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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Coelho-bravo: população diminui em zona de caça na ZPE Rios Sabor e Maçãs e medidas de gestão são fundamentais

 Dados da monitorização de coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) realizada pela Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural no período 2016-2020 na Zona de Caça Associativa (ZCA) de Santulhão (concelho de Vimioso), localizada na Zona de Proteção Especial (ZPE) Rios Sabor e Maçãs da Rede Natura 2000, revelam que a população desta espécie diminuiu naquele período e que a continuação da implementação e reforço das medidas de gestão e avaliação de coelho-bravo é essencial, tendo em conta que esta é uma espécie em risco.

Monitorização da população de coelho-bravo na ZCA de Santulhão. Fotografia Iván Gutiérrez/Palombar.

Em dezembro de 2019, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) reviu o estatuto de ameaça do coelho-bravo nas áreas onde este é nativo (Portugal, Espanha e França), tendo este passado de “Quase Ameaçado” para “Em Perigo” de extinção, devido à diminuição continuada das suas populações. No Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, o coelho-bravo está classificado como “Quase Ameaçado”, contudo, o seu estatuto poderá sofrer alteração no novo Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental, cujo projeto que promoverá a sua edição está atualmente em desenvolvimento, e para o qual a Palombar contribuiu com dados sobre várias espécies.

Densidade média (indivíduos/ha) de coelho-bravo por mês em 2016 e 2020 na ZCA de Santulhão.

A Palombar realizou, de 2016 a 2020, a monitorização e gestão desta espécie, ao abrigo dos protocolos e metodologias do Projeto SOS Coelho, e com o apoio técnico-científico de investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), tendo verificado que, apesar das medidas implementadas nesta zona de caça para promover o aumento da população de coelho-bravo, tal como a criação de sementeiras, a instalação de comedouros e bebedouros e a construção de marouços, o número de efetivos da espécie registou uma tendência decrescente.

Com o propósito de contribuir para a rede de epidemio-vigilância do projeto SOS Coelho, desde 2016, a Palombar também efetuou o controlo sanitário de coelho-bravo na ZCA de Santulhão naquele período, com o objetivo de detetar a mortalidade deste e da lebre-ibérica (Lepus granatensis) relacionadas com a mixomatose e a doença hemorrágica viral (DHV), não tendo encontrado, nesses cinco anos de monitorização, indivíduos afetados por estas patologias.

Para aprofundar o debate neste âmbito, a Palombar organizou, em 2017, uma Jornada Técnica dedicada ao tema "A nova doença hemorrágica e os seus efeitos nas populações naturais de coelho-bravo”, que contou com a participação de gestores e representantes das Associações de Caçadores e Zonas de Caça locais, associações de conservação da natureza e desenvolvimento sustentável, comunidade científica e administração pública.

A redução da população de coelho-bravo na ZCA de Santulhão no período avaliado poderá dever-se a novos surtos de DHV ainda não identificados e a fatores antrópicos e condições climáticas adversas, nomeadamente falta de chuva nos últimos anos.

Estes resultados revelam a importância fulcral de continuar com as ações de monitorização das populações de coelho-bravo na ZCA de Santulhão, de forma a compreender melhor as flutuações das suas populações reprodutoras a longo prazo. Adicionalmente, é essencial avaliar a existência de novos surtos da nova estirpe de DHV, bem como dar continuidade às medidas de gestão do habitat para promover a recuperação e conservação desta espécie-chave dos ecossistemas ibéricos, um trabalho que continuará a ser realizado pela Palombar em 2021.

O coelho-bravo

O coelho-bravo é uma espécie cinegética que tem como habitat preferencial as paisagens de mosaico que apresentam tanto zonas fechadas, que funcionam como locais de abrigo, com matos e bosques; como zonas abertas, onde procura alimento, nomeadamente pastagens naturais e artificiais e terrenos agrícolas. Reproduz-se em tocas durante todo o ano, embora a maioria das ninhadas nasçam entre fevereiro e agosto e tem normalmente entre três a 12 crias por ninhada (cerca de três a sete por ano). Apesar de estar presente em quase todo o território nacional, a densidade das suas populações varia de alta, sobretudo no sul do país, a residual, principalmente no norte.

Depois de afetadas pela destruição de habitats e por doenças como a mixomatose, desde os anos 50, e a DHV, no final dos anos 80, as populações de coelho-bravo no país tinham estado a recuperar, no entanto, começaram a diminuir novamente a partir de 2012. Atualmente, o que mais tem afetado as populações de coelho-bravo é uma segunda estirpe do vírus que provoca a DHV, a qual, ao contrário da primeira, afeta também os coelhos juvenis. Estima-se, na atualidade, que as populações de coelho-bravo diminuam, em média, 20% por ano em Portugal.

A alteração do estatuto do coelho-bravo foi realizada pela UICN devido ao registo de uma descida global das suas populações na ordem dos 70% nos últimos anos e à existência de populações muito fragmentadas.

O coelho-bravo é uma presa-chave de várias espécies ameaçadas, quer de mamíferos, como o lince-ibérico (Lynx pardinus), quer de aves, como a águia-de-Bonelli (Aquila fasciata), a águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti) e a águia-real (Aquila chrysaetos).

O projeto SOS coelho

O SOS Coelho foi um projeto nacional coordenado pelo CIBIO-InBIO e pela Associação Nacional de Proprietários e Produtores de Caça (ANPC) que teve como objetivo recuperar as populações de coelhos selvagens em Portugal e combater a DHV.

No âmbito deste projeto, foi implementado um conjunto de ações concertadas que permitiram compreender melhor a etiologia, a biologia e o impacto da nova estirpe da doença hemorrágica viral sobre as populações de coelho-bravo, bem como identificar soluções para assegurar a conservação desta espécie, que é fundamental para o equilíbrio dos ecossistemas mediterrânicos ibéricos.

Atualmente, o projeto + Coelho, coordenado pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), dá continuidade às ações do SOS Coelho, com o propósito de promover o controlo sanitário, recuperação e proteção desta espécie em Portugal.

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