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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O Manso e o Guerreiro VII – VELHAS MALEITAS E SEZÕES

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Para grande espanto do Júlio Manso, o Tomé Guerreiro esperava-o sentado num banquinho de madeira, feito pelo Toninho Carpinteiro, já lá vai um ror de anos, em frente da improvisada mesa de pedra que a velha mó de um moinho lhe proporcionava, muito entretido e interessado a olhar para o ecrã brilhante de um novíssimo computador portátil. 
— Ora vejam só quem é que já se interessa pela tecnologia. 
— Ora essa! A informática não é coutada da gente jovem. Não sabe o meu amigo que a infoexclusão de agora é o equivalente ao analfabetismo do tempo da nossa juventude? Além de que é justo ajudar quem nos ajuda. 
— Essa agora! Ajudar quem? 
— O Bill Gates, claro. O magnata da informática. 
— E é esse que nos ajuda? Cada vez entendo menos. 
— Caro Júlio, saiba que o empresário americano sendo o homem mais rico do mundo, criou uma Fundação que, entre outras coisas, está a financiar projetos de combate à malária. 
— E o que é que isso tem a ver connosco? 
— De duas formas: por causa da malária e porque o consórcio que está a desenvolver uma vacina conta com vários investigadores portugueses, do Instituto de Medicina Molecular, do Instituto Gulbenkian de Ciência, do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical e da Universidade do Minho. 
— Mas isso da malária não é uma doença de África? 
— É sim senhor. Uma doença terrível que só em 2015 matou mais de meio milhão de pessoas. Uma doença que afeta, entre outros, vários países de língua portuguesa. Mas também é uma doença que já andou por aqui e que as alterações climáticas podem muito bem criar as condições do seu regresso. 
— Malária? Por aqui? Não tenho memória de ter ouvido falar... 
— E de Paludismo? E de Sezões? E das Maleitas?
— Não me diga...
— Pois lhe digo. É tudo e a mesma coisa. 
— Das maleitas e sezões ouvi falar muito. Quem é que da nossa idade não se lembra? 
— Pois é! Tiveram muita incidência nas zonas de arrozais dos vales do Tejo e do Sado, mas também no nordeste, sobretudo no Vale da Vilariça.  
— Doença terrível. Havia quem a associasse à Rebofa.
— É provável que sim. O Visconde de Vila Maior descreve o Vale da Vilariça como tendo sido um antigo lago que desapareceu pela deposição de aluviões que foram, por um lado, trazidos das montanhas próximas e por outro depositados pela ação violenta da Rebofa provocada pela configuração específica do Douro ao contornar o Monte Meão.
— E vossemecê sabe como é que uma coisa tem a ver com outra? 
— As maleitas, ou paludismo era e é, provocado pela picada de um mosquito.
— E então? 
— Então que a nata depositada pelas águas revoltas do Douro a que se juntavam as do Sabor, numa zona quente, exposta ao sol e abrigada do frio pela serra de Bornes, configurava um ambiente natural para a existência de focos de mosquitagem que transmitiam a doença a tantos que se dedicavam às lides agrícolas, sobretudo quando o faziam de forma exposta, com pouca roupa a cobrir-lhes o corpo e descalços.  
— Uma doença que atacava sobretudo os mais pobres. 
— Tal como agora, já nessa altura era uma doença ligada à pobreza. E é também isso que valoriza a ação da Fundação Bill & Melinda Gates.  
— Pode explicar melhor?
— A Malária, tal como muitas outras doenças, pode, tudo o indica, ser combatida com medicamentos mas, sobretudo, ser evitada com vacinas. Mas como os possíveis doentes são gente pobre e com poucos recursos não tem merecido a atenção das grandes farmacêuticas. Por isso é importante que instituições que não procuram o lucro, como são as Fundações invistam nestas áreas para que seja possível chegar a resultados práticos.
— E as entidades portuguesas? 
— Todas as entidades portuguesas de que lhe falei, são instituições sem fins lucrativos. O Instituto Gulbenkian de Ciência pertence à Fundação Calouste Gulbenkian que realizou há alguns anos um programa sem precedentes fazendo o rastreamento genético completo da ilha do Príncipe e cujo estudo está na base da atual participação neste consórcio.  
— E acha provável chegarem a uma vacina?  
— É possível. Tal como é possível e regresso do Paludismo ao nosso país fruto do aquecimento global que cria as condições para a reprodução do mosquito que o transmite!

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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