, não menos interessante é o facto de Rio de Onor ser apenas uma parte de um aglomerado maior que se estende pelos dois lados da fronteira. Do lado espanhol, Rihonor de Castilla; do lado português, Rio de Onor. Dois nomes, dois países; mas a realidade encarregou-se de eliminar a fronteira. Para quem lá vive, é como se as duas aldeias fossem uma só: são, simplesmente, o “povo de acima” e o “povo de abaixo”.
A banhos no Rio Onor, afluente do Rio Sabor |
Estava com pouco tempo, dizia, pelo que não tive oportunidade de fazer algo que tanto me enriquece em viagens por todo o mundo, muito especialmente em ambientes rurais como os que se encontram nas aldeias da Terra Fria de Trás-os-Montes: conversar com os habitantes locais. O meu conselho é, pois, que opte por visitar Rio de Onor sem pressa.
Ainda assim, deu para vaguear pelas ruas empedradas da aldeia; atravessar as pontes e espreitar a sua igreja; conhecer a antiga Casa do Touro agora transformada em museu; apreciar as casas de xisto e os carabelhos; e até ser testemunha da abertura de um novo espaço de convívio e alojamento turístico: a Casa do Rio.
Eis, pois, o que ver e fazer em Rio de Onor, numa visita de curta duração. Antes disso, porém, convém perceber um pouco melhor de que se trata esse espírito comunitário da vida da aldeia. Vamos a isso.
A “aldeia comunitária” de Rio de Onor
Rio de Onor é conhecida pelo seu caráter comunitário, mas talvez o leitor se interrogue em que é que isso se traduz na prática. E a resposta é muito simples: em quase todos os aspetos da vida em sociedade.
A verdade é que a partilha e entreajuda era lei entre os habitantes de Rio de Onor e Rihonor de Castilla. Os fornos e os moinhos eram comunitários – e partilhados entre todos; havia entreajuda nas tarefas agrícolas; havia um único rebanho, pastoreado por todos, de forma rotativa. E até o touro era comunitário!
Mais. A partilha de tarefas era levada tão a sério que as infrações eram registadas na chamada “vara da justiça” e sancionadas com multas (pagas em vinho).
E o curioso é que, ainda hoje, esse espírito comunitário parece permanecer vivo. Tendo por verdadeiro o que me contaram in loco, dias antes de visitar Rio de Onor os habitantes da aldeia reuniram-se para limpar alguns espaços públicos (algo que já vi acontecer quando visitei o Soajo). “Um por todos, todos por um”, como no lema dos Três Mosqueteiros. É simplesmente fantástico.
Visitar Rio de Onor: o que ver e fazer
Casa do Touro
Entrada da Casa do Touro |
Instalada no espaço que acolhia o touro da aldeia, a Casa do Touro foi recuperada e transformada num modesto espaço museológico dedicado à história e cultura de Rio de Onor.
Nas palavras da Câmara Municipal de Bragança, “a Casa do Touro trata temáticas como o comunitarismo, a regência do Conselho, o touro do povo e as festas dos rapazes, que, recorrendo a novas tecnologias, nos transporta para essas realidades de outrora”. Uma espécie de espaço de memórias, portanto.
Infelizmente, e dadas as restrições provocadas pela pandemia, não pude usar os óculos de realidade virtual e viajar no tempo, recuando algumas décadas para vivenciar a Rio de Onor de então. Foi pena.
Ao lado, fica a ponte romana da aldeia.
Ponte Romana de Rio de Onor
O meu filho Tiago junto à ponte romana de Rio de Onor |
Seguramente um dos elementos arquitetónicos mais marcantes de Rio de Onor, a ponte romana sobre o Rio Onor une as duas margens da aldeia com suprema elegância. Não tem como ser ignorada.
Igreja Matriz de Rio de Onor
Fachada principal da Igreja Matriz de Rio de Onor |
A Igreja Paroquial de Rio de Onor, também conhecida como Igreja de São João Baptista, é um dos edifícios mais emblemáticos da aldeia.
Era sábado e, talvez por isso, encontrei a igreja aberta. No seu interior decorria uma cerimónia religiosa, pelo que, resisti a incomodar e tirar fotografias. Mas vale a pena visitar.
Casas de xisto de dois pisos…
Casas de Rio de Onor |
Tal como em boa parte das aldeias transmontanas, as casas tradicionais de Rio de Onor têm regra geral dois andares, são construídas em alvenaria de xisto empilhado, varandas estreitas e acesso por escadas de pedra muito toscas. O piso térreo acolhia os animais; e, o de cima, beneficiando do calor vindo de baixo, servia de habitação familiar.
Hoje em dia, muitas dessas casas foram recuperadas, mantendo o piso térreo em xisto e o segundo rebocado a branco. São, na minha opinião, muito bonitas.
… e seus carabelhos
Fechadura de madeira (carabelho) na porta de uma casa tradicional em Rio de Onor |
Enquanto percorre as ruas da aldeia, atente nos carabelhos, as tradicionais fechaduras de madeira ainda existentes em várias portas. Um belíssimo pormenor arquitetónico muito característico das casas de xisto de Rio de Onor.
Forno e forja comunitários
Equipamentos para uso comunitário, o forno e a forja eram partilhados entre os habitantes de Rio de Onor e Rihonor de Castilla. Ficam sensivelmente entre as duas povoações. Não deixe de os procurar quando visitar Rio de Onor.
Quando visitar Rio de Onor
Dada a recente popularidade de todo o Parque Natural de Montesinho, evite, se possível, os fins de semana e o pico do verão (principalmente o mês de agosto). Nessas alturas, há muitos visitantes portugueses e espanhóis que aproveitam o fim de semana para uma escapadinha a Rio de Onor, lotando a aldeia – pelo que a experiência é menos interessante.
De resto, caso opte por visitar Rio de Onor durante o inverno, tenha em mente que as temperaturas podem ser mesmo muito baixas; e a neve não é acontecimento raro (o que, diga-se, dá um encanto especial à aldeia). Leve equipamento apropriado.
Em resumo, e como se diz por lá, “em Trás-os-Montes existem nove meses de inverno e três de inferno”. Escolha, pois, a época que mais lhe agradar.
Como chegar a Rio de Onor
A aldeia de Rio de Onor está localizada no extremo nordeste de Portugal, junto à fronteira com Espanha, pelo que fica bastante longe da maioria do território português. Dito isto, e tendo como referência a cidade do Porto, o melhor trajeto é seguir sempre pela A4 em direção a Bragança; e depois pelas estradas EN218 e EN308. São, no total, 235km de viagem.
Onde ficar
Algumas casas de xisto de Rio de Onor foram transformadas em alojamento local – estilo turismo rural ou turismo de aldeia -, e são uma excelente opção para quem tiver tempo e se quiser embrenhar mais profundamente na cultura e tradições da aldeia.
Neste caso, veja a acolhedora Casa de Onor, a Casa da Portela ou a familiar Casa da Ponte (casa inteira, com quatro quartos) – excelentes bases para visitar Rio de Onor. Veja mais opções usando o link abaixo.
Outra alternativa muito válida será ficar a dormir na cidade de Bragança, montando aí a base para explorar a região de Trás-os-Montes. Neste caso, recomendo sem reservas os bungalows Bétula Studios, dos amigos António Sá e Ana Pedrosa, localizados na aldeia de Lagomar, às portas de Bragança.
Para opções mais urbanas, o Baixa Hotel oferece excelente relação qualidade/preço; e o Solar de Santa Maria é uma preciosidade arquitetónica. Seja como for, não faltam hotéis em Bragança, para todos os gostos e orçamentos, veja abaixo.
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