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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 21 de novembro de 2020

O que procurar no Outono: o açafrão-bravo

 Esta semana, numa das minhas caminhadas, encontrei um pouco por todo o lado o açafrão-bravo (Crocus serotinus) a pintar com os tons de azul e lilás das suas flores as bermas dos caminhos que percorri.


Sempre gostei de caminhadas pela natureza. São inúmeros os benefícios de passear por sobreirais, pinhais, montanhas, pastagens, etc. O ar livre faz-me sentir bem, a calma e a serenidade destes locais, ajudam-me a descontrair, a baixar os níveis de stress e, segundo dizem os especialistas, contribuem para a melhoria global do meu sistema imunitário.

Estas caminhadas incentivam à observação do meio e proporcionam uma grande interação com a natureza, levando a explorar tudo o que nos rodeia, desde a flora à fauna.

Esta semana, numa das minhas caminhadas encontrei um pouco por todo o lado o açafrão-bravo (Crocus serotinus) a pintar com os tons de azul e lilás das suas flores as bermas dos caminhos que percorri.

O açafrão-bravo

Esta espécie, também vulgarmente conhecido como cebolinhas ou pé-de-burro, é uma planta perene bolbosa que surge habitualmente após as primeiras chuvas de outono.

A designação científica desta espécie surge da particularidade de apresentar uma floração tardia. O nome do género Crocus deriva do grego – krókos – que significa “açafrão” e serotinus do latim que significa “tarde”, ou seja, que floresce mais tarde.    

Pertence à família das Iridaceae, que engloba outras espécies de monocotiledóneas bastante conhecidas como o íris, os gladíolos e as frésias, e que ostentam flores de cores muito vivas. O nome desta família surge do grego – Iridos – que significa “arco-íris”. Segundo a lenda, a Deusa grega Iris caminhava através de um arco-íris sempre que transportava mensagens de Olimpo para a Terra. Ao longo desse percurso levava consigo pedaços de arco-íris nos pés e quando caminhava na terra, das suas pegadas resultavam flores bastante coloridas e de todas as cores.

O açafrão-bravo é uma pequena planta, com cerca de 6 a 12 cm de altura, aparentemente sem caule. Do bolbo, que se encontra enterrado, surgem diretamente várias folhas longas e finas de cor verde e pequenas hastes florais de cor lilás azulado. As flores surgem geralmente primeiro que as folhas, de forma isolada ou em pequenos conjuntos de 2 a 3 flores por bolbo. A contrastar com a cor das pétalas, no centro da flor surgem 3 longos estames amarelos e um estilete ramificado de cor alaranjada.

Endemismo ibérico

O açafrão-bravo é uma planta endémica da Península Ibérica, ou seja, ocorre naturalmente apenas em Portugal, um pouco por todo o país e em Espanha, na região de Castela e Leão. Aparece preferencialmente em terrenos secos, pedregosos, áridos, frequentemente ácidos, em zonas de matos abertos, pinhais, carvalhais e prados.

Açafrão-bravo. Foto: Meneerke Bloem Meneerke bloem

Um endemismo (do grego – endemos – que significa “indígena”) é uma espécie que se desenvolve numa área biogeográfica muito restrita onde não foi introduzida pelo Homem. Este fenómeno acontece devido à atuação de determinadas barreiras físicas, biológicas e climáticas que levam à separação das populações de determinadas espécies. Os indivíduos passam a reproduzir-se em regiões diferentes, dando origem, muitas vezes, a novas espécies, que pelas suas características próprias apresentam uma distribuição geográfica muito limitada.

Muito utilizado como planta ornamental, o açafrão-bravo divide-se em três subespécies, todas presentes em Portugal Continental. O Crocus serotinus subsp. serotinus que corre no litoral centro e sul de Portugal, preferencialmente em zonas de pastagens secas e em clareiras de pinhais. Prefere solos arenosos. As folhas desta subespécie surgem parcialmente desenvolvidas durante o período de floração. O Crocus serotinus subsp. clusii ocorre na região centro de Portugal, em zonas de pastagens e prados e em áreas montanhosas. Adaptado a todo o tipo de substrato desde que não muito seco. As folhas surgem apenas após a floração. O Crocus serotinus subsp. salzmannii ocorre na região norte, em zonas de prados de montanha, clareiras de pinhais, orlas de bosques de carvalho e matos. Prefere terrenos secos e pedregosos. As folhas surgem apenas após a floração.

Crocus sativus e Curcuma longa

O açafrão-bravo é do mesmo género que o açafrão-verdadeiro (Crocus sativus), de onde é extraída uma das mais caras e delicadas especiarias do mundo – o açafrão.

Planta nativa da Ásia menor e dos Balcãs, o açafrão-verdadeiro apresenta igualmente uma floração outonal, mas já não se encontra em estado selvagem. É uma planta cultivada, pouco exigente em água, prefere solos soltos de granito, ligeiramente ácidos e pobres.

É cultivada para produção de flor. Cada bolbo produz anualmente uma ou mais flores de cor violeta azulada. O verdadeiro açafrão (especiaria) corresponde à parte feminina da flor de Crocus sativa, ou seja, o estigma e partes finais do estilete que apresentam uma alaranjada a vermelho. Para produzir um grama desta especiaria são necessários 200 a 300 destes filamentos, o que corresponde entre 150 a 250 flores. Todo o trabalho envolvido na colheita desta especiaria é realizado de forma manual.

O açafrão tem um aroma e sabor fortes e é um corante natural amarelo. Muito utilizado como aromatizante, também é usado para fins medicinais e em perfumaria.

O açafrão-verdadeiro não deve ser confundido com o açafrão-da-índia (Curcuma longa), também conhecido como açafrão-da-terra, gengibre-amarelo ou curcuma. Planta arbustiva trepadeira, da família das Zingiberaceae, nativa da floresta asiática. Do seu rizoma (caule subterrâneo, semelhante a uma raiz) seco e moído obtém-se uma especiaria de cor amarelo intenso muito utilizada em culinária como condimento ou corante. Também tem aplicações medicinais.

Dispersas um pouco por toda a parte, as plantas estão por toda a parte. Se estivermos atentos descobrimos em cada caminhada que fazemos, na berma de estradas e nos campos uma diversidade enorme de plantas que nunca tínhamos reparado antes.

Carine Azevedo

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